Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Ao Atlético, com carinho

15/02/2008


Algumas coisas na vida da gente são realmente inexplicáveis. Confesso que às vezes tento compreender o ser humano em sua plenitude, até porque trabalho em uma área que me exige um pouco isso. Mas também confesso que às vezes desisto, por um ou dois minutos descarto meu feeling e largo mão de tentar entender a cabeça e a atitude das pessoas. De fato, às vezes não dá pra entender.

Desde pequeno, quando criança, aprendi muitas coisas com o Atlético. Talvez nunca tenha sido apenas uma relação esportiva, aquela que dá prazer pelo simples fato de ir ao estádio assistir a um jogo de futebol. Não, nunca aconteceu só isso, e tenho certeza que muitos atleticanos possuem as mesmas percepções. Talvez o que eu relate aqui venha de encontro ao sentimento de vários outros atleticanos.

Geralmente as pessoas que não me conhecem direito consideram um exagero, mas o Atlético me ensinou a viver. Sempre tirei lições de todos os momentos que passei com meu time do coração. Nos momentos de tristeza, pude observar que a dor é algo forte, que bate em nosso peito como se fosse de fato nos derrubar. Parece um caos, o fim do túnel, mas nada como um dia após o outro para a gente entender que a vida é feita de tempestades e bonanças. Então aprendi com o Atlético que a dor, por mais forte que seja, passa. Às vezes demora, mas passa.

Nos momentos de alegria, aprendi que o desejo, quando é sincero, pulsa tão forte dentro da gente que nos leva ao delírio em questão de segundos. Ainda não consegui encontrar algo tão parecido como o sentimento e a vibração de um “gol”. Não sei se existe algo parecido com isso...

Entre alegrias e tristezas, dor e desejo, o Atlético me ensinou muito mais do que simplesmente seguir o caminho do estádio para assistir a um jogo de futebol. A estrada que leva de casa ao estádio, nos momentos que antecedem a um jogo de futebol, é uma das mais reflexivas que existem. A adrenalina, à flor da pele, talvez explique um pouco este sentimento.

E ao longo dos anos aprendi muito mais do que simplesmente as lições de um simples torcedor. Aprendi a apreciar a postura de um líder, aprendi que a estratégia é uma das coisas mais importantes da vida, aprendi que o planejamento é vital para o caminho do sucesso, aprendi a sofrer quietinho, a sorrir bem alto e a chorar baixinho. Aprendi que a bonança sempre chega, mesmo depois daquela tempestade impressionante que chega a deixar a gente noites e noites em claro. Aprendi que uma, duas ou centenas de amizades que fazemos no estádio de futebol, realmente são amizades verdadeiras, e que estes amigos realmente têm por nós uma grande admiração. Aprendi, acima de tudo, a amar.

O Atlético me deu muitas e muitas alegrias. Conheci pessoas de imenso valor, também reconheci muitos valores. Fiz amigos, alegrei muitos deles, ajudei alguns, me apoiei em outros. Conheci, ao lado do Atlético, a arte de sorrir e chorar sem ter vergonha de nada e de ninguém. Aprendi que ser autêntico é uma das melhores coisas da vida! O Atlético me deu alegrias e de tanto me ensinar que o amor é um sentimento que aflora naturalmente, acabou me dando um amor! Me deu a paz, o respeito e me ensinou que a serenidade, o equilíbrio e a tolerância são ingredientes essenciais para os nossos dias.

Então eu cresci. Cresci muito, aprendi muito e meu único exagero foi sempre querer fazer mais e mais amigos e estar sempre rodeado de pessoas que refletem a paz dentro do meu coração.

No último domingo de jogo, quando olhei para o lado e vi os olhos dos meus filhos brilhando em meio a uma festa atleticana, quando vi que minha noiva que estava ao meu lado era praticamente o significado de todas as coisas boas que tenho na vida, tive o único e grande desejo de sempre estar ali, cada vez mais ao lado do Atlético, cada vez mais ao lado de pessoas que também me ensinaram que viver e amar vale muito a pena.

Quando me deparo com a barbárie, com a violência, com o desrespeito, com a desconfiança, com a auto-destruição, com o estupro nas páginas de jornais, com os homicídios, com o tráfico e abuso de menores, entre outras tantas barbaridades e absurdos que acontecem diariamente no mundo em que vivemos, parece que me sinto um homem privilegiado e cheio de vontade de viver! Também me sinto triste, certamente, mas em meio a tantas cabeças de seres humanos que não consigo entender, nada posso fazer.

Nesta semana em que meu filho Luccas está completando 6 anos de vida, meu único desejo é de que ele continue transmitindo, com seus olhos brilhantes, a alegria e uma energia incrível de viver. Que o Luccas, repleto de toda a sua pureza infantil e toda a sua beleza de criança, continue a encantar, e que a alegria que ele sentiu neste último domingo de jogo do Atlético seja o início de uma nova etapa. E que ele um dia, assim como o pai dele, possa olhar para trás e perceber que o Atlético lhe deu muito mais do que alegrias, muito mais do que um belo sorriso em uma tarde de futebol. Lhe deu o amor, e isso é o que levamos sempre de mais belo em nossos corações. E isso ninguém nos tira.

** Dedico essa coluna aos meus filhos Dhiego e Luccas, jovens guerreiros que me mostram, dia após dia, que os obstáculos que a vida nos oferece são apenas provas de que realmente temos condições de vencer. Obrigado por tudo, meus filhos! **


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