Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Acabou o nosso Carnaval?

05/02/2008


Segunda-feira de Carnaval. Ainda vestido com minha fantasia de pirata, sentei-me diante do computador para ler as notícias da Furacao.com, site onde feras do calibre de Juarez Villela Filho, Marcel Costa, Sérgio Tavares Filho, Rogério Andrade, Sílvio Toaldo Júnior e Raphael Prugner desfilam suas letras em shows de bola e erudição inenarráveis e onde este aprendiz de cronista consigna seus palpites, acreditando ter aprendido alguma coisa nesses quase 28 anos de bola.

Ao acessar o site, veio o choque: “O Atlético Paranaense acertou nesta segunda-feira o empréstimo do meia-atacante David Ferreira para o Al-Shabab, da Arábia Saudita. O colombiano defenderá o clube árabe, comandado pelo técnico brasileiro Toninho Cerezo, por 120 dias. Após esse período, o Al-Shabab tem a opção de comprar o colombiano, caso contrário ele retorna para o Furacão para a disputa do Campeonato Brasileiro”.

Inicialmente, pensei se tratar de alguma brincadeira do site, mas o site Furacao.com não é de brincadeira, mesmo nos dias de Carnaval. Descartada a hipótese de brincadeira, passei a considerar que eu podia estar bêbado em face das duas cervejinhas que tomei na casa da patroa, a quem mando meu beijo, como se já não bastasse ter lhe mandado o coração: Gatona, te amo!

E como não era brincadeira, e como eu não estava embriagado, passei a conviver com a absurda novidade: Ferreira está fora do Atlético, pelo menos até o Brasileirão. Tudo bem que devemos considerar que este campeonato paranaense tem um nível tão rasteiro que não é preciso um Ferreira em campo para sermos campeões.

Tudo bem que devemos considerar que este campeonato paranaense – em verdade – já está ganho pelo Atlético, pois me custa acreditar que um dos nossos co-irmãos possa vir a nos tirar o caneco, afinal poucas vezes se viu um time verde tão caricato e um time das vilas tão esfacelado em campo e, certamente, não virá do interior a grande força a nos tomar a taça.

Realmente, não precisávamos do Ferreira – jogador de elevadíssimo gabarito – para levantar um estadual tão decaído, mas e a Copa do Brasil, nossa tão propalada meta de conquista, como ficará? Sem Ferreira - e sem jogador que lhe venha ocupar o espaço em igualdade de condições – a Copa do Brasil será, uma vez mais, infelizmente, um sonho adiado para o ano seguinte, aliás como estamos fazendo desde 1996.

Já que falei em 1996 – e como neste 2008 muitos paralelos já foram traçados em relação àquele ano – lembro com pesar que em 1996 parecia que o Atlético não teria adversários dentro do campeonato estadual. Levantar o caneco era, para nós, questão de tempo. Um timaço - que contava com Paulo Rink e Oséas, além de Ricardo Pinto, Matosas e outros craques - não encontraria adversários que lhe fizessem frente.

Só que aí o técnico Émerson Leão resolveu pular do barco, daí trouxemos o inacreditavelmente burro Cabralzinho e daí perdemos – para nós mesmos – o estadual mais ganho de nossa História.

Foi-se o Ferreira, e não há razão para terrorismo, afinal ainda existe Atlético mais do que de sobra dentro do campo para faturar invicto este Campeonato Paranaense de 2008. Continuo acreditando no talentoso elenco, na serena Comissão Técnica e na Diretoria. Continuo acreditando na Maior do Estado e em seu Fanatismo mais do que religioso. Continuo acreditando em mim e nos meus quase 28 anos de bola.

Só não quero acreditar que o Atlético - por absoluta falta de adversários – perca para si, de novo, um título mais do que conquistado!

Já é Terça-feira de Carnaval. Hora de ir despindo a fantasia para encarar a realidade: Ferreira – jogador caro e de elevadíssimo gabarito – era bala de matar elefante sendo apontada contra um frágil passarinho. Entretanto se temos de fato pretensões de conquistar a Copa do Brasil, nossa tão propalada meta há tempos, é preciso que seja montado um time bem mais forte do que este que ora perde o cracaço colombiano.

Sem Ferreira - e sem jogador que lhe venha ocupar o espaço em igualdade de condições – a Copa do Brasil será para nós, uma vez mais, um sonho adiado para um futuro que não chega, para um futuro prometido de festa e fantasia – como se fosse um Carnaval – mas que tem virado cinzas, sempre numa quarta-feira.


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