Patricia Bahr

Patricia Caroline Bahr, 43 anos, é jornalista e se descobriu atleticana nas arquibancadas do Pinheirão, no meio da torcida, quando pôde sentir o que era o Atlético através dos gritos dos torcedores, que no berro fazem do Furacão o melhor time do mundo. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2010.

 

 

A negociação certa na hora errada

05/02/2008


Fazer futebol no mundo atual é uma tarefa complicada. Fazer futebol num estado como o Paraná é ainda mais complicado. Infelizmente vivemos num estado em que o campeonato estadual é deficitário para os clubes, que passam quatro meses do ano perdendo tempo e dinheiro num campeonato que não é valorizado pela TV (com cotas muito abaixo que o futebol moderno obriga), pelos torcedores (que não comparecem ao estádio para ver o seu time do coração contra as, quase na totalidade, desestruturadas equipes do interior), pela federação (que faz fórmulas desinteressantes, rebaixando ainda mais o já desestimulado Campeonato Paranaense) e pelos próprios clubes (que sem dinheiro ou com outras prioridades normalmente deixam de lado o estadual).

Fazer futebol no Paraná é ainda mais complicado ao se analisar as características do povo daqui. A tradicional autofagia paranaense é explícita no mundo da bola. Um estado que “joga contra” para não trazer a Copa de 2014 para Curitiba, por medo, ciúmes ou inveja de apenas um “se dar bem” com o mundial. Um estado em que se mente capacidade de estádio para não permitir que final de Libertadores seja disputada em suas terras. Um estado em que o interior torce para times do Rio Grande do Sul ou São Paulo. Um estado em que muitos torcedores não se associam ao time do coração, não compram camisa oficial, não consomem os produtos de sua paixão.

Fazer futebol no Paraná realmente não é tarefa fácil. Por isso, entendo que a política mais racional do Atlético para crescer é justamente a de entrar no mercado internacional, comercializando seus principais jogadores com o mercado externo. Essa é a base para a estruturação do clube, dentro do projeto iniciado em 1995 e que pretende, um dia, tornar o Atlético no maior clube do futebol brasileiro (e certamente este dia chegará!).

Por tudo isso, entendo que a negociação de David Ferreira ao Al-Shabab era necessária e inevitável. Jamais irei negar que para o Atlético sobreviver no cenário atual, a principal fonte de receita do clube infelizmente é essa: vender jogadores. O que questiono é o momento da negociação de um dos principais jogadores do elenco para esta temporada. Acredito que se a negociação fosse na metade do ano, após a Copa do Brasil, com o Wallyson e o Irênio devidamente testados (e aprovados), aí sim se justificaria uma negociação dessas. Neste momento, para um time que quer conquistar títulos, acho errado se enfraquecer, desfazendo-se de sua mais importante arma ofensiva.

Para o Campeonato Paranaense, provavelmente a ausência de Ferreira não seja tão sentida. É uma pena que a sua precoce saída possa comprometer vôos um pouco mais altos, como a Copa do Brasil, por exemplo. Sem Ferreira, o time do Atlético perde o seu cérebro, perde muito da sua criatividade e da sua genialidade. Infelizmente o mundo da bola atual nos priva de vermos mágica com a bola nos pés nas cores vermelho-e-preta.


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