Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Saudade

08/01/2008


Falta apenas um dia para começarmos mais uma temporada de futebol. Que beleza! Parece que assim, faltando pouco para reviver tudo, a saudade aperta mais ainda. Saudade de ver gol, do pessoal que sempre vê jogo junto, dos comentários sobre o time como se fôssemos os maiores entendidos do assunto. Saudade até das bobagens que a gente fala (e escuta) no meio do nervosismo de um jogo.

E aí em meio a esse sentimento maluco que é a saudade, fiquei nostálgica. Comecei a lembrar de várias coisas. Acho que é coisa dos 35, e esse ano eu não escapo. Por isso caro leitor, peço sua licença para que neste espaço nobre possa estender minhas saudades para os diversos momentos, coisas e pessoas.

Tenho saudade do Nossa Senhora Menina, colégio que estudei por nove anos. Das freiras que eu amava, dos professores, das amigas e amigos que nunca esqueci. Das festas juninas, das feiras de ciência, dos campeonatos de caçador e das primeiras incursões ao mundo do futebol (éramos desaconselhadas a gostar e jogar, obviamente). Minha melhor amiga e irmã que escolhi, eu conheci lá. Pessoa linda por dentro e por fora, cujo único defeito é não gostar de futebol (e pender para a escolha do marido, torcedor do nosso “retornado” arqui-rival).

Tenho saudade do Santa, clube que passei minha infância, adolescência e insistentemente um pouco da fase adulta. Havia uma época nessa cidade que se você quisesse sair para se divertir, tinha de ir a um baile da Ala Jovem. Eram 4, 6, 8 mil pessoas. Já faz tempo, é verdade. Para vocês terem uma idéia, os Engenheiros da Havaí estavam começando e abriram um show de uma banda que nem existe mais. Tenho muita saudade da minha turma, de ver os meninos jogando futebol na quadra do clube. Foi por causa de alguns “figuras” que decidi que nunca seria torcedora dos verdinhos ou dos fusionados.

Nessa turma tinha uma banda e eles ensaiavam todo sábado no lugar mais óbvio de todos: na garagem do baterista. E eu, me achando parte do elenco, ia ver todos os ensaios para dar minha opinião sobre a performance do grupo. Depois íamos todos: a banda, os amigos e o fã clube (que eram as mesmas pessoas) para ver eles tocarem nos melhores bares que esta cidade já teve, entre eles, o El Potato. Foi, certamente, a época mais divertida da minha vida.

Da faculdade sinto muita falta. Gosto de aprender e fui muito feliz no meio daquele povo tão diferente entre si. Conheci pessoas brilhantes, professores acadêmicos e da vida. Amigos e “adm amigas” que lembrarei para o resto da vida por tudo que me ensinaram e me divertiram. Foi lá que conheci uma casta de “verdes” pelos quais tenho muito respeito apesar das divergências futebolísticas irreconciliáveis. Foi sufocante trabalhar muito o dia todo e estudar a noite, mas a compensação foi boa. Ainda tínhamos fôlego para jogar futebol toda quinta-feira depois da última aula (sim, somente as meninas, e era uma piada). Saudade nenhuma para o dia em que tive de ir com a camisa do time do meu irmão por causa de uma aposta. Muita gente ainda acha que sou Corintiana. Conselho: Não apostem essas bobagens. Melhor, não apostem nada.

Então lembro com carinho do momento em que me apaixonei de verdade pelo Atlético Paranaense. Escrevi um texto específico sobre esse dia ainda no Fala Atleticano. Já ia a jogos, mas o jogo contra o Palmeiras no Camponato de 96 foi “o dia”. É importante falar dessa época porque tínhamos o sentimento de que qualquer alegria que o time nos desse era a maior alegria. Não tínhamos a estrutura, mas tínhamos um plano sobre ela. Não tínhamos o título nacional, mas sabíamos que o teríamos, e o tivemos antes do planejado. Como foi bom aquele primeiro jogo da final não?

Só que às vezes nos esquecemos de nossa trajetória. Da luta que é para nos mantermos onde estamos e ainda almejarmos mais. Da dificuldade que é querer ser bom no meio de tanta gente que só tem história, mais nada e ainda assim é privilegiada por uma parte da imprensa que não faz jus a honra de ser jornalista. Esquecemos também de que a estrutura e o planejamento não nos habilitam a perdermos a humildade e a garra.

É por isso, prezado atleticano, que quero lhe pedir uma coisa. Se você foi persistente de chegar até este momento de um texto que fala de coisas da vida de outra atleticana, há de ser persistente a ponto de acreditar no seu time não importa o quê. Vimos que nosso time só é verdadeiro quando estamos junto dele. Vamos invadir a Baixada com nossos “sócios” torcedores e deixar na saudade os dias com nossa casa vazia.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.