Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Do Robertão à Copa 2014

26/12/2007


Final da década de 60. A então CBD, Confederação Brasileira de Desportos, resolve criar o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão como ficou conhecido pelo povão, seria o embrião do Campeonato Brasileiro de Clubes, que só decolou a partir de 1971. Numa das edições o Atlético foi escolhido para representar o Paraná no torneio, que contava com dois representantes de Minas Gerais, dois do Rio Grande do Sul, representantes isolados de alguns estados da Região Nordeste e os grandes times do eixo Rio-São Paulo.

Ao final dos acordos que designaram o Rubro-Negro como único time do Estado a participar da nova competição, imediatamente aconteceu uma mobilização da mídia, no sentido de unir o Paraná no objetivo de que o seu representante fizesse uma boa campanha. Os dirigentes sabiam que o Paraná precisava se mostrar bem na cena futebolística nacional e que quando conseguíssemos respeito, todos ganhariam com isso.

O Atlético recebeu reforços cedidos pelos outros clubes de Curitiba, o Clube Atlético Ferroviário e o Coritiba, que compunham junto com o Furacão o chamado “Trio de Ferro”. O Boca –Negra, Tricolor da Vila cedeu, entre outros, um dos seus principais jogadores, o Madureira. Já os Coxas também nos emprestaram jogadores para serem utilizados no torneio, com destaque para o goleiro Célio e o bom lateral Nilo. Todos estes jogadores eram considerados ídolos por suas torcidas.

A partir da formação de um time que vestia a camisa do Atlético, mas que tinha no seu onze titular alguns jogadores importantes dos rivais regionais, passou-se a vender ao público um conceito de que quem estava ali era a Seleção do Paraná, apenas jogando com uma camisa vermelha e preta. Não era incomum ver os Coxas e Bocas-Negras torcendo pelo Atlético nos jogos do Robertão, que aliás, mandava seus jogos no Estádio Durival Brito, casa do Ferroviário e melhor estádio de Curitiba na época.

No ano seguinte o nosso representante foi o Coritiba, que também recebeu jogadores do Atlético e Ferroviário para reforçar o seu time. O interessante de tudo isso é que na época a rivalidade no campeonato estadual era tão grande ou até maior que hoje, mas havia a lucidez de promover a união quando os interesses eram comuns e maiores. Foi assim que começamos a colocar as manguinhas de fora e graças a este início, mais tarde os Coxas foram Campeões do Torneio do Povo, o Atlético chegou a ser o terceiro colocado no Brasileirão, e então vieram os títulos nacionais de Coritiba e Atlético.

Esse texto não faz parte de um pacote nostálgico, motivado pelas festas de fim de ano. Ele é antes de tudo um relato que deveria servir de exemplo para a mobilização do Paraná em torno do seu projeto de se tornar uma das sub-sedes do Mundial 2014.

O Atlético iniciou uma cruzada para trazer a Copa para o seu estádio, que hoje é o mais bem capacitado, assim como foram em outras ocasiões o Durival Brito e o Belfort Duarte/Couto Pereira. No primeiro momento, os dirigentes dos outros dois principais Clubes da Capital, tentaram de todos os modos, inclusive apelando para devaneios, tirar da Arena tal condição. A tentativa foi infrutífera e prevaleceu o óbvio, o senso comum, o inquestionável. Os dirigentes de Paraná Clube e Coritiba que capitanearam a iniciativa desastrada e portanto frustrada, já foram devidamente afastados pelos próprios desígnios dos simpatizantes de suas respectivas cores e assim, foram substituídos por novos mandatários.

Se o Atlético pretende realmente mostrar que trazer a Copa para o Paraná é um sonho que deve ser compartilhado com todos os Paranaenses, independentemente de serem ou não Atleticanos, deve de imediato procurar um entendimento, pelo menos com Paraná Clube e Coritiba.

Ao se fomentar ou pelo menos deixar de eliminar uma sensação de que a Copa só beneficiará o Atlético, estaremos de cara atraindo para a proposta, a rejeição de no mínimo a metade dos paranaenses que se interessam por futebol. É claro que num cenário destes ficará muito mais difícil sensibilizar autoridades políticas para se mobilizarem em favor de tal causa.

A rivalidade deve ser inteligente e deve restringir-se aos locais onde ela é saudável e até divertida. Fora disso é pura burrice ou pior, psicopatologia. Não quero acreditar que emburrecemos nestes últimos 30 anos. Vamos nos investir de bom-senso.

Coxas e Paranistas também vão ganhar com a Copa na Arena. Eles só precisam ser convencidos disso.


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