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Sergio Surugi
Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.
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Autofagia com sotaque paranaense
18/12/2007
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Os cariocas , paulistas. mineiros, nordestinos, todos pronunciam a palavra autofagia do seu jeito. No sotaque de alguns a palavra chega até a ficar simpática, no de outros soa feio, mas com certeza ninguém pronuncia melhor esta palavra do que os paranaenses. E não é só na pronuncia que estamos na frente, mas na aplicação do termo também somos campeões incontestes.
Somos um estado repleto de imigrantes de outros estados, temos pouca ou nenhuma capacidade de abstração. Aqui ou se é amigo ou se é inimigo. Não existe a união entre diferentes, nem quando os interesses são comuns. É a terra onde existe o gozo com o conceito “eu perco, mas tudo bem se você também perder”. Os antropólogos talvez possam explicar, mas eu, um paranaense de 5 gerações, me sinto no direito de dar um palpite. Para mim tal comportamento destrutivo deriva-se de uma mistura explosiva de timidez, vaidade patológica, insegurança e baixa auto-estima. Tudo o que é dos outros é melhor, não conseguimos achar graça nas nossas coisas e como nossa vaidade não permite conviver com o sucesso dos próximos, detonamos a tudo e a todos que tentam colocar a cabecinha de fora.
A nossa história de hoje começa com o oportunismo desesperado de Moura, que se aproveitando da burrice e da falta de visão de alguns outros diretores de clubes da capital, tentou inventar um projeto sem pé nem cabeça para tirar da Arena o status de candidata natural a receber jogos da Copa em Curitiba. Depois, por absoluta falta de opção e graças à intervenção do vice-governador e de alguns atleticanos do primeiro escalão do governo, os quais, por pura coincidência, se reuniram em um momento que o governador estava em viagem ao exterior, foi batido o martelo e o nosso estádio acabou timidamente (e aparentemente a contragosto de muitos) sendo indicado como sede potencial para jogos do mundial 2014.
De lá para cá, foi um festival de total demonstração de desinteresse oficial por trazer a copa 2014 para Curitiba. Os governantes, incluindo o prefeito da cidade, jamais se mostraram seriamente empenhados com o projeto ou então não tem força política para sequer serem recebidos pelo presidente da CBF. Temo que por trás de tudo isso possa estar presente a desconfiança de que o Atlético não tenha capacidade de financiar ou conseguir financiamento para a conclusão do estádio sem ajuda direta do dinheiro público. De qualquer maneira e se por acaso for realmente isso, creio que uma conversa séria, onde sejam apresentadas garantias sólidas, ou um projeto exeqüível, poderia quebrar as resistências e fazer com que os mandatários finalmente tratem de exercer a legítima pressão para evitar que mais uma vez o Paraná se coloque em nível mais baixo do que merece, em relação a outros estados, muito menos importantes, mas que possuem a habilidade natural de unir esforços quando existem interesses comuns maiores.
Petraglia e Fleury pedem pela união da torcida em torno deste objetivo e com toda a razão mostram os prejuízos para o futebol paranaense, caso o nosso Estado fique de fora da Copa, porém não sejamos tão românticos. Só isso não bastará. A torcida pode e deve sim cobrar do prefeito e do governador, uma posição clara e transparente. Eles acham interessante trazer a Copa de 2014 para Curitiba? Em caso afirmativo, por que não se empenham efetivamente (e não só no discurso) para que isso aconteça? O que é que está pegando?
Estas são perguntas que todo o paranaense, Atleticano ou não, deve fazer àqueles que foram eleitos para comandar os destinos do seu Estado e da sua Cidade, porém cabe também à diretoria do Atlético tomar iniciativas urgentes, mais firmes e claras no sentido de, uma vez diagnosticados, eliminar todos os entraves para o comprometimento das autoridades com o projeto da Copa de 2014 no Paraná.
Já não existe mais tempo para picuinhas, vaidades e falsas estratégias que só acabam por fomentar mais desconfiança. Alguém tem que tomar a iniciativa da aproximação entre o Atlético e o Governo. Como já disse, não tenho base para afirmar, mas talvez a mobilização dos governantes tenha que começar por uma conversa olho no olho e principalmente garantias na mesa.
A Copa no Paraná não é só um projeto Atleticano e seguramente trará iguais benefícios para todos os clubes do Estado, sem falar no óbvio e já comprovado em outros países que receberam o torneio, desenvolvimento do comércio de bens e serviços.
Alguns têm a sensação de que Curitiba, por tudo o que representa em termos de qualidade de vida e infra-estrutura, é "poule de dez" nesta disputa com outras cidades candidatas. Não se iludam, não é assim e mesmo para aqueles que acham que é, fica o alerta de que nem sempre as coisas se decidem só pelo mérito.
Estou certo de que se as iniciativas de aproximação entre Governo e Atlético falharem, mais uma vez o Paraná será ignorado e o autofagismo com sotaque de leite quente sobressairá. Será uma pena, mas não será a primeira vez e nem a última. Afinal, do Oiapoque ao Chuí, ninguém consegue pronunciar melhor esta palavra do que a gente.
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