Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Nosso desprezo será sua herança

14/12/2007


O General João Batista de Oliveira Figueiredo, Presidente do Brasil entre 1979 e 1985, era conhecido por sua truculência nata, que mais tarde seria lapidada a galopes na Cavalaria do Exército brasileiro e, mais tarde ainda, a golpes de caneta no Palácio do Planalto.

É dele a frase: “Prefiro o cheiro de cavalo ao cheiro do povo”. É dele também – ou a ele se atribui – uma passagem curiosa. Reza a lenda que, numa certa manhã de 1980, um dos Assessores do Figueiredo viu, na gaveta entreaberta do General, uma porção de fotos de desafetos do Figueiredo. Intrigado, o Assessor esperou o General voltar ao Gabinete e perguntou: “Presidente, por que o Senhor mantém fotos de seus inimigos na gaveta de sua mesa de trabalho?”.

Em resposta – e depois de proferir meia dúzia de palavrões – Figueiredo confidenciou ao Assessor: “Eu mantenho as fotos dos meus inimigos na minha gaveta para que eu possa olhar para a cara deles toda manhã e sentir ódio! Eu gosto de sentir ódio. O ódio é necessário. O ódio é a força que nos leva adiante. Olhar para a cara desses porcos me enche de ódio e eu me sinto mais disposto para a vida”.

Se a história é verdadeira ou não, pouco importa, mas nela existe uma grande verdade: o ódio – em doses moderadas – além de salutar, é altamente humano e leva a gente adiante (tanto quanto o amor). Ninguém vive sem uma dose de ódio e, já dizia Nélson Rodrigues: “O homem é mais fiel ao seu ódio do que ao seu amor”. E, cá entre nós, quem é que não tem – no fundo de uma gaveta física, metafórica ou até mesmo emocional – suas fotos guardadas para atiçar o ódio?

Era 1994. O Atlético vivia uma penúria absoluta. Não tínhamos gaze no Departamento Médico. Sobrevivíamos de teimosos. Derrotas dentro e fora do campo. Nesse clima, a imprensa chegou a ventilar como saída para nós uma fusão com o Paraná Clube, à época bicampeão do Estado. Nós, com 70 anos de História; eles, com 5. E a imprensa, como se fôssemos grandezas de igual quilate, propondo uma fusão absurda e ofensiva a toda gente atleticana.

Não bastasse o insulto, veio coisa pior: os dirigentes tricolores – num arroubo de prepotência – foram aos microfones dizer que concordavam – não com a fusão, mas com a incorporação do Atlético Paranaense pelo Paraná Clube! Sim, Amigos, eles queriam nos incorporar, aglutinar o Atlético, absorver-nos.

Consultem os jornais daquele tempo e verão que não estou mentindo. Aquela gente não sai da minha gaveta. Aquela gente me enche de ódio. Sentir ódio é bom. Sentir ódio deixa a gente mais vivo, mais alerta, faz a gente seguir adiante! E seguindo adiante o mundo deu voltas de 1994 até 2007 e hoje os caras que queriam incorporar o Atlético estão na segundona do brasileirão! Ah, que ironia!

No dia 13 de dezembro de 1995, o Atlético perdeu para os verdes em partida válida pelo Brasileirão, Série B. Com aquela vitória, os verdes voltaram à Série A. A cidade passou a noite fantasiada de verde e branco; a imprensa – em êxtase – comemorava o triunfo do time verde como se do outro lado não estivesse o Atlético, mas, sim, um time argentino, um arqui-rival da cidade de Curitiba, e não do time do Coritiba.

O Atlético já estava garantido na Série A por antecedência, mas toda festa estava voltada para o umbigo coxa. Há 12 anos foi assim: a festa era para eles – e era a deles; para nós, os campeões, nada, ou quase nada! E seguindo adiante o mundo deu voltas de 1995 até 2007 e hoje os caras que comemoraram tanto a classificação coxa para a Série A, em 1995, voltam a repetir a cena para comemorar a volta do coxa à Série A, em 2007! Ah, que ironia: para quem sempre se denominou campeoníssimo, comemorar idas e vindas ao inferno parece ter virado rotina. Assim será por um longo tempo e, queira Deus, para sempre!

Paranistas, coxas, gremistas, são-paulinos, presidentes de federações, imprensa esmeraldina, rádios que gritam os gols contrários ao Atlético e que sussurram – quase num lamento – nossos tentos, Onaireves, Mirandas, Gionédis, manobras sujas para tirar a Copa da Baixada, Jacobs e todos que impediram por muito tempo nosso ingresso ao Clube dos Treze, Cordeiros, Miltons Neves, Morsas e toda banda podre do eixo: “Eu mantenho as fotos dos meus inimigos na gaveta para que eu possa olhar para a cara deles toda manhã e sentir ódio! Eu gosto de sentir ódio. O ódio é necessário. O ódio é a força que nos leva adiante. Olhar para a cara desses porcos me enche de ódio e eu me sinto mais disposto para a vida”.

A todo canalha que conspira contra o Atlético Paranaense fica consignado: nosso desprezo será a sua herança! No fundo, agradecemos por vocês despertarem na gente esse sentimento de ódio que nos leva adiante. Amor pelo Atlético nós temos de sobra e esse amor é muito maior do que o ódio que vocês conseguem sentir por nós.

Logo mais, o Atlético apontará seu comandante. Seja quem for terá nosso apoio incondicional. Seja ele quem for, há de se preocupar com a grandeza e o crescimento do Atlético, unicamente. Logo mais o Atlético terá apresentado seu novo comandante e nós iremos com ele construir o Atlético com as pedras atiradas pelos nossos inimigos.

Às futuras gerações de atleticanos legaremos um Atlético gigante; aos nossos inimigos, o desprezo.

Dizem que a gente não reza pelos nossos inimigos. Mentira: a gente reza, todos os dias, para que eles queimem no inferno.

P.S.: A Furacao.com noticiou que os Jogos do Atlético não serão transmitidos pela tevê e, imediatamente, os leitores passaram a mandar e-mails a nós, colunistas do site. Em nome da Democracia, e como oportunidade ao debate e à reflexão, transcrevo in verbis uma das mensagens que há poucos minutos recebi:

“Fala Rafael, tudo bom?

Estou, mais uma vez, decepcionado com a nossa diretoria por não ter aceitado a proposta da RPC pela transmissão dos jogos do paranaense. Já não basta, a torcida do interior, ficar sem ver os jogos de 2007 e agora vamos ficar mais uma vez sem assistir ao Atlético?

Penso que você deve ser bastante ocupado, mas ficaria grato se você citasse algo na sua próxima coluna, falando a respeito dessa atitude da diretoria do Atlético de não aceitar a proposta da RPC, por mais que seja pouco dinheiro, mas não é a nossa diretoria que preza pelo bom marketing?

Estamos a ver navios, aqui no interior, e eu cada vez mais com saudades da minha Curitiba!

Grande abraço!

Afonso Moura Baggio, 19 anos, Maringá- Paraná”.

Ao Amigo Afonso, leitor de primeira hora, minha gratidão e aquele abraço fraterno!


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