Marcel Costa

Marcel Ferreira da Costa, 45 anos, é advogado por vocação e atleticano por convicção. Freqüenta estádios, não só em Curitiba, quase sempre acompanhado de seu pai, outro fanático rubro-negro. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Restaurante de praia

11/12/2007


O calendário brasileiro proposto nos últimos anos criou um abismo ainda maior entre o futebol paulista, carioca e os demais. Quando ficou estabelecido que o Campeonato Brasileiro adotaria o sistema de pontos corridos e se estenderia por boa parte do ano, os estaduais perderam espaço e ficaram restritos a três meses. No entanto, por pressão das federações estaduais, aos poucos estes campeonatos foram reconquistando as datas perdidas e neste ano arrastaram-se até o início de maio. O mesmo irá acontecer em 2008, com os estaduais previstos para o período entre 16 de janeiro e 04 de maio e os Brasileiros da Série A e B iniciando-se em 11 de maio.

A Federação Paranaense de Futebol conseguiu piorar ainda mais este quadro anunciando o início do estadual para o dia 10 de janeiro, antes mesmo do proposto pela CBF no calendário anual. Com isso prejudica o planejamento do Atlético e do Paraná Clube que encerraram o Brasileiro em 2 de dezembro e ao respeitarem os trinta dias de férias de seus atletas, retornarão às atividades apenas uma semana antes do início do campeonato.

A falta de pré-temporada adequada não é o único problema criado por este calendário da CBF e pela desmoralizada Federação Paranaense de Futebol. Com o prestígio dos deficitários estaduais, os times de fora do eixo Rio-São Paulo passam mais de cinco meses sem grandes atrações, salvo se classificados para a Copa Libertadores da América. De dezembro a maio, os times paranaenses, gaúchos, mineiros, catarinenses, pernambucanos... saem de cena. Ficam restritos a inúmeros jogos contra pequenos times locais, alguns clássicos estaduais e a eliminatória Copa do Brasil que não é garantia de calendário para time nenhum, já que pode durar míseras três horas no caso do time ser eliminado na primeira fase.

A conseqüência disso para o Atlético é que sem a participação na Libertadores, fica complicado para o clube concorrer contra os rivais de São Paulo, Rio de Janeiro e neste ano o Cruzeiro, único fora da citada região com presença no torneio continental. Os quatro grandes de São Paulo recebem da televisão a quantia de sete milhões de reais, cada, para a disputa do Campeonato Paulista. No Rio de Janeiro a cota é parecida. No Paraná, em 2007, a televisão propôs 300 mil reais para que TODOS os clubes dividissem. O Atlético não aceitou, obviamente, mas os demais se agarraram neste troco e desvalorizaram ainda mais o falido campeonato paranaense.

Dinheiro e exposição na mídia até maio é exclusividade dos campeonatos paulista, carioca e Libertadores da América. Alguns estados ainda têm certa exposição por causa da venda do pay-per-view para todo o país, mas nem com isso podemos contar, ao contrário de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O Atlético é um time grande e precisa de elenco competitivo para toda a temporada. Para isso precisa criar fontes extras de renda, como patrocínio da camisa e da Arena (o contrato com a Kyocera encerra-se no início de 2008 e o clube já está negociando a renovação ou troca do patrocinador), a associação do torcedor, arrecadação com ingressos (mesmo jogando contra times medíocres no Paranaense) e, infelizmente, através da venda de jogadores.

Complicado para o Atlético segurar jogadores como Alex Mineiro e Ferreira que podem até gostar do clube, mas querem aparecer na televisão, ganhar como seus adversários e conseguir a tal independência financeira. Não tenhamos dúvida de que o Atlético sabe da importância da manutenção de seus principais jogadores e da formação de um elenco forte, mas na realidade atual do futebol brasileiro o clube só pode se igualar aos seus adversários que ganham mais e tem uma exposição muito maior a partir de maio quando inicia o Campeonato Brasileiro e as coisas equilibram-se um pouco mais, mesmo continuando desequilibradas. Isso lembra a situação dos bons restaurantes de praia que sobrevivem durante a temporada, mas não conseguem concorrer com os da capital durante o inverno, perdendo seus melhores cozinheiros e funcionários para aqueles que arrecadam bem durante o ano todo.

O Atlético precisa se esforçar para conquistar a vaga na Libertadores da América, mesmo com todas estas dificuldades, pois somente deste jeito pode ter um ano completo, arrecadando bem do início ao fim sem precisar de milagre. A revelação de bons jogadores e contratação de jovens destaques dos centros menores proporcionou esta condição ao clube várias vezes nos últimos anos, chegou a hora de voltar a acertar!


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