Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Empresários FC

10/12/2007


Não teve santo na história. Nem de um lado, nem de outro. Mas é inegável que houve uma tremenda má fé do pessoal que negociava os direitos de Dagoberto com o Atlético. O acerto negociado teria sido melhor para ambas as partes, pois no final das contas, todos saíram perdendo. Inclusive o jogador, que até em enfim ganhou um título na carreira.

Mas a questão é bem delicada e vejam o que aconteceu com nosso eterno ídolo Alex Mineiro, agora no Palmeiras. Seu empresário Marcelo Robalinho (sobrenome sugestivo hein!) deveria trabalhar naquele programa que passa nas madrugadas em canais não muito concorridos, o 1001 e Uma Noites, pois o sujeito faz um verdadeiro leilão com seu “produto”. Já foi assim outras vezes, inclusive com notícias que estão na cara que foram plantadas na mídia para forçar o Atlético a lhe dar aumento ou mesmo mexer com clubes que sequer o procuraram.

Assim funciona essa grande mercadão da bola!

Atentem a dificuldade de um lado e a facilidade do outro. O clube tem que arriscar ao selecionar garotos com 14 ou 15 anos quando de uma centena, talvez uma dezena chegue aos 18 anos em plenas condições físicas, tenha tido evolução técnica e não tenha sido desgarrado pela facilidade em se ficar conhecido, ganhar um dinheirinho a mais e se entregar ao ciclo vicioso de bebidas/carros/marias chuteira.

Durante esse tempo, o clube gasta com sua formação, dentistas, nutricionistas, sua alimentação, estadia, roupas e atendimento médico. E sequer o garoto pode assinar contrato profissional, ficando o clube sujeito às mudanças de humor do garoto, da família ou de seus “procuradores”, que ardilosamente tentam tirá-lo do clube que está fomentando um futuro atleta, pois sabe de antemão que quanto maior forem as mudanças, maior será seu lucro.

São 10% daqui, 15% acolá e dá-lhe o garoto ser trocado como uma mercadoria. Depois, e não muito depois disso, vamos fazer com que o menino possa enfim fazer o seu “pé de meia”, ganhar muito dinheiro no exterior, então levemo-no à fria e distante Hungria, ou a algum país árabe de custo de vida exorbitante, língua complicada e cheio de restrições devido à cultura local. Em menos de 3 anos o sujeito volta, muito menos rico do que imaginava e começa a perambular por times meia boca Brasil afora.

A dificuldade em se formar jogadores hoje é grande. Isso não implica em não criticar o departamento de formação rubro-negro que a meu ver é falho, ao não conseguir repor dentro de casa com qualidade suficiente, jogadores que somos obrigados, pela lei de mercado a vender todo ano. Prometo voltar ao tema outra hora.

Porém, é inegável que a “lei do passe” do jeito que está não pode continuar. Se antes diziam que os jogadores eram escravos dos clubes, o que dizem agora os defensores do classismo dos boleiros, ao averiguar que seus pupilos passaram a ser escravos de empresários, de gente enfurnada dentro de escritórios com ar condicionado e que nunca estiveram em campo, não conhecem o cheiro de gelol, nunca tiraram barro de trava de chuteira e são os responsáveis pelo futuro de dezenas, centenas de moleques que têm o sonho dourado do futebol?

Aconteceu conosco, mas pode acontecer com qualquer clube. A cada ano, e dentro de 20 dias vira mais um ano, os clubes perdem porcentagens valiosas do passe de seus jogadores, tendo que negociá-los enquanto ainda podem render algum aos cofres dos clubes. Com uma confederação milionária, que negocia placas e amistosos caça-níqueis que em nada acrescentam ao futebol nacional e clubes pobres, pois perdemos atletas para praticamente todas as partes do mundo em suas divisões principais e secundárias, caminha claudicante o futebol brasileiro, tomado por um sem número de “agentes” de jogadores, formando uma forte agremiação dos Empresários Futebol Clube.

Uma mudança na concepção da lei do passe, urge!


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