Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

É Natal, outra vez!

07/12/2007


Em dezembro de 1981, logo após o Natal, meu pai me chamou num canto e fez a grande revelação: “Rafael, o Papai Noel não existe!”. Eu, no alto – ou no baixo – dos meus seis anos de idade, fiquei olhando fixo para ele como se esperasse que ele desmentisse, ali mesmo, aquela informação terrível.

Fiquei olhando fixo, mas o desmentido não veio. Daí perguntei: “Pai, o Papai Noel não existe mesmo?” e ele, disposto a entregar toda a verdade, sentenciou: “Não, Rafael. O Papai Noel não existe!”. Fiquei triste. Senti um vazio danado e, no fundo, fiquei meio desconfiado daquela história toda: “O Papai Noel não existe? Sei não!”, era isso que no fundo eu pensava, mas, para não contrariar o meu pai, acabei aceitando a idéia de o Bom Velhinho ser apenas uma ficção. E cresci. Formei-me, fui advogar, lecionar, torcer pelo Atlético, namorar, rir, chorar, viver e deixei pra lá o tema da existência ou não do Papai Noel.

Formei-me, fui advogar, lecionar, torcer pelo Atlético, namorar, rir, chorar, viver, deixei pra lá o tema da existência ou não do Papai Noel e pelo longo caminho fui fazendo amigos que compõem – ao lado de minha Família – o meu maior tesouro. Sou riquíssimo: tenho centenas de amigos, graças a Deus, e a cada dia faço novas – e valiosas – aquisições. Sou milionário, graças a Deus.

E eis que dia desses conheci uma mãe devotada – como são devotadas todas as mães, esses verdadeiros anjos - chamada Edla Marília Rigoni, mãe do meu novo amigo, Danilo Fernando Rigoni, 23 anos, aluno do Bom Jesus – Escola Especial – judoca, músico e paranista.

Danilo, meu novo amigo, tem Síndrome de Down e tem uma porção de sonhos. Dentre os sonhos dele – fiquei sabendo – um deles é o maior: participar do excelente programa Tribuna no Esporte, exibido de segunda a sábado, das 12h às 12h30, pelo Canal 4, e mostrar pra todo mundo o amor que ele tem pelo Paraná Clube. Acho que participar do Tribuna no Esporte enaltecendo o Paraná vai ser o pedido do Danilo ao Papai Noel, neste ano (bem que eu queria que ele fosse atleticano, mas, fazer o quê?).

Por tudo isso, ver o meu amigo Danilo Fernando Rigoni participando do Tribuna no Esporte vai ser, também, o meu pedido de Natal ao Papai Noel, em 2007, e olha que tem muita chance de esse pedido se tornar realidade até porque eu acreditei naquela história de o Papai Noel não existir só para não desapontar o meu pai, mas, no fundo, eu sempre soube que o Bom Velhinho existe e que a barrigona do velhinho é proporcional à sua generosidade.

Aliás, e não deve ser coincidência, os quatro amigos do Tribuna no Esporte - Sérgio Bello, Leandro Requena, Binho e Cristian Toledo – são todos barrigudos e generosos, figuras perfeitas para encarnarem o redondo e bonachão Papai Noel. Cresci, formei-me, fui advogar, lecionar, torcer pelo Atlético, namorar, rir, chorar, viver, deixei pra lá o tema da existência ou não do Papai Noel, pelo longo caminho fui fazendo amigos que compõem – ao lado de minha Família – o meu maior tesouro, e nunca deixei de acreditar no Papai Noel, aquele cara barrigudo e generoso que faz a felicidades de crianças como o meu amigo Danilo, ou como este bobão contador de histórias chamado Rafael.

Amigo Danilo, Clarice Lispector, em “A Hora da Estrela”, escreveu: “Ela acreditava em anjos e, porque acreditava, eles existiam." Pro nosso sonho, dá pra emprestar a construção da Clarice e dizer: “Eles acreditavam em Papai Noel e, porque acreditavam, ele existia”. Fé, amigo, sonhos sempre se realizam para aqueles que têm o coração puro como você!

E na esteira do relevante assunto que é a Educação Especial, trago a lume um comunicado que me chegou, ontem, às mãos.

“Dois assuntos da maior relevância estão pautando as recentes discussões sobre a Educação Especial no Brasil. Trata-se da divulgação preliminar da nova “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva” do Ministério da Educação e do Decreto 6.253 – já alterado pelo Decreto nº. 6.278, de 29 de novembro de 2007 - que regulamenta o FUNDEB.

No que se refere à nova política do MEC, o Senador Flávio Arns foi enfático em manifestar a discordância quanto ao conteúdo do documento, cobrando pessoalmente do Ministro da Educação a modificação imediata do texto, a fim de corrigir o grande equívoco cometido.

A nova política prevê a extinção das escolas especiais quando afirma que não serão criadas novas escolas especiais, que as existentes serão transformadas em centros de atendimento, e que não serão celebrados convênios com as que não aderirem à proposta do MEC.

Diante deste absurdo sem precedentes na história da educação especial no Brasil, foi entregue ao Ministro da Educação um manifesto, assinado pelos senadores da Subcomissão de Assuntos Sociais da Pessoa com Deficiência, exigindo a correção do grande erro cometido. Na ocasião, argumentamos que a medida prejudica milhares de pessoas dos municípios que ainda não possuem escolas especiais, além de desqualificar um trabalho que vem sendo desenvolvido há anos com competência no Brasil, tornando-se, inclusive, referência para o mundo na área da educação especial.

Motivados pela gravidade do assunto, procuramos mobilizar as escolas especiais, as famílias, os parlamentares e a sociedade contra esta nova visão, fruto da falta de sensibilidade e conhecimento da área por parte das pessoas que estão à frente da educação especial no Ministério da Educação.

O envolvimento das Escolas Especiais nesta discussão é fundamental, assim como dos alunos, funcionários, professores, pais e amigos. Enfim, todos são importantes nesta luta para assegurar que as famílias das pessoas com deficiência tenham a oportunidade de escolher qual a melhor alternativa para o atendimento educacional de seus filhos.

Ressalta-se que somos a favor da inclusão, mas defendemos que outras possibilidades de atendimento para necessidades que demandem um atendimento mais especializado devem ser asseguradas. Neste sentido, é fundamental preservar um trabalho que vem sendo desenvolvido há décadas, com resultados extraordinários, como o realizado pelas Escolas Especiais”.

À querida Amiga Mônica Regina Bertoldi, meus cumprimentos e minha sincera admiração por todos os seus esforços em prol da Educação Especial.

E Jesus disse: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei". É Natal, outra vez!


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