Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Ao Amigo. Aos Amigos!

03/12/2007


O amigo-leitor não sabe, mas o responsável pelo meu ingresso na Furacao.com foi o Rogério Andrade - grande sujeito, grande colunista e patrão exemplar. As negociações que me levaram ao site duraram uns 20 dias e, nesse período todo, o Rogério agiu sempre de forma ética, até porque sabia do meu vínculo com o site RubroNegro.Net, do meu amigo Franco, a quem serei grato eternamente em face da oportunidade que me concedeu de ser colunista ao lado de feras como: Anderson Correa da Silva, Tibério Budola, Carlos Valdir, Fábio Lubacheski e o Mestre Valério Hoerner Junior.

O amigo-leitor talvez não saiba, mas, neste dia 03 de dezembro, o Rogério Andrade completa mais um ano de vida e, diante da importância da efeméride, não poderia deixar passar em branco a data tão significativa para todos nós que – orgulhosamente – privamos da amizade do fantástico camarada Rogério. Sendo assim, amigo Rogério, receba o meu fraterno abraço e o meu agradecimento por ter me oferecido o relevante posto de Colunista desta excepcional Furacao.com.

Por ocasião da minha estréia, lembro-me de ter redigido uma coluna intitulada “Eu quero ter um milhão de amigos”. Felizmente, meu desejo tem se realizado, pois, a cada coluna, mais amigos passam a me mandar e-mails, fato que me enche de alegria já que em cada mensagem – comumente – chegam grandes histórias de vida, capazes de divertir, emocionar e inspirar novas letras que pegam carona no eficiente veículo representado pela Furacao.com.

Na última terça-feira, publiquei a coluna “Sempre haverá Erechim” que, para minha satisfação, despertou o interesse dos amigos-leitores a ponto de gerar quase uma centena de mensagens eletrônicas. Dentre elas, três me chamaram a atenção e, por isso, a seguir vão transcritas, na íntegra, acompanhadas dos nomes dos respectivos autores a quem deixo aqui meu abraço e minha gratidão. Os elogios que eles fizeram a mim são frutos dos exageros cometidos pelos amigos. Não os mereço (nem os elogios, nem os amigos).

“Rafael, você é o melhor colunista da furacao.com! Com seus textos consigo reviver parte da minha história atleticana! Não sei se lembra, provavelmente não... mas eu te escrevi uma vez, quando falou da final de 1990, em que te dizia na mensagem que foi naquele dia que meu vô faleceu!

Sobre Erechim, você ainda teve a sorte de estar em casa... imagine o quanto seria pior, mais 9h de estrada, vindo à sua cabeça a todo momento aquele terceiro gol gremista!

Cara, deixa eu te contar a minha história desse jogo... meu pai tem parentes em Erechim, todos sabiam que o Grêmio tinha perdido o mando, mas não sabíamos que seria em Erechim o jogo, afinal, eles estavam jogando em Pelotas, se não me engano...logo após o jogo do CAP contra a Ponte Preta, confirmaram o jogo em Erechim... falei com meu pai... "e aí, vamos?".

Ele na hora disse sim e já começou a ligar pros parentes de lá, por sorte, todos colorados... chegamos lá, os colorados, nem dando importância ao CAP, só queriam saber do Grêmio rebaixado e eles na semi da Sul Americana, contra o Boca, que seria jogado no meio daquela semana...

Meu pai e eu insistimos, compramos uns ingressos a mais, pra que nossos parentes fossem ao jogo, falamos maravilhas do CAP, que seríamos bi do Brasil... e tudo mais!

Minha prima é doente pelo Inter, mal conhecia o CAP e estava curtindo um monte o passeio do Furacão, as músicas da TOF...mas, de repente, o apagão, a desgraça veio!

Cara, eu simplesmente sentei na arquibancada e não tinha reação nenhuma! Minha prima ficou parada ao meu lado, assustada, pois sabia o que eu estava sentindo, mas feliz, pelo Grêmio ter sido rebaixado matematicamente, aquele dia... Na saída... uns 20 min depois do fim do jogo, eu ia saindo, ainda em silêncio, sem reação... eis que surge um gremista na divisa de torcidas... ele diz... "vocês são time pequeno, nunca vão ganhar nada... entregaram aqui o título!"... Cara, até então eu não tinha pronunciado uma palavra...mas aquilo me ferveu... juro que se eu pudesse, dava um soco naquele maldito!...

Falei pra ele: "nós que somos pequenos, seu fdp? vocês estão rebaixados, seus malditos... e estão comemorando por quê? o empate resolveu algo pra vocês? vocês caíram, seu m****! a gente é líder do campeonato (afinal, o Santos também havia empatado, com o Paysandu) e você tá rebaixado, seu desgraçado!"... meu pai por um lado e minha prima pelo outro me puxavam pelo braço... nunca, nunca fiquei tão irritado na minha vida!

Só de lembrar me dá raiva! pra piorar...a Brigada se recusou a nos escoltar, falaram que não havia riscos!... nosso ônibus foi atingido na saída da cidade e voltamos para casa sem vidros no busão! Diazinho pra ser apagado! Saudações rubro-negras! Abração, Rafael..PS.: "sempre haverá Erechim".

Fábio Teixeira, 27 anos Curitiba, Paraná”.

“Prezado Rafael !

Parabéns pela matéria ... e por deixar de fumar (sobre a ex-namorada, nada a declarar). A minha cabeça girou e girou, enquanto lia seu texto. Lembrei-me da minha primeira grande frustração ... lá pelos idos de 1968: eu, com doze anos, ao lado da minha irmã, ambos perplexos e chorando pela não realização (praticamente certa) de um grande sonho.

Pois bem, meu caro ! Em plena Vila Capanema, o Atlético acabara de sofrer, segundos atrás, o gol de empate... na decisão do Paranaense daquele ano. O coxa Paulo Vecchio, dopado, completou de cabeça um cruzamento do Nilo - bem à nossa frente - e, ao ver a bola estufar a rede do goleiro atleticano Gil ... ouviu o apito do Arnaldo César Coelho (aos 46 minutos, mesmo que naquele tempo não houvesse descontos), antes de comemorar - aos socos e pontapés (bem à nossa frente) - com o próprio Nilo (coitado desse). O Paulão não estava enxergando nada. Que porretada na nossa moleira!

Alguns dias antes, o Britânia roubou um pontinho nosso (naquele tempo, a vitória valia só dois pontos), com um gol do também dopado Silvano, uma ferida de centroavante. Os caras levaram uma grana preta da máfia coxa-branca, para tentar tirar o título (mais do que certo) do Atlético. E como o nosso rubro-negro precisava daquele título, pois no ano anterior QUASE MORREMOS (se não fosse o graaannde Jofre Cabral e Silva, hoje não existira mais o Furacão). Daquele dia em diante, passei a desprezar - com todas as minhas forças - tudo que se refere, se diz e se comenta... a respeito do coxa football club (aquela ETERNA m* de time).

Foi fulminante! Uma cabeçada, uma porretada; e o sonho de ver campeão (pela primeira vez) o nosso CLUBE DO CORAÇÃO ... foi para o ralo (isso mesmo, pois foi para o cfc - cloro flúor carbono, a maior praga de todos os tempos - para o esgoto).

O fato curioso é que, ao mesmo tempo em que os porcos-atletas comemoravam o título, nós éramos consolados por um jovem casal coxa-branca (coisas daquela época) ... que assistiu ao jogo junto a nós, agarrados ao alambrado próximo das cadeiras numeradas do Favelão (cada qual na sua, com todo respeito, bons tempos!).

E olha que estive em Erechim (com esposa e filho). Saí de Pato Branco, passei um dia relaxante nas Terma de Piratuba ... e rumei para a bela (apesar de tudo) Erechim. Depois dos trinta minutos do segundo tempo, intensificou-se a pressão do Grêmio (muito mais pela inércia de Levir Culpi e seus comandados do que por mérito deles). Um torcedor próximo ia dizendo ... trinta e três, cinco, oito e nove, quarenta minutos, e dois e (opa), quando ele disse quarenta e três ... eu sentia que havia algo de errado no ar, pois toda a curva dos fundos do estádio (com mais de quinhentos atleticanos e alguns colorados) estava estranhamente quieta (o Santos já havia empatado com o Paysandu - a nossa diferença iria para quatro pontos e ... chega, chega, chega).

O resto você já sabe, Rafael. Mas, após o jogo, com a cabeça igual a um balão ... fomos a uma pizzaria, onde também estavam alguns jovens torcedores (locais) do Grêmio. Um deles falou: "Os caras – referindo-se ao CAP - fizeram o que quiseram com o Grêmio; depois, desistiram de jogar e tomaram três de bobeira".

Não! A decepção da tragédia de Erechim (lembrada pelo Washington até hoje no Japão) - para mim - não se compara com a terrível dor da punhalada do Paulo Vecchio na catástrofe da Vila, mesmo local do sofrimento dos torcedores paranistas no jogo contra o Santos (bobinhos, pois até eu não queria que o Paraná caísse), que mexeram com os brios do ex-artilheiro atleticano Kleber, que deu o seu recado... calando a inexpressiva torcida tricolor ... e fazendo a menção do "querendo ouvir" a gozação a mais que eles quisessem fazer.

Ao retornar de Erechim a Pato Branco, obviamente passei uns dias sensivelmente abatido e inconformado, mas ainda tínhamos mais algumas chances pela frente (não aproveitadas). O empate (derrota) em Erechim foi trágico, assim como a perda do bi (que certamente ainda virá), mas, sinceramente... eu prefiro ser vice de um BRASILEIRÃO e de uma LIBERTADORES DA AMÉRICA com sobras e de forma limpa e transparente do que ser campeão de uma segundona, com times de terceira categoria, depois de se vangloriar - por décadas e décadas - como os maiorais, detentores de títulos (in)expressivos de campeões do torneio do povo, fita azul e brasileiro de 1985 (com quase 80 times, repescagens, etc, e uma conquista com saldo negativo de dois gols, após uma acirrada disputa de pênaltis com o não ranqueado Bangu - naquele ano misturaram times de primeira, segunda, terceira, etc, que nem os coxas sabem direito qual o título que eles ganharam). Sem falar, nas reconhecidas roubalheiras em diversos paranaenses, no decorrer dos anos setenta.

Já escrevi demais, mas ... valeu pelo teu sugestivo texto ... o resgate de memórias que me ensinaram muito a SUPORTAR situações adversas, derrotas e injustiças, tanto no futebol, como no dia-a-dia de nossas vidas. Não! Não, mesmo! Não tenho raiva, ódio, aversões ou más recordações... nem mesmo da Vila Capanema (muito menos de Erechim), pois aprendi que CULTIVAR VITÓRIAS COM DIGNIDADE E MERECIMENTO ... é tão importante e gratificante ... quanto reconhecer o mérito de vencedor (em algumas circunstâncias onde não se consegue chegar em primeiro).

A "Catástrofe da Vila", para mim, foi única: só aconteceu uma vez. Acho que NUNCA MAIS, ou na pior das hipóteses MUITO DIFICILMENTE algo (no mundo do futebol) irá me abalar e me decepcionar tanto como aquele momento de infinita tristeza ... após o gol do campeonato dos coxas do paranaense de 1968. E isto está custando caro para eles. E custará ainda mais, pois eles não conseguem conter a tradicional e peculiar arrogância, prepotência e (coitados) o ultrapassado complexo de superioridade.

Que me desculpem os paranistas, mas eles perderam até no quesito decepção (e dentro de casa). Já os coxas, devem ser ... não odiados ou lembrados, mas DESPREZADOS E DESPREZADOS, pois eles fazem parte de uma raça desprezível, que povoa o mundo do futebol paranaense ... onde misteriosamente a imprensa não dá o devido valor ao crescimento e pujança do CAP (Clube do Século XXI), focalizando - mais e mais - times de categoria e divisão inferior.

Se o nosso FURACÃO cair um degrau, HOJE... tem totais condições de facilmente se levantar, pois está muitos degraus acima de nosso ex-grande rival ... que, de tropeço em tropeço no seu próprio orgulho, não quer aprender a ser grande por suas próprias forças. Isso o levará a uma batalha sem tréguas com o paranazinho e, acima de tudo, com as suas próprias fraquezas.

Haverá - SIM - caro Rafael, muitas "Tragédias de Erechim", bem como "Catástrofes da Vila", mas... o Clube Atlético Paranaense será SEMPRE um vencedor, em quaisquer circunstâncias semelhantes a estas, pois colocou-se bem acima da primária condição de clubezinho inferior de outrora, conduzindo-se - PELAS SUAS PRÓPRIAS FORÇAS E MÉRITOS - ao patamar dos grandes clubes brasileiros e das Américas. Um grande abraço e saudações atleticanas.

Jackson Luiz Rose -Pato Branco (PR)”.

E, por fim, numa prova cabal de que no futebol devemos ter adversários, mas não inimigos:

“Sou são-paulino, freqüento este site desde aquela final da Libertadores entre os nossos times e, seguramente, esta foi a melhor coluna que li até hoje. Eu sou um cara que também demoro para esquecer determinados tipos de derrotas (principalmente eliminações). Sem dúvida alguma, a minha "Erechim" foi a derrota para o Velez em 94.

Só quem é torcedor fanático sente o que você conseguiu transcrever em palavras nesta coluna. Até a parte da sua ex - que foi tratada nas observações - foi interessante. Eu mesmo lembro que toda vez que ligava para a minha antes do jogo, meu time perdia. Conclusão: tive de largá-la e arrumar outra. Futebol é isso: fanatismo, emoção e um pouco de superstição. Abraço!

Rafael Sindoni Feliciano, 24 anos, São Paulo-SP”.

Neste dia 03 de dezembro, o Rogério Andrade completa mais um ano de vida e, diante da importância da efeméride, não poderia deixar passar em branco esta data tão significativa para todos nós que – orgulhosamente – privamos da amizade do fantástico camarada Rogério.

Amigo Rogério Andrade, hoje eu sinto que aquela minha vontade de ter um milhão de amigos se torna, cada vez mais, real. Receba o meu fraterno abraço, o meu agradecimento e esteja certo: TER UM AMIGO COMO VOCÊ EQUIVALE A TER UM MILHÃO DE AMIGOS! (e esteja certo: todos os seus amigos me acompanham nessa afirmação!).


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