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Rafael Lemos
Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da LÃngua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.
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Hoje, Finados. Dia de homenagear os mortos, de temer a morte, dia de acreditar na vida e de crer – sobretudo – no triunfo da vida sobre a morte. Dia de acreditar na vida eterna. Hoje, no silêncio absoluto, percebemos que já é imenso o número daqueles que nos deixaram – matemática sempre dolorosa e paradoxal que adiciona à medida que nos subtrai entes queridos. Nada a fazer contra essa indesejável contagem que vai crescendo na razão direta da saudade.
No silêncio sepulcral, fazemos o inventário dos nossos mortos e cada um de nós traz impressa na alma sua lista de perdas irreparáveis. Cada um de nós carrega sua relação personalÃssima de mortos. Cada um carrega sua relação personalÃssima com a morte. Há quem reconheça na morte o fim; há quem julgue ser apenas o começo; há quem se desespere; há quem renove as esperanças; só não existe quem passe incólume por ela. Não fiquei incólume, carrego comigo meus mortos num inventário em que os bens mais valiosos são as lembranças vividas e revividas em forma de memórias. Saudade.
Meu avô, minha avó, tios, primos, primas, amigos de verdade, amigos virtuais, vizinhos, professores, conhecidos e colegas: é longa a lista que a morte vai escrevendo a fogo na nossa carne. É impossÃvel esconder as marcas dessa escrita. É impossÃvel apagar os nomes, enxugar as lágrimas e retroceder no tempo. Ninguém passa incólume pela morte, carrego tantas lembranças - dos tempos e das pessoas que não voltam - que quase me desespero, mas prefiro renovar a esperança, na crença de que a morte é apenas o começo, nunca o fim.
No silêncio sepulcral, lembro-me dos irmãos que perderam a vida naquele trágico 17 de julho de 2007, a bordo do vôo 3054 da TAM. Dentre eles, a Comissária de Bordo, de apenas 30 anos, que morreu estando grávida de 4 meses; a menina de 17 anos, aprovada no inÃcio do ano no vestibular para o curso de Rádio e TV, na Faculdade Anhembi Morumbi de São Paulo, que morreu, ao lado de seu irmão de 12 anos de idade; a menina de 24 anos, funcionária da TAM Express, que no desespero de tentar salvar a vida, jogou-se do prédio em chamas, e mesmo socorrida morreu no hospital.
Em silêncio, lembro-me das vinte e sete pessoas que, no mês passado, perderam suas vidas nos dois acidentes que envolveram um ônibus, uma carreta e um caminhão na BR-282, em Descanso, no oeste de Santa Catarina. Dentre os mortos, estavam três bombeiros destacados para socorrer as vÃtimas do primeiro acidente. Esses bombeiros – heróis, verdadeiros anjos – perderam suas vidas ao tentar salvar as vidas de seus semelhantes, mas nem mesmo os heróis passam incólumes pela morte, nem mesmo os anjos (Maynara, onde você estiver, descanse sob a proteção de Deus e esteja em paz).
Hoje, Finados. Dia de homenagear nossos mortos, de temer a morte, dia de acreditar na vida e de crer – sobretudo – no triunfo da vida sobre a morte. No silêncio absoluto, imersos na Fé e no Amor, percebemos que aqueles que não vivem mais entre nós, vivem em nós e vivem cada vez mais. Hoje, Finados: dia de lembranças e histórias; dia de preces e pensamentos; dia de acreditar ainda mais em Deus; dia de crer na vida eterna.
Dedico esta coluna a todos que deram suas vidas pela vida do Clube Atlético Paranaense.
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