Rodrigo Abud, 45 anos, é jornalista. Já correu dos quero-queros na Baixada, justamente quando fez um lindo gol do meio de campo. Tarado por esportes, principalmente o bretão, é também alucinado por rádio esportiva.
Vida eterna
30/10/2007
Na última quarta-feira, 24 de outubro, a Torcida Organizada Os Fanáticos completou 30 anos de fundação. Trata-se da mais antiga torcida do estado em atividade. Junto com a torcida, passei grandes momentos na Baixada, nas sedes da torcida (Templo da Caveira e a atual) e nas festas de aniversário.
É impossível esquecer dos aniversários comemorados no ginásio, anexo à antiga Baixada, das festas nas churrascarias, das realizadas na própria sede da torcida e nas últimas realizadas na chácara. Participei de algumas, não pude participar de outras, mas as que fui foram memoráveis.
Para mostrar a força da Fanáticos e do Atlético, vou contar uma pequena história.
Meados de 1995, com a boa campanha que o Atlético realizava no Campeonato Brasileiro da segunda divisão eu e um grande irmão, na verdade um grande primo para ser mais exato, Luiz Felipe, vulgo Pulga, que hoje acompanha nosso glorioso furacão da Califórnia-EUA, começamos a nos corresponder, via carta, com torcidas organizadas de outras localidades.
Numa época em que a internet estava fazendo xixi nas fraldas, conseguimos, junto ao relações públicas da torcida, a lista de endereços de torcidas organizadas co-irmãs.
Travamos um duelo digno de clássico para distribuir quem mandaria carta para cada torcida. Para definir quem começaria escolhendo fizemos o tos (cara ou coroa) e fomos dividindo de forma intercalada.
Divisão feita, mãos à obra. O Pulga tinha como diferencial um possante computador (386), impressora matricial e a lista de endereços das torcidas designadas para ele. Eu tinha a meu favor inúmeras páginas de caderno e uma incansável caneta Bic quatro cores - eu só usava as cores preta e vermelha.
O enredo era basicamente sempre o mesmo. Nos apresentávamos como torcedores do Atlético Paranaense, membros da Fanáticos, passávamos as novidades do time, da torcida e para concluir propúnhamos uma amistosa troca de adesivos.
Disparamos as primeiras correspondências e dá-lhe aguardar o carteiro cumprir os trâmites postais, além é claro de brigar com a ansiedade.
Numa bela tarde, época boa em que nossa maior preocupação era assistir Sessão da Tarde, jogar Lakers vs Celtics no Mega Drive e esperar o carteiro, estávamos na minha casa e eis que escuto o maravilhoso barulho da correspondência sendo colocada debaixo da porta (ambos morávamos em apartamento). Recebi o retorno da Torcida Organizada Mancha Azul, do Cruzeiro.
Vi no rosto do Luiz Felipe a sensação de que ele sabia que eu estava na frente do marcador, no nosso duelo pessoal, afinal a minha primeira correspondência veio com envelope e papel timbrado e um adesivo.
Luiz Felipe foi embora derrotado. Meia hora depois da sua partida toca o interfone e para minha surpresa: Pulga chegando. Sorriso Colgate no rosto, mãos para trás como se escondesse algo importantíssimo e ele me apresenta a sua primeira correspondência recebida: Torcida Os Intocáveis, do Atlético Mineiro.
Fomos nessa toada por um bom tempo. Montei uma pasta para guardar os adesivos que recebia, que mantenho guardada até hoje. Com o passar do tempo e a relação com as torcidas, conseguimos expandir nossos contatos e passamos a receber correspondências de torcedores para os quais não tínhamos mandado carta. Éramos uma das referências de Atlético Paranaense para outros jovens, como nós, de todo o Brasil.
No nosso duelo de quem recebia mais carta tivemos um empate. Tenho que admitir que ele conseguiu o suvenir mais valioso, recebeu uma camiseta da Torcida No Name Boys, do Benfica de Portugal, desprendendo para isso o valor do selo.
Com o passar do tempo, fomos deixando de lado o envio das cartas e os contatos foram findando, porém durante o período posso dizer que fiz bons amigos como o pessoal da Torcida Reação Alvinegra do Atlético Mineiro, Mancha Azul do Cruzeiro, Falange Coral do Santa Cruz, Comando Vermelho do CRB e inúmeras outras.
Viajamos o Brasil inteiro e um pedaço do mundo, gastando pouco, fazendo amigos, divulgando as cores do Furacão. Tudo isso graças à força do rubro-negro e da Torcida Organizada Os Fanáticos, que nos seus trinta anos de existência acertou várias vezes, errou em outras, mas nunca deixou de apoiar o objetivo comum a todos os torcedores, o Clube Atlético Paranaense.
Mesmo que atrasado desejo os parabéns e vida eterna a maior mais antiga torcida organizada do estado.
Dica de vídeo
Para celebrar mais um aniversário da Fanáticos, nesta coluna, indico o vídeo da festa de 15 anos da torcida, realizada no antigo ginásio na Baixada em 1992. O vídeo foi postado pelo usuário “gekry”.
Quem quiser encaminhar uma sugestão de vídeo, pode fazê-lo pelo formulário disponível abaixo desta coluna.
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