José Henrique de Faria

José Henrique de Faria, 74 anos, é economista, com Doutorado em Administração e Pós-Doutorado em Labor Relations nos EUA. Compareceu ao primeiro jogo do Clube Atlético Paranaense em 1950, no colo de seu pai. Seu orgulho é pertencer a uma família de atleticanos e ter mantido a tradição. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.

 

 

O futuro bate à porta

29/10/2007


Toda a torcida rubro-negra esperava por uma vitória contra o Cruzeiro, em Minas. Seria o primeiro passo de um dificílimo caminho à Libertadores. O empate, não fosse estas circunstâncias, não foi um resultado ruim, mas não foi suficiente para realizar o sonho. Existe uma pequena possibilidade de conquistar esta vaga, mas, convenhamos, é uma “Missão (quase) Impossível”. A reação, as providências, as mudanças, enfim, vieram a tempo de livrar o rubro-negro da zona de rebaixamento, mas foram tardias se forem consideradas as perspectivas de uma vaga na Libertadores. Pés no chão, trata-se de continuar lutando por uma vaga na Sul Americana e de alcançar a melhor classificação possível, ou seja, de buscar um 5º. ou 6º. lugar na tabela geral.

Para quem habitou, durante quase todo o campeonato, a parte de baixo da tabela, o que foi conseguido até agora já é uma vitória e merece ser comemorada com a Arena lotada, reconhecimento aos que deram a volta por cima, businas na saída do estádio e tudo o que a torcida tem direito. Menção especial aos Fanáticos, com seus 30 anos de apoio incondicional ao furacão, com sua força vibrante que emana para dentro do campo de jogo. É óbvio que quanto mais se conquista mais se quer conquistar e o que antes era a meta (fugir do rebaixamento), transforma-se em um desafio (vaga para a Libertadores), mas pode terminar mesmo em uma autêntica vitória (uma vaga na Sul Americana). Vitória sim, pois é mais do que se supunha há pouco tempo atrás. Sendo realista, este ano é um exemplo de tudo o que não se deve mais fazer no futuro.

Neste momento, continuar apoiando é o que a torcida deve fazer. Este apoio foi fundamental para a recuperação. Apoiar é incentivar mesmo nos piores momentos. Incentivar não é xingar os jogadores menos talentosos desde o apito inicial até o apito final, berrar a plenos pulmões contra tudo e contra todos. Digo isto porque de onde vejo o jogo tenho tido o desprazer de aguentar um jovem e alguém que parece ser seu parente ou progenitor, ambos estressados, nervosos, inconformados e maus torcedores que berram e xingam nos meus ouvidos durante 90 minutos ininterruptos. Já recorri até a aqueles tampões de ouvido usados por operários em indústrias, mas aí também não ouço os Fanáticos e os cantos animadores.

O Atlético Paranaense precisa de todo o apoio porque existem ainda alguns obstáculos pela frente para a vaga na Sul Americana. O primeiro é o Grêmio. Apesar de toda a celeuma causada por uma parte da diretoria do time gaúcho, por uma parte da imprensa gaúcha e por um ou outro colunista local mal-humorado (qual é a novidade?), o Grêmio não precisa do todo o aparato policial e de segurança especial que exigiu do Clube dos 13. Vai chegar e sair da Arena como todos os demais times que por aqui passaram e passarão: dentro da normalidade. Nem sua equipe e nem sua diretoria sofrerão com agressões. O medo se justifica, é claro. Medo de perder o jogo. Medo pelo que fizeram no Olímpico. Medo pela agressão violenta que alguns torcedores do Grêmio perpetraram contra torcedores do Atlético Paranaense em Porto Alegre. Medo de quem tem “culpa no cartório”. Como uma pessoa intransigentemente contra qualquer tipo de violência, não posso aceitar que haja uma represália.

A resposta será em campo. O que se verá é o Grêmio sendo extraordinariamente vaiado. Entre os jogadores o Tcheco será especialmente apupado durante o jogo todo. Disto não restam dúvidas. Esta será a forma de protestar contra os danos causados ao Atlético Paranaense. Se tiverem medo de enfrentar as vaias do caldeirão, os apupos da caveira e as cores vermelho e preto, que vão buscar consolo em outras paragens. O que se quer é que sua diretoria sofra com o resultado na Arena. Neste jogo, aliás, irei sem a companhia de minha mulher, que é gremista e atleticana. Mais gremista que atleticana, afinal, como gaúcha, tem direito a ter seu time de infância. Ela poderá ir ao jogo, sem dúvida. Mas, só se ficar lá no cantinho dos gaúchos. Depois, em casa, acertamos as contas.

Em seguida, vem o Corinthians em São Paulo. Eles só estão pensando em jogar no Pacaembú, pois acham que a questão deles é de sorte/azar. A vitória sobre o Figueirense animou os corinthianos, mas os mesmos podem vir no desespero se não passarem pelo Flamengo. O Atlético Paranaense não tem nada a ver com os problemas deles. Se de gavião viraram pombinha rola é problema que não diz respeito ao furacão. O Atlético Paranaense irá até lá para vencer. Jogos no meio (Sport em casa e Flamengo no Rio), finalmente chegará a vez dos bambi. Podem esperar novas e estridentes vaias a apupos. Existem bons motivos para vaiar piratas e vampiros do futebol.

Como se pode ver, o ano do futebol começa a chegar ao fim. O futuro bate à porta. Por este motivo, já está na hora de planejar 2008. Começando pelo comando técnico. Conta-se com a renovação do Ney Franco. De minha parte, espero que o Maculan continue onde está. Contudo, não se poderá aceitar, por mais aparentemente plausível que seja, o discurso segundo o qual é preciso esperar por providências, pois haverá eleições no clube e o planejamento é responsabilidade da nova diretoria. O Atlético Paranaense tem carências gritantes. Trata-se de manter a base principal da equipe, que finalmente está encontrando seu eixo, mas igualmente de preencher as lacunas que são mais do que evidentes. Há problemas na zaga e no meio (articulação das jogadas), mas eles são menos graves do que o que ocorre pelos lados do campo. É, portanto, crucial começar pelas laterais.

Em um esquema de 3-5-2, que tem sido vencedor na era Ney Franco, os alas são peças importantes. Alas que saibam jogar como alas, não custa observar. A falta de bons jogadores nestas posições tem levado o Atlético Paranaense a sofrer com a descontinuidade das jogadas durante o jogo, com passes errados, bolas perdidas, cruzamentos ruins e marcação deficiente. Os jogadores disponíveis atualmente ficam no time porque não tem ninguém melhor. Se eles são os melhores, então é urgente agir. Depois, não adiantam as desculpas de sempre: “o mercado está difícil”, “todo mundo já contratou, não sobrou ninguém com o perfil que queremos”, “os bons são caros demais para a política do clube”, etc., etc., etc. A hora é agora. Não é possível que na série A ou mesmo na B não existam alas melhores disponíveis. Também é preciso entender melhor o significado dos investimentos nas divisões de base: não há nenhum bom jogador lá que mereça subir?

O planejamento de 2008 deve começar já. Aliás, a bem da verdade, devia ter começado. Se a estratégia for o trabalho em silêncio para não atrapalhar as ações, tudo bem. Mas, se não for isto, o Atlético Paranaense está atrasado. No próximo ano a torcida quer e merece muito mais. Quer um time competitivo, quer o título do Estadual, quer disputar os títulos da Sul Americana e do Brasileiro. Este é o nível do Clube Atlético Paranaense.


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