Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Troça da Elite

18/10/2007


Para falar da pândega do momento, pego um vácuo tipo Piquet no Mansell na fita do momento, o filme Tropa de Elite. Pelas bandas paranaenses ele ganha o nome de Troça da Elite, protagonizado pelo "homem de bem", o professor Mirandinha (Mirandão é o de São Januário), ex-puxador do bonde da kombi. Troça, pra quem não sabe, é sarro, piada. O Paranazinho é a piada da elite, e desta já conta seu desligamento em contagem regressiva.

O menino dos olhos de parte da crônica paranaense, que o taxou de "o dirigente do bem", uma alternativa limpa ao dirigente malvado que regula o acesso à imprensa no CT e não dá boi pra gente da latinha de cor marrom, caiu do burro bonito. Perdeu, prefessô. A casa caiu. Nas internas paranistas, a frase era "zero-um, pede pra sair". Saiu. Assumiu o zero-dois.

Estou curtindo adoidado esse filminho, com pipoca na mão, me divertindo tanto que nem ligo pras casquinhas de piruá no meio dos dentes. A verdade sempre aparece. Estou assistindo de camarote, e não é um camarote mal rebocado da Dick Village, a queda da casa do "dirigente do bem". A tropa maniqueísta do estado, babando de vontade de detonar o maior dirigente de futebol do país, Mário Celso Petraglia, deve estar vexada de ter inventado esta luta do bem contra o mal. É preciso mais do que uma meia-água pra se comparar ao Eme-Cê-Pê. Este termo de comparação termina como começou, como uma piada. Uma troça.

Torcedores paranistas: agradeçam ao Miranda das Araucárias a enxovalhada no nome da instituição que defendem. E tentem não cair de novo nesse um-sete-um, que me lembra o "golpe do bilhete premiado". Este golpe é mais ou menos assim: um caboclo muito humilde chega em um incauto (neste caso uma kombi de incautos) e diz que tem um bilhete de loteria e gostaria que o incauto o conferisse para ele, que é analfabeto. Nisso, chega o comparsa com uma cópia do resultado da loteca que confirma que o bilhete é premiado. O pobre, humilde e sofrido homem pede que o incauto vá ao banco receber o prêmio, já que ele é analfabeto e não tem conta em banco e oferece ao incauto parte da bolada como recompensa, mas pede uma garantia para confiar-lhe o bilhete, alguma grana. Quando o incauto dá por si, o humilde caboclinho do bem já vazou com toda a monta dada em garantia.

Os paranistas caíram no golpe do bilhete premiado, achavam que estavam com o mais íntegro dos homens, aquele sujeito classe média com semblante humilde, o oposto do homem com cara de mau, que é como a imprensa paranaense sempre retrata Petraglia. Quem vê cara não vê caráter. Vê DVD. Quando deram por si, o humilde já tinha carcado o nervo nas finanças de seu clube. A recompensa, que seria um título nacional, cogitado no primeiro turno pela turba da camisa doce de mocotó, virou apenas um devaneio que vai terminar na delegacia. Hoje, vemos pessoas ligadas a esta instituição chorando, macambúzias perante ao futuro funesto que os aguarda. Água com açúcar e bola pra frente, kombi.

Um conselho de quem não tem nada contra a instituição café com leite do estado, e que até freqüentou o belíssimo parque aquático do Pinheiros na infância: futebol se faz com trabalho, idéias, engajamento. Está cada vez mais difícil competir numa elite e não é com cara de coitadinho e vestindo a peita de favelado que o Paranazinho deixará de ser inho. É trabalhando por si, sem querer tirar água do joelho na floreira pujante do vizinho. Aí ninguém mais cai no conto do coitadinho que esconde por trás da face humilde, uma inveja patogênica e a ganância barata comum aos homens mais vulgares.

O senhor é um fanfarrão, seu zero-um!



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