Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

O retorno dos mortos vivos

13/09/2007


Miolos! Miolos! Depois de um bom tempo a sete palmos, saem de seus túmulos os mortos vivos. Miolos! Miolos! Grunhem os defuntos famélicos. Perambulando desde o cemitério, mais conhecido como Vila Zumbi, buscam voltar à civilização. É o retorno dos mortos vivos.

Num enredo para deixar George Romero, cineasta que inventou o gênero "filme de zumbi" com inveja, tentam marcar território se alimentando dos seres-humanos vivos. Miolos! Miolos! Eles estão com fome. De quem eu falo? Quem? Raimundo Nonato? Não, eu falo dos re-animados zumbis verdes. A patotinha louca do Coritiba, ié! Coritiba, ié, ié, ié!

O zumbi-mor, vestido com roupas rotas à Napoleão, com limo e minhocas sobre sua carne em decomposição, olhos saltando das órbitas, ordenou: Miolos! Miolos! E lá se foi a turma se alimentar da vida alheia mais uma vez. Espalharam outdoors pela cidade usando como mote o Atlético Paranaense, ilustrados com a figura de outro morto-vivo, o jogador Tuta, que passou pela Baixada no longínquo ano de noventa e oito, e, como bom zumbi, ainda engana torcidas por aí. Atualmente é a do time cujos torcedores saem do armário numa avalanche tresloucada.

Esse GG é uma bola mesmo. Um tiozão pra lá de pancada. Se fosse uma loucura restrita ao cemitério verde, vá lá. Mas o pior é que a imprensa sabidamente turmalina do estado comprou a idéia que a torcida do Coritiba "Foot Ball Club" é algo de fabulosa. Enaltece em pesadas tintas o amor-zumbi da turma. Agora então, com o Atlético Paranaense passando por uma turbulência, é o momento para os defuntos desabotoarem o paletó de madeira. A nova é que a torcida deles é maior, mais fiel e animada do que a Rubro-negra. E eles acreditam na cascata, mesmo a nossa sendo comprovadamente a maior do estado em números absolutos, segundo Ibope, Datafolha e Data-Ribas.

Realmente a piada verde é boa. Depois de dois anos de novena, lágrimas e velas pelo presunto, eles voltam ao posto de anedoteiros na vida da massa dominante do Atlético Paranaense. A gente anda mesmo precisando de piadas para nos animar. Gostaria de usar este espaço para fazer um terno agradecimento: Obrigado Giovani Gionédis. Agradeço à boa anedota em forma de outdoor e principalmente por dar o estopim que faltava para a torcida Rubro-negra do estado do Paraná não deixar uma cadeira vazia sequer na Kyocera Arena no domingo e até o fim do campeonato.

A verdade é que o GG tem que praticamente pagar pra seu povo ir ao futuro maior shopping center do Alto da Glória. Dar o ingresso quase de graça. Dar uma associação ao clube à preço de moela. Eles tiveram que ficar dois anos enterrados na segundona para se coçarem e resolverem sair de seus sarcófagos e irem ao estádio, que sempre foi vazio, habitado apenas por zumbis mais resistentes, aqueles que usam uma bandeira com a cara do zumbi-símbolo do Iron Maiden, conhecida banda de heavy metal.

Os mortos vivos estão de volta ao convívio com a raça humana. Ao seu estilo, alimentando-se do miolo alheio, como fizeram após o título Brasileiro de 2001, o qual o Atlético Paranaense venceu com o maior número de pontos e de gols marcados e saldo positivíssimo. Lembram do anúncio nos principais diários do estado um dia depois da monumental conquista Rubro-negra, exaltando o feito por eles alcançado, com menor número de pontos e com saldo negativo no campeonato brasileiro conhecido até hoje como o mais bizarro de todos os tempos? O finado Costinha ou Renato Aragão em seus áureos tempos perderiam feio.

Mas valeu. Eu tava mesmo sentindo falta deles. Gosto dessas coisas de rivalidade, contanto que nunca se parta para a ignorância. Mostra que o futebol paranaense está vivo. Acredito que os zumbis subam para a primeira divisão no ano que vem, nós não cairemos, acredito, e aí a ordem natural das coisas será reestabelecida. Nós, os maiores, mais modernos, representativos e numerosos e eles no segundo posto, correndo atrás de nossos miolos, de nossas idéias, tentando imitar nosso modelo de administração, o nosso jeito de torcer, a nossa tradição de superação e garra nas dificuldades. Sempre atrás de nós, grunhindo: miolos! Miolos!

Domingo é dia de casa cheia, se sobrar lugar no estádio vai ficar feio, é hora de mostrar que, mais do que miolos, temos sangue nas veias, um coração que bomba forte, uma garganta que vibra até a rouquidão e uma fé com a grandeza da nossa alma guerreira.


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