Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Ode aos Animais - quase uma fábula

07/09/2007


Os detratores do Atlético, seus inimigos e os invejosos que se espalham dentro e fora da cidade de Curitiba cuidaram de todos os detalhes necessários ao sepultamento do Atlético. Compraram velas, coroas de flores, véu, terço e terno. Arranjaram padre que, vestido de verde e branco, ensaiou por três vezes as palavras finais a serem proferidas à beira do esquife, à luz dos quatro círios. Até carpideiras foram contratadas, acreditem.

Tava tudo certo, tudo pronto: só faltava o defunto, que era pra ser o Atlético. Mas aí, para desapontamento da urubuzada - verde, tricolor e doutras nuanças - que já se assanhava no lixão, habitat para eles mais do que natural, o defunto não apareceu, tornando o velório inviável. "Que lástima!" - alguém deixou escapar a revolta em alto e bom tom e a essa revolta outras tantas foram surgindo.

"O Atrético não morreu!" - gritou, em seu Português acanhado, o urubu tricolor que, de longe, parece até uma gralha azul. "Não morreu?" - quis saber o urubu verde e branco, bicho de penas tão pálidas que chegam a dar pena.

"Não morreu! O Atrético não morreu!" - repetiu o urubuzinho tricolor, causando pânico no Coelho e no Cordeiro, animais que, numa espécie de prosopopéia literária, escrevem coisas sobre o Atlético, mesmo sem saber ao certo o que significa o Clube Atlético Paranaense. Animais que, numa espécie de prosopopéia literária, escrevem coisas ruins contra o Atlético, mesmo sem saber pensar. Eles agem por instinto, afinal, são animais desprovidos de qualquer razão.

Mas são animaizinhos espertos, pois chegam a fingir, em seus textos, preocupação com as coisas do Furacão, chegam a fingir respeito, mas quem os conhece não lhes empresta crédito: são animaizinhos amigos dos urubuzinhos já citados e se alimentam das mesmas carniças. Não chegam a ser bichos perigosos, mas são traiçoeiros: convém sempre ter com eles precaução e guardar boa distância sanitária; medo, jamais.

São bichinhos que gostam de plantar vento. Todavia, terão forças para colher a grande tempestade? A grande tempestade sempre vem, quando volta a soprar forte o Furacão. Eles bem sabem disso, por isso temem tanto o Furacão. Haveria um sepultamento, o defunto era para ser o Atlético, os detratores tinham cuidado dos mínimos detalhes, compraram velas, coroas de flores, véu, terço e terno.

Arranjaram padre que, vestido de verde e branco ou outras cores dessas empalidecidas, ensaiou por três vezes as palavras finais a serem proferidas à beira do esquife, à luz dos quatro círios. Até carpideiras foram contratadas, acreditem, mas o defunto não apareceu. E não apareceu por um único motivo: URUBUS, O CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE É IMORTAL! Nossa carne nunca servirá de carniça à sua sanha, nosso sangue ainda corre muito vivo nas veias, nossa alma ainda se arrepia com os versos que emocionam e nos unem há 83 anos:

Atlético! Atlético!
Conhecemos teu valor
E a Camisa Rubro-Negra
Só se veste por amor.

O CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE É IMORTAL! Hoje, apesar de tudo, apesar de todos, apesar de tantos, estamos unidos, como sempre, ou mais do que nunca. Vivemos, é verdade, um momento técnico delicado, exceção em nossa última década; regra na vida futebolística de nossos rivais. O momento técnico delicado está sendo superado, como se viu na recente, e maiúscula, vitória, de virada, sobre o competitivo time do Goiás. Seguiremos na luta até dezembro, seguiremos na luta eternamente, seguiremos sendo imortais.

"O Atrético é imortal?" - perguntou, em seu Português acanhado, o urubu tricolor que, de longe, parece até uma gralha azul. "É!" - reconheceu o urubu verde e branco, bicho de penas tão pálidas que chegam a dar pena.

"Então quando é que ele morre?" - quis saber o urubuzinho tricolor. "Ele não morre nunca, infelizmente! Ele não morre nunca!" - sentenciou - a contragosto - o urubuzinho verde e branco, confundindo o urubuzinho tricolor; e entristecendo o Coelho, o Cordeiro e outros animais que gostam de semear vento e de conspirar contra as coisas sagradas do nosso Furacão. (Mas, como se sabe, eles agem por instinto, afinal, são animais desprovidos de qualquer razão).


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