José Henrique de Faria

José Henrique de Faria, 74 anos, é economista, com Doutorado em Administração e Pós-Doutorado em Labor Relations nos EUA. Compareceu ao primeiro jogo do Clube Atlético Paranaense em 1950, no colo de seu pai. Seu orgulho é pertencer a uma família de atleticanos e ter mantido a tradição. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.

 

 

Sejamos claros

20/08/2007


As dificuldades são como as montanhas.
Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas.

Provérbio japonês.

A equipe do Clube Atlético Paranaense é reconhecidamente fraca, tanto técnica quanto individualmente. Não se pode dizer que não haja empenho dos jogadores, que não haja esforço, vontade. O que há é uma flagrante limitação. Cada um tem dado o máximo que pode. Mas, o que podem é pouco diante do que se precisa. A tal ponto que todos nós torcedores fomos passando por estágios: (i) estágio da frustração: privação de um desejo, que é a da equipe ter um bom desempenho e obter títulos; (ii) estágio da decepção: desapontamento, desgosto, malogro de uma esperança que é a de que pelo menos a equipe dispute as primeiras colocações; (iii) estágio da contrariedade: desgosto e aborrecimento com o mau desempenho da equipe; (iv) estágio da revolta: grande perturbação causada por indignação, levando à manifestação contra a diretoria, técnico e jogadores; (v) estágio da tristeza: estado de desalento, revelador de aflição, que ocorre quando o descrédito e a desesperança prevalecem.

Algumas medidas que deveriam ser tomadas foram tomadas. Começa pela contratação do meia Ramon. Depois, a redução do valor dos ingressos, medida justa e oportuna, porque é preciso reconquistar a torcida que foi afastada da Arena. Agora, a saída de Antonio Lopes, um treinador experiente, mas que não vinha obtendo resultados positivos (na realidade, Lopes entrou em uma “fria”) e a demissão de Oscar Yamato (que, se não teve tempo para trabalhar, tampouco deveria ter sido contratado). São boas notícias, mas é preciso mais. São medidas necessárias, mas não suficientes.

O Clube Atlético Paranaense precisa, com urgência, de pelo menos seis (06) jogadores de primeiro nível para completar seu elenco, precisa de uma equipe de 22 titulares, para ter um banco de reservas de boa qualidade, de forma que o novo treinador tenha opção tática. Ao mesmo tempo, pode dispensar alguns outros jogadores, emprestando-os, para que ganhem experiência, a equipes de 2ª. Divisão, ou fazendo parcerias com outros clubes (por exemplo, o Joinville), aproveitando a estrutura que o Clube Atlético Paranaense possui, para revelar jogadores. Precisa, também, de um treinador de primeira linha e de um gestor de futebol com capacidade para servir de elo entre a diretoria e o futebol profissional, que entenda de futebol, que tenha condições pessoais e profissionais que se espera de uma boa gestão. Em resumo, é urgente um ato cirúrgico.

Sejamos claros. É chegada a hora definitiva de providências radicais, de mudança de atitudes. A Diretoria precisa tomar medidas urgentes que vão além dessas já tomadas e que precisaram ser tomadas. É necessário mudar o método de trabalho exatamente no ponto mais vulnerável: o time de futebol. Que se mude toda a divisão da equipe, antes que a equipe mude de divisão.

Todos sabem que existem pelo menos três formas de torcer. A primeira, e a mais importante, é quando vamos ao jogo e ficamos torcendo ao mesmo tempo por nosso time e contra os 2 ou 3 adversários que estão ao lado ou na frente dele na tabela. Depois do jogo, saímos buzinando, comemorando a vitória e a derrota dos adversários. A segunda, é quando o time está no meio da tabela. É bom vencer, mas a única coisa que salva um resto de entusiasmo é uma classificação para um torneio secundário latino-americano. A terceira, é quando o time está na zona de rebaixamento ou na linha do precipício e nós vamos ao jogo mais interessados em que seus adversários de baixo da tabela percam do que no resultado do nosso time, porque, definitivamente, nós não confiamos nele. Nós estamos na forma de número três. Torcendo contra o Náutico, o Flamengo e o Juventude.

Se não houver a contratação de ótimos jogadores, o destino estará traçado. As montanhas são cheias de cristas, cumeeiras, pináculos, píncaros ou ponto culminantes. Isso representa as dificuldades. Essas cristas só se aplainam se nós avançamos sobre as montanhas. Isso representa nossa firme decisão de superar os problemas. Aqueles que são encarregados de resolver os problemas, que o façam e que o façam bem feito.

Muitas vezes, os grandes projetos nada significam se nos descuidamos das coisas mais simples. É possível ter o melhor CT do Brasil, o Estádio mais moderno da América Latina e a equipe de futebol mais respeitada na América. Uma coisa não elimina a outra. Um clube de futebol é, antes de mais nada, um clube de futebol. Não adianta querer ter a melhor estrutura se não tiver também o melhor time. Como nos ensina um provérbio chinês: Não basta dirigir-se ao rio com a intenção de pescar peixes; é preciso levar também a rede. Sem a rede não há peixe. Sem o time não há clube.


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