Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Vaias verdadeiras

16/08/2007


Existe um tipo de vaia para a qual não se pode ficar indiferente. A vaia que ecoou Baixada afora ao apito final do árbitro foi mais que um simples apupo. Foi uma vaia sofrida, consternada, doída aos ossos. Uma vaia justa e sincera, cortante, verdadeira. O Atlético Paranaense não merece a vaia, mas o que representou o Furacão nesta quinta mereceu e muito.

Existem algumas verdades as quais não se pode ignorar. O gol, o resultado, a vitória. A derrota, por mais que decorrência do esporte, com toda a sua naturalidade, não pode ser permitida em determinadas circunstâncias. É o momento de se medir o tamanho do estrago que algumas derrotas têm causado no andamento do projeto de crescimento atleticano, que é sem dúvida estupendo, mas que terá dificuldades de se comprovar eficiente com os fracassos em cadeia que têm acontecido dentro de campo, principalmente dentro do nosso bunker, nosso território, a nossa Baixada.

Não que o time tenha sido bisonho em campo, não foi. Não que o Vasco da Gama não seja uma boa equipe, pois a é, muito boa, justifica a posição que ocupa no certame nacional. É que o Atlético Paranaense também deve ser bom, sempre, é isso que se deseja simplesmente porque o vimos lá em cima e sabemos que ele pode alçar vôos mais altos. Ninguém pode esperar que o time entre no campeonato e simplesmente o vença, há outros times com condições de conquistas. Mas o que se pode esperar é um Atlético competitivo, menos frágil do que se mostrou em vários momentos do jogo contra o time luso-brasileiro.

A falta de títulos expressivos em um período não depõem contra uma agremiação, muitos times grandes como o Atlético já passaram por isso, mas fragilidades gritantes em certos momentos, sim. O projeto de futuro atleticano não deixa de ser brilhante por um ano sem conquistas, mas derrotas marcantes em nossa própria casa abrem lacunas para os questionamentos dos torcedores, nem sempre com mesura nas palavras e atitudes. Não se pode deixar um projeto tão grandioso e correto afundar, é preciso uma atitude para que reputações não sejam arranhadas, ideais não sejam esquecidos, currículos não sejam manchados, para que o futuro que muitos vêem, como eu, de um clube grande, moderno, auto-suficiente, estruturado e vencedor nacional e internacionalmente, aconteça.

Isto não é um desabafo, não uso este espaço nobre para vir aqui ofender pessoas, bufar ou praguejar contra irmãos de cores. Não faço desafios a quem pensa diferente de mim e nunca deixo de dar a minha opinião com educação àqueles que me dão a honra da leitura.

Isto é um alerta, de alguém que tem propriedade de causa, por ter tanto defendido e continuar a defender com vigor esta mesma causa, que é o projeto iniciado em 1995 que transformou a vida de uma nação e mudou o destino de uma agremiação histórica e popular como é o Atlético Paranaense, que ensinou o Brasil que o caminho do futebol é pelo profissionalismo, que revelou que existem dirigentes que são comprometidos com os novos caminhos do esporte e que desejam a evolução, que mostrou que com trabalho, eficiência e honestidade se pode chagar ao longe, muito mais que imaginaríamos há doze anos, com resultados indiscutíveis dentro e fora de campo. O projeto é apaixonante, mas encontra pelo caminho verdades fundamentadas em conceitos extremamente pragmáticos, como a vitória, a derrota e a momentânea fraqueza diante de clubes que seguem caminhos obsoletos em suas trilhas de afirmação.

Não deixem este projeto fracassar por esta seqüência de vaias merecidas. Merecidas neste momento, não por tudo feito nos últimos anos, mas merecidas. Merecidas por estes jogadores que poderiam fazer mais do que têm feito. Merecidas pelo ataque inexpressivo e moroso que temos, longe da tradição aguda e venenosa de nossos atacantes que nestes doze anos de projeto balançaram os barbantes na Arena e por aí algures, Paulo Rink, Oséas, Lucas, Kléber, o monumental e inoxidável Alex, Lima, Washington. Falando neste último, por que não? Há um coração que bomba de admiração e gratidão de ambos os lados, o da torcida e o do jogador. Lima, por que não? O respeito que ele tem pelo Atlético, demonstrou no clube e vestindo a camisa de outro.

Mas há algumas atitudes que sempre devem ser tomadas durante o curso de uma toada que visa um ponto futuro, pelo bem de tudo o que foi construído. Não se pode tapar os ouvidos totalmente ao clamor que vem daqueles que contribuem com o time, estão no estádio, mesmo numa fase canhestra com a que temos passado. Reafirmo, este clamor nem sempre é bem direcionado, respeitoso, mas tem que ser, no mínimo, ouvido. Às vezes é exagerado, como muitas e muitas vezes foi. Mas este clamor faz parte de tudo aquilo que se chama Atlético Paranaense, faz parte de um povo que não começou a torcer anteontem, que viu o bom e o ruim em sua história e que agora e sempre quer que o time não seja batido tão facilmente.

O problema no ataque após a venda de Dênis Marques e a perda de Alex Mineiro é brutal. Nosso goleiro titular é franzino e de eficiência questionável. Estamos praticamente dando adeus a um campeonato interessante e rentável. Só existe um jeito de resolver o time, a situação no campeonato brasileiro, a insatisfação contagiante da torcida e devolver a identidade de time matador ao Atlético. A contratação de um grande atacante, um que resolva e não deixe o meio campo municiar o vazio como vem fazendo e que compense eventuais e corriqueiras falhas de zaga. A janela de transferências está aberta.

Uma boa novidade no time urge. Pelo projeto. Pelo futuro. Pelo Atlético Paranaense.


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