Sérgio Tavares Filho

Sérgio Juarez Tavares Filho, 45 anos, é jornalista e morou até os 12 anos em Matinhos, litoral do Paraná. Acompanha o Atlético desde que nasceu e vive numa família 100% rubro-negra. Até os cachorros se chamam Furacão e Furacão Júnior. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2009.

 

 

O futebol sem graça

12/08/2007


O problema não é só do Atlético. É do futebol como um todo. O nível técnico do Campeonato Brasileiro é o pior dos últimos 15 anos. Não lembro de tanta desmotivação por parte dos torcedores não só rubro-negros mas como a maioria que ainda se dispõe a vestir a camisa de qualquer clube. Os técnicos da atualidade são retranqueiros, não ousam, povoam o meio de volantes quebradores e nada criativos, os laterais hoje querem ser chamados de alas mas não atacam, os zagueiros não conseguem tirar uma bola aérea da grande área e os atacantes não sabem finalizar.

A arbitragem mais erra do que acerta. A cada jogada mais firme o apito na boca á solução encontrada para parar o que poderia ser levado adiante com uma vantagem. Quando a vantagem acontece, a falta que deveria de ser marcada é esquecida. O são-paulino Borges deve erguer as mãos para os céus por não ter sido expulso no sábado. Lembrar de Tcheco e de Gavillan é desnecessário. Os auxiliares fazem o possível para manter a disciplina, mas esquecem da regra básica da Fifa. "Na dúvida, deixe seguir a jogada". E assim um gol de empate do Atlético poderia ser convertido no Morumbi.

A média de público na Kyocera Arena é uma das mais baixas da história recente do nosso clube. Excetuando-se Sport, Cruzeiro, Grêmio, Corinthians, Botafogo e Palmeiras, ninguém mais ultrapassou a média dos 15 mil pagantes nos jogos em casa. Até o milionário time do Santos aparece grudado com o Atlético com pouco mais de 6 mil pessoas por jogo. O problema é o preço do ingresso? Pelo que temos visto nos gramados pode até ser. O espetáculo oferecido neste brasileiro não condiz com o futebol pentacampeão mundial. O alto valor das entradas também desmotiva quem gostaria de ver uma partida na companhia dos dois filhos pequenos e da esposa. O programa do estádio é trocado por um almoço em Santa Felicidade, Copacabana ou em qualquer vila de São Paulo.

Os empresários cercaram os negócios da bola. O garoto de 16 anos que tem idade para atuar mais quatro nos juniores já tem assessoria de imprensa, amigo para amaciar a chuteira, uma namorada a cada quinze dias, site para mostrar uma jogada diferenciada e uma malandragem desnecessária para seguir nos campos de futebol. Alguns já passaram por seleções de base e voltam mais estrelas para os clubes. Uma chamada de atenção mais rígida do treinador ou do dirigente transforma-se em corpo mole em campo. O excesso de mídia, a transformação do bagre em craque é outro fator que sobe na cabeça de quem ainda dá os primeiros passos na carreira e já pensa que é rei.

O futebol que conhecíamos não vai voltar. Não adianta os saudosistas baterem na tecla de que "antigamente era muito melhor" porque essa época expirou. O futebol virou negócio, sim. Mas ainda sou otimista de que encontraremos a nossa maneira de torcer como antes.

Quem sabe com o anúncio da Copa do Mundo no Brasil a gente volte a sorrir e a mostrar algo mais decente do que assistimos na versão 2007 do brasileiro. Por enquanto tudo está sem graça e o problema não é só do Atlético.


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