Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Carinho

06/08/2007


O jogador Claiton veio à público dizer que o time precisa do carinho da torcida. Bom, primeiro eu gostaria de falar especificamente sobre este pedido.

Nos últimos dias, tivemos inúmeros problemas para escalar o time. Seja por contusão, suspensão, negociação, acidente ou problemas pessoais. Por necessidade, jogamos partidas com um time formado com a base dos juniores, quando os juniores deveriam compor o elenco e não ser a viga mestra deste. Um dos atletas, o Alan Bahia, viveu um acidente em que houve um falecimento de um amigo, que inclusive jogou no Atlético. Numa carnificina em Porto Alegre, pessoas que camuflam ambigüidade sexual com um tal de "futebol viril", fizeram como vítimas os dentes da boca do jovem Evandro e a face do maior herói a ter vestido a peita Rubro-negra em todos os tempos, o homem de aço, o guerreiro, o amigo, Alex Mineiro. A referência máxima deste time teve seu rosto triturado. Sua face agora é de titânio. Alguns juram que o que implantaram foi adamantium.

Futebol é momento, futebol é resultado e a ânsia por ver o time bem, que é de todos, minha e de todos os atleticanos, pode transformar alguns em cobradores insensíveis. Faz tempo que eu não via uma uruca generalizada se abatendo sobre o meu, o seu, o nosso Furacão. Há de se ter compreensão que uma profusão de incidentes nos levaram ao atual estado de coisas. O time está inseguro e ansioso como nós. Garanto que desejariam ver o jogo de sábado acabar assim que o juiz apitou o fim do primeiro tempo. São humanos, não são máquinas. E por serem humanos, não funcionam única e exclusivamente pelo ofício. É aí que entra o carinho.

Bueno, antes que venham me dizer que eu estou querendo passar a mão na cabeça dos bem pagos jogadores atleticanos, deixa eu ir mais adiante um pouco.

Quem precisa de carinho é o Atlético Paranaense. Ele é para quem direcionamos nosso amor, carinho. Os atletas são parte deste. Se os atletas pedem carinho e compreensão, por mais espumante que esteja a boca de alguns torcedores, devemos dar. Mas aí é que chega um ponto importante: carinho deve ser recíproco. O carinho que receberem, os jogadores têm que dar de volta com dedicação a mais, superação e coração no bico da chuteira. Honrar o carinho que vem das arquibancadas.

Falando em torcida, é importante que esta saiba expressar o amor que sente pelo Atlético Paranaense de forma mais clara. É preciso reconhecer que ultimamente se tornou especialista em cobrar excessivamente, irritar-se a qualquer toque, em achar culpados e desculpas para não comparecer, apedrejar ao invés de torcer. Parte dos torcedores, óbvio, é bom frisar. Mas esta mesma parte fraca da torcida atleticana gritou olé contra o time em plena Baixada. Uma das coisas mais bizarras que eu já presenciei em meus trinta e quatro anos de atleticano. Nada justifica uma falta de carinho tão grande às nossas cores e à nossa história. Mas alguns podem até arranjar motivo, "pô, três a zero em casa...". Muitos, como eu reafirmam: nada, nada justifica esta punhalada.

Algumas pessoas escolheram o culpado máximo por este estado atual do time: Mário Celso Petraglia. Bem, ele é o presidente, "está dono" do clube até, de acordo com as leis do Atlético Paranaense, o fim do ano, é do cargo receber a responsabilidade. Eu, pessoalmente, vejo mais coisas boas feitas por ele do que coisas ruins, e gostaria que ele ficasse no clube por mais tempo, até que o nosso projeto de conclusão do estádio esteja concluído. Mas isso é minha opinião, alguns concordam, outros não, assim é a vida. Bem verdade é que falta uma reciprocidade de carinho entre o Mário Celso e a torcida. Da parte de alguns torcedores, falta respeito àquele que já é o maior dirigente atleticano de todos os tempos, aquele que nos ergueu das cinzas, nos deu a possibilidade de conquistar títulos e renovou nosso orgulho. Da parte do Mário, falta uma compreensão dos anseios da torcida como um todo, medir algumas palavras que cortam os ouvidos, por mais que este não seja o seu estilo de ser. É preciso mais sensibilidade nesse trato, a sensibilidade que também é qualidade dos grandes líderes.

Por mais que seja "do jogo" uma queda para a segunda divisão, uma possibilidade que todos os times que participam deste difícil campeonato têm, esta consciência excessivamente pragmática não deve ser externada por alguém que esteja no comando, com os títeres das emoções de tanta gente às mãos. A sinceridade do Petraglia às vezes joga contra o próprio. Para ter carinho, é preciso oferecer carinho. Às vezes, uma palavra certa basta.

Mas a diretoria trabalhou, manteve à duras penas o Alex Mineiro resistindo ao imenso assédio a esse craque e em troca o clube recebeu, até onde eu sei, míseras trinta associações, uma vergonha, algo que faz a gente entender alguns desabafos dos mandatários.

O clube está trazendo reforços e ainda temos um segundo turno inteiro pela frente, no qual, historicamente o Atlético é melhor. Há alento, há tempo, há possibilidades reais de melhora. Mas é preciso cada um fazer sua parte. Não adianta ficar chorando pelo leite derramado.

Gosto de ver o estádio cheio, mas sinceramente, neste momento, é melhor ter menos caboclos lá, mas torcendo positivamente, do que uma multidão corneteando. Precisamos de Rubro-negros dando o carinho necessário para o Atlético sair dessa e transformando os jogos em casa numa corrente positiva que se estende também aos jogos fora de casa. Não adianta, tem que ser assim, pra espantar a zica, chutar a uruca, detonar a nhaca.

Hoje em dia parece que tem gente torcendo contra só para provar seus pontos de vista, sua "oposição". Como se alguém como eu, que exponho um outro ponto de vista torcesse pra diretoria, não para o Clube Atlético Paranaense. Sou pró-Atlético. Eu tendo, na minha ingenuidade cândida, a achar que todos querem o bem do Atlético, alguns expressando de um jeito, outros, de outro. Mas alguns têm a sanha de criar inimigos, gostam de arranjar alguém pra chamar de satanás. Hoje em dia, têm gente que me vê como inimigo só por dizer o que eu penso e ser dissonante de alguns. Eu, uma parte microscópica neste universo chamado Atlético. Uns dividem o Atlético em "petraglistas" e "não petraglistas". Pero somos todos atleticanos e precisamos de união também nos momentos de dificuldade, seja lá o que pensamos a respeito do clube.

A torcida do Atlético eu conheço. Eu sei como ela é, já a vi incandescente. Não é essa torcida enfraquecida pela mente poluída de alguns. Os trouxas que gritaram olé para o time uma vez debilitam a força dessa torcida. Estes, sim, são uma falácia. Os que desistem de participar da vida do clube dizendo "com esse time não vou mais...", são uma falácia. Estes caras não sabem dar carinho. Se, por exemplo, seus filhos fizerem algo errado, ao invés de orientar e dar carinho, descem o cacete. Com estes não tem meio termo, cumpram as exigências do seu ego ou senão a porrada vai correr.

O Clube Atlético Paranaense precisa de carinho. Agora. Este é o único modo de não cairmos. Eu não quero cair pra segunda divisão. Eu digo não à segundona. Carinho já.

Nosso time sangrou de verdade nos últimos tempos e essa fase negra teve até um mártir: o imortal, o inoxidável Alex Mineiro. Vamos estancar essa hemorragia, vamos cuidar de quem a gente ama. Vamos estar ao lado do Atlético com todo o carinho que ele merece.

Obrigado ao Claiton pela pauta, mesmo que involuntária.


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