Carlos Antunes

Carlos Roberto Antunes dos Santos, 79 anos, é professor de História e foi Reitor da Universidade Federal do Paraná entre 1998 e 2002. Filho do ex-treinador Ruy Castro dos Santos, o famoso Motorzinho, técnico que criou o célebre Furacão de 1949. Nos anos 50 e 60, jogou nos juvenis do Atlético, sagrando-se bicampeão paranaense. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.

 

 

Da síndrome do Titanic ao estigma do Íbis

06/08/2007


A fase negativa que atravessa o Atlético só parece piorar, face aos péssimos resultados alcançados em campo, aos problemas médicos e psicológicos que vivem os seus mais importantes jogadores, e à falta de perspectivas para a recuperação. Em campo as apresentações do time continuam em fase descendente, ladeiras abaixo, e abaixo de qualquer crítica. Todos juntos, de mãos dadas, celeremente, marchamos pra a segunda divisão. Se o Brasileirão, fases “A” e “B”, terminasse hoje, com Flamengo cumprindo o mesmo número de partidas já jogadas pelo CAP, estaríamos praticamente rebaixados, com os coxas ocupando o nosso lugar na Divisão Especial. A verdade hoje dói, mas é impossível dar as costas a esta realidade, iludindo principalmente as crianças, os futuros torcedores atleticanos, que precisam de resultados positivos para ostentar com muito orgulho o “ser rubro-negro”, recheado de história e tradição. A torcida como um todo diante desta dura situação se vê, como na música do Chico Buarque, “falando de lado e olhando pro chão”.

Recentemente, em entrevistas concedidas a órgãos da imprensa, o Dr. Petraglia afirmou estar dono e agir como dono do Clube e que a prioridade atual é dotar o CAP de infra-estrutura, a melhor do Brasil, sendo taxativo: “no momento em que tivermos toda a infra-estrutura, vamos nos voltar exclusivamente ao futebol”. Há de se reconhecer que o Dr. Mario Celso Petraglia tem uma longa folha de serviços dedicada ao CAP, isso é indiscutível, e, portanto, muito devemos a ele, desde aqueles famosos 5 a 1 que levamos do Coritiba F.C. De lá para cá, o Atlético deixou de ser apenas um time de futebol e se constituiu num verdadeiro Clube. Entretanto, diante de toda esta situação de futebol medíocre que praticamos hoje, a sensação que se tem é que estamos voltando àquela triste fase que culminou com os 5 a 1. É óbvio que há uma diferença: hoje o CAP tem uma das melhores estruturas de Clubes no Brasil. Mas todo o clube de futebol vive de resultados alcançados dentro de campo, como outros colunistas já expressaram o mesmo, aqui neste espaço da Furacao.com. Neste sentido, de pouco vale um aparato de riquezas materiais, em moldes empresariais, se teremos de enfrentar o Ji-Paraná na próxima fase do Brasileirão. Desta forma, metaforizando a nossa situação, é importante termos a aparato do Titanic (o melhor transatlântico do início do séc. XX), e não a síndrome do desastre, pois necessitamos chegar ao porto seguro e não soçobrarmos nesta viagem. Um clube vive de resultados positivos dentro de campo e se agiganta com isso. À exceção do Íbis, de Pernambuco, cujos resultados de derrota são necessários para lhe afirmar cada vez mais a identidade de pior clube do mundo. Nesse sentido, o estigma do Íbis é sobreviver de suas derrotas. Nós atleticanos não podemos nos acostumar com derrotas, péssimas campanhas e viver cotidianamente com a imagem do rebaixamento. Mais preocupante ainda é a opinião do Dr. Petraglia que, intrinsecamente, admite o rebaixamento, quando afirma que “não pode é cair e ficar. Isso comprova que o time é pequeno, quando o time vai e fica. Hoje isso não acontece mais com o Atlético. Além do risco de cair ser extremamente pequeno, mas existe essa probabilidade, a probabilidade do Atlético Paranaense voltar é infinitamente maior do que qualquer outro timinho que está aí remando tentando voltar e não consegue".

Que fazer para sair desta situação, antes de começar o returno? Dando asas à imaginação e de olho na estatística e na matemática, entendo que, três pontos devem ser considerados: 1) não podendo contar mais com o Alex Mineiro, buscar um goleador, que, talvez, nos mate as saudades do Washington; 2) além do Ramon, buscar um craque de meio do campo que possa reconstruir o caminho dos céus, tipo Jadson ou Fernandinho (buscar nas categorias de base e aprimorá-lo, jogando); 3) não podemos apenas torcer para que a equipe não caia para a Segunda Divisão. Na verdade, temos que exigir time para disputar títulos que desde 2005 desapareceram do nosso cotidiano. Enfim, basta o CAP dar uma pequena demonstração de recuperação, que a torcida voltará ao estádio e fará a sua parte, numa firme demonstração de paixão por uma camisa que dentro e fora de campo “só se veste por amor”.


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