Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Futebol é pra homem

30/07/2007


“Futebol é pra homem” – foi isso que aprendi com o meu avô. Lembro-me que ao ensinamento ele acrescentou “e deve ser praticado com lealdade”. Na época, eu já tinha noção do que fosse o futebol, mas não sabia o que era lealdade. Daí meu avô, em suas palavras simples, disse-me que lealdade era “jogar limpo, na bola, sem machucar o adversário”. Aí eu entendi, pra sempre.

Meu avô morreu antes de ver o advento do futebol feminino e das mulheres em geral no futebol. Por isso, hoje, completo a lição: “Futebol é pra homem, pra mulher, pra menino e pra menina, e deve ser sempre praticado com lealdade”. Agora, sim, a lição está completa, e eu espero, presunçosamente, que seja entendida pra sempre, apesar de minhas palavras simples.

Infelizmente, o que a gente viu no último sábado no gramado do Olímpico, em Porto Alegre, foi um festival de bordoadas, violência gratuita e arruaça protagonizado pelo time do Grêmio que, esquecido de jogar futebol, partiu para uma luta-livre inadmissível aos olhos e ao juízo de qualquer cidadão de bom senso e só admitida pelo covarde apitador catarinense chamado Paulo Henrique de Godoy Bezerra.

Conforme noticiado pela Furacao.com, em texto de lavra de Patrícia Bahr, “o atacante Alex Mineiro e o meia Evandro não retornaram para Curitiba junto com a delegação atleticana na manhã de domingo, por terem sido vítimas da violência do time do Grêmio no jogo de sábado, no Olímpico. Os dois jogadores ficaram em Porto Alegre, junto com o diretor de futebol, Oscar Yamato, realizando exames no hospital Mãe de Deus.

O departamento médico do Atlético não confirmou ainda a gravidade das lesões sofridas por ambos. Alex recebeu um chute no rosto do volante Tcheco, quando tentava cabecear a bola, e há suspeita de fratura do nariz. Já Evandro recebeu uma covarde cotovelada de Gavillán, perdendo um dente e quebrando outros três. Apesar da violência, covardia e deslealdade dos dois lances, o árbitro Paulo Henrique de Godoy Bezerra nem sequer advertiu verbalmente os atletas gremistas”.

A notícia causa revolta a qualquer desportista minimamente sério. A nós, atleticanos, a revolta é ainda maior posto que o Atlético, sempre que recebeu seus adversários na Arena, jamais protagonizou atos dessa natureza, tendo se notabilizado, na derrota ou na vitória, pelo jogo leal, limpo, praticado no melhor estilo que consagrou o jeito bonito de o brasileiro jogar o esporte bretão. Sempre jogamos firme – como nos tempos de Cocito – mas essa firmeza nunca se traduziu em lesões como as sofridas por nossos atletas, na triste tarde-noite fria em Porto Alegre.

Sempre que fomos visitantes, jogamos firme, mas na bola, e com isso obtivemos resultados que surpreenderam a muitos, mas que para nós foram naturais, pois fizeram parte de um time em franca ascensão no cenário futebolístico nacional. Como visitantes, jogando limpo, metemos 5 a 0 no Corinthians, dentro do Pacaembu, em 2004; e enfiamos 5 a 1 no Grêmio, no palco do Olímpico, em 2002, numa já distante e extinta Copa Sul-Minas. Nesses shows de bola, nunca tivemos de recorrer à selvageria e às botinadas, coisa que vocês fizeram no sábado, sem nenhum pudor, frise-se.

É triste ver um time grande como o Grêmio se valer de tanta pancada – dentro de casa – acreditando estar jogando com raça ou acreditando estar representando a Escola Gaúcha de Futebol. Aos que pensam que o que foi mostrado no sábado é raça ou Escola Gaúcha, lembro que a Escola Gaúcha de Futebol - a boa, a legítima, a leal, a verdadeira, a admirável – surgiu com um dos grandes estrategistas do futebol brasileiro: Rubens Minelli, bicampeão brasileiro 75/76 com o Internacional e seus cracaços (Figueroa, Hermínio, Chico Fraga, Caçapava, Falcão, Carpegiani, Valdomiro, Batista, dentre outros).

A boa Escola Gaúcha teve continuidade com Ênio Andrade e seu Internacional campeão brasileiro invicto, em 1979, e teve momento exponencial com um inesquecível Grêmio de: Mazzaropi, Paulo Roberto, Baidek, De Leon, Casemiro, China, Bonamigo, César, Tita (pra quem já teve Tita, como se conformar com Tuta?), Oswaldo, Caio, Renato Gaúcho e Tarciso, todos sob o comando do então promissor Valdir Espinosa. Mais recentemente a Escola Gaúcha produziu o melhor jogador do Mundo –Ronaldinho Gaúcho – forjado aí mesmo no Olímpico, palco do inaceitável show de horrores de sábado (e olha que tanta “raça” só foi capaz de dar ao Grêmio um simples empate contra um time numericamente inferiorizado em campo. A VIOLÊNCIA, QUASE CRIMINOSA, NÃO COMPENSA, E O MEDÍOCRE EMPATE DE SÁBADO FOI - E É - PROVA DISSO).

É triste ver o Grêmio, de tantas tradições, abdicando de jogar futebol para promover o antijogo, o antifutebol e a covardia ingredientes que nunca estiveram presentes no bom futebol gaúcho que, de tão bom, eficiente e competitivo, chegou a fundar uma Escola – a Escola Gaúcha de Futebol.

“Futebol é pra homem, mas deve ser praticado, sempre, com lealdade”, nunca é demais relembrar esse ensinamento, pois talvez seja essa a grande lição de algo que poderá ser chamado Escola Paranaense de Futebol, feita de homens, mulheres, meninos e meninas que há muito tempo aprenderam que o futebol é esporte pra jogar limpo, na bola, sem machucar o adversário. Foi assim que enfiamos 5 a 1 – de virada - no Grêmio, em 2002, numa tarde de sábado no Estádio Olímpico, numa inesquecível tarde onde houve futebol, dos bons, e não a selvageria vista nesse último confronto, nesse último sábado que deve ser esquecido, para o bem do futebol brasileiro – desde que ninguém esqueça de punir – exemplarmente – os autores de tantas barbaridades.

Com a palavra, doravante, as autoridades da CBF e do STJD, se é que elas existem. Esperamos e exigimos punições. No Paraná, também há homens - e mulheres, meninos e meninas - que exigem respeito às suas coisas e às suas Instituições. No Paraná, existem homens - e mulheres, meninos e meninas - que exigem respeito e JUSTIÇA!


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