Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Um adeus. Ou até logo?

27/07/2007


“Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz Não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai”


Sou saudosista por natureza. E não porque esteja ficando velho, ranzinza e cheio de manias inerentes aos solitários, mas sempre fui muito apegado às coisas boas, lembranças e saudades de um tempo que não volta mais. Por vezes qualidade, isso pode também se tornar maléfico.

Não peguei muito a fase delas, mas tinha muita gente em meu primeiro emprego há mais de uma década atrás que dizia nunca abandonar as Remmington ou suas sagradas Olivetti. Computador? Que é isso? Sou contra essa invasão yankee em nossa cultura do TÉC TÉC TÉC das máquinas de datilografar! Lembro ainda da novidade, o cd. Da praticidade do tamanho equivalente a uma fita cassete à comodidade de pular direto para a faixa desejada como num LP. Era bem caro e ainda lembro de ir na casa de amigos mais abastados e gravar numa fita as músicas que mais gostava nos cd alugados. Tudo novidade, diferente, estranho...

Depois veio a invasão dos dvd´s em substituição aos vídeo cassetes. Olha, que quase apostava que dessa vez o antigo iria continuar firme e que demoraria mais tempo para que a novidade pegasse. Agora, inclusive com portáteis aparelhos, leitura de várias mídias e principalmente com a possibilidade de gravar dvd´s, o antigo cassete já tem seus dias contados.

E isso aconteceu com o telex, substituído pelo fax que já deu lugar ao e-mail, ocorreu também com o pager que teve suas poucas utilidades substituídas pelo multiuso aparelho celular e diversos outros inventos que substituíram o que achávamos insubstituível. Sempre para melhor, hei de concordar.

E essa modernidade chegou ao futebol. Conforto, comodidade, segurança nos estádios para resgatar a classe média, a família para o seio do clube de futebol. Centros de treinamento bem equipados, tecnologias, invencionices e cientificismo russo para o clube, uniformes que não soltam transpiração, dilatador nasal, chuteiras feitas com material de naves espaciais, bolas projetadas em túneis de vento e ....ingressos caros.

Acho que o errado sou eu que ainda, romântico que sou, acredito no amor à camisa, no poder de uma torcida inflamada, no coração no bico da chuteira, na galera que ajuda o time a virar uma partida. Talvez tenha parado no tempo, esperando que alguém me mande uma carta, sim, aquela coisa que vem num envelope, geralmente branco e com um selo comemorativo a alguma coisa e que chega pelas mãos do simpático (menos aos cães) carteiro, me convocando para voltar à Baixada.

O Atlético está deixando de existir e dando lugar, passo a passo, para o novo projeto dessa competente direção do CAparanaense. Não discuto a evolução que tivemos, mas confesso que o ruim da história aqui deva ser eu, que do alto da minha limitada visão, de minha insignificância perante o que é o futebol moderno, não consegui enxergar que agora as coisas são assim. Esse é o preço do modernismo.

Para uns um estádio frio; para outros um local mais civilizado. Para uns uma torcida chata a exigente; para outros são os apreciadores de espetáculo, os consumidores em potencial. Para uns, o jogador, mesmo que limitado de luta e raça, dedicação ao clube que lhes empresta a camisa; para outros um produto a ser bem explorado e fonte inesgotável de lucro para brilhar nos balanços anuais do clube.

Desejo sorte ao CAparanaense, agremiação que não conta com minha simpatia. Sou saudosista, confessei lá em cima e sinto saudade do Atlético. Mas o errado pode ser que seja eu, mas por enquanto pelo menos, os resultados desse empreendimento tem sido um fracasso, ao contrário das novas invenções que tiraram do palco seus antecessores. Por enquanto, me lembra mais o telefone por satélite Iridium, trazido no Brasil pela Inepar, lembram? Mico mundial!

Me despeço aqui com um adeus. Não, não... adeus é muito forte, é muito longo, talvez sem volta. Dou um tchau, na esperança que ao menos quando o fundo do poço for atingido, se lembrem dos milhares de torcedores, doentes, fanáticos do Atlético que simplesmente querem ajudar o Furacão a renascer. Boa sorte ao CAparanaense.

“Não quero mais esse negócio
De você viver assim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim...”
trechos de Chega de Saudade , a mãe da Bossa Nova, composta pelos imortais e poetas Vinicius de Moraes e pelo maestro Antonio Carlos Jobim


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