José Henrique de Faria

José Henrique de Faria, 74 anos, é economista, com Doutorado em Administração e Pós-Doutorado em Labor Relations nos EUA. Compareceu ao primeiro jogo do Clube Atlético Paranaense em 1950, no colo de seu pai. Seu orgulho é pertencer a uma família de atleticanos e ter mantido a tradição. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.

 

 

No limite

13/07/2007


Vasco, Botafogo, Náutico. Não sei como cada um deve se sentir, mas confesso que eu estou no meu limite. A cada jogo, mais do que uma decepção, uma vergonha. Um time sem estratégia de jogo, sem esquema, sem qualidade, sem vontade. Sai Vadão e entra Lopes. E daí? O que mudou?

Mudaram as desculpas.

Estamos desfalcados, dizem. Mas, um time que não tem reservas a altura não é um time, é uma caricatura. O lateral direito está no Departamento Médico. Mas, sinceramente, quem é o lateral direito? Que diferença faz, para o time, ele jogar ou não? O mesmo vale para o lateral esquerdo, para a zaga, para os volantes e até para o ataque. Há algo de muito errado no ar. Chego a desconfiar da alegada competência da equipe técnica. Digo "desconfiar" por educação. Na verdade, não acredito mais. Existem jogadores que não possuem condições mínimas de jogar pelo Clube Atlético Paranaense. Talvez jogassem no Atlético de Ibirama, com todo o respeito. Eu achava que o problema era a teimosia do Vadão em escalar estes jogadores. Mas, chega o experiente "delegado" e tudo continua na mesma. Quem viu o jogo contra o Náutico não pode ter ficado conformado com o que viu. Foi triste, para dizer o mínimo.

Assim como foi triste ver o jogo contra o Botafogo e contra o Vasco. Não falo do resultado, mas do desempenho do Clube Atlético Paranaense. Tenho a sofrível certeza de que se este time estivesse disputando a segunda divisão, o mesmo não se classificaria. No jogo contra o Vasco, um gol aos 40 minutos do segundo tempo não refletiu apenas uma derrota, mas uma incompetência generalizada. Podemos até falar que o zagueiro parecia um poste, marcando o atacante que cabeceou para fazer o gol sem nenhuma pressão. Mas, isto pouco importa. O Vasco, que jogou como um time incompetente, não merecia vencer, Mas, o Atlético Paranaense, que atuou com uma plena mediocridade, merecia perder. Ao final o resultado foi: Incompetente 1 x 0 Medíocre. O Clube Atlético Paranaense jogou como um time de segunda divisão. Sem alma, sem raça, sem qualidade. Medíocre esforçado é mais trágico do que incompetente mercenário.

Sei que é doloroso admitir, mas é preciso. Não ganhamos fora e nem na Arena. Não fazemos diferença. Somos candidatos a fazer companhia a uma outra agremiação cuja sede é na Rua Mauá. O projeto grandioso do Atlético Paranaense não se efetivará sem um time de futebol igualmente grandioso. A julgar pela mediocridade do time de futebol, o projeto do Atlético Paranaense está em risco. Que me desculpem os admiradores dos profissionais responsáveis pelo futebol do Atlético Paranaense, mas assim não dá mais! Trocamos seis por meia dúzia em termos de técnico e equipe. Eu mesmo, em artigo nesta coluna, defendi a substituição do Vadão por outro profissional. Mantenho a opinião. Mas, este outro profissional, Antonio Lopes, não alterou em nada a situação. A equipe de jogadores é ruim, exceto alguns heróis, o que poderia aliviar a responsabilidade do "delegado". Mas, a escalação continua desastrada, o esquema de jogo inexiste, o espírito de luta é uma fantasia.

Quando alguém nos diz, em nossa profissão, que somos esforçados, o que sentimos? Orgulho? Não, sentimos vergonha. Infelizmente, é necessário que a situação se transforme em tragédia para chamar a atenção e clamar por providências que não são tomadas, porque todo o aparato institucional é um receptáculo de acomodação. Sendo a tragédia a referência do constrangimento, espera-se que a mesma se transforme em atitude, porque o "deixar como está" é o primeiro passo para ficar como era.

Objetivamente, o Clube Atlético Paranaense precisa de jogadores de qualidade, para serem dirigidos por treinadores de qualidade. Atualmente, sequer disputamos o sofrível Campeonato Paranaense e não passamos das fases básicas da Copa do Brasil. Enquanto insistirmos com alas que são apenas razoáveis laterais, zagueiros que são entusiasmados defensores, cabeças de área de não passam de cabeças de bagre, volantes que são apenas medíocres meias canchas e atacantes que são especialistas em ataques de riso, teremos nosso destino atrelado "à lanterna dos afogados".

Ir aos jogos do Atlético Paranaense ou simplesmente acompanhar pela televisão, está se tornando uma tarefa insuportável, sofrida, decepcionante, irritante. Para mim, chega. Estou no meu limite. Quando perdemos o prazer de ir ao estádio e torcer pelo nosso Atlético Paranaense, quando sentimos vergonha, quando não temos sequer um miserável argumento para contrapor aos nossos adversários, é porque chegou a hora de fazer uma revolução. Para mim, esta revolução significa uma limpeza generalizada. Técnico, comissão, jogadores, gestores do futebol. Ou isso, ou a ausência do estádio, a falta de entusiasmo, o desânimo, a desmotivação e, enfim, a absoluta indiferença. Ainda há tempo, mas esse tempo é tão curto e rápido quanto os mais rápidos gatilhos do oeste. Estamos na dependência de um tiro certeiro. Um único.

Vou tirar umas férias. Quase tudo tem limites. Têm limites, especialmente, o sofrimento e a humilhação. Só o mediocrão não pode ser aceito no futebol do Atlético Paranaense. Mas, parece que ele foi contratado.


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