Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Fora Petraglia

10/07/2007


O que é o Clube Atlético Paranaense hoje? Melhor, o que é o Clube Atlético Paranaense doze anos depois? Realmente, há algumas distorções a respeito do que é e do que era o nosso querido Atlético, naturais devido ao tempo e das diferenças de conceitos pessoais que formulam no todo a imagem das coisas.

Para mim, pelo menos no meu coração, o Atlético ainda é o mesmo que conheci sei lá quando. Não tenho memória superdotada para me lembrar quando foi, já que já nasci Rubro-negro. Tenho enfumaçada uma lembrança da antiga Baixada em que se incluem o painel “Uma vez Atlético, sempre Atlético” nas arquibancadas de madeira branca, do ginásio à minha esquerda com um vitral do escudo antigo, dos tijolinhos estreitos e laranjas que eu via quando andava olhando para baixo como toda criança de bem tenra idade, de pessoas vestidas de vermelho e preto passando na minha frente com sacos de pipoca e sacos, sim, sacos de cerveja, e levantando e sentando a cada jogada atleticana na partida que se desenrolava na minha frente. Me assustei com alguns gritos do meu pai e de outros torcedores. Me lembro que comi pipoca num saco plástico. Me alegrei quando todo mundo se alegrou. Deve ser essa a memória da minha primeira vez. É a mais remota que eu tenho. Quando ir à Baixada começou a ser o programa-pai-e-filho que eu mais gostava.

Esses bons momentos têm lugar especial na memória da gente e a tendência a tê-los como uma época em que a gente era mais feliz é natural. A mente humana passa mais tempo no passado e no futuro do que no presente, cientificamente e provada a tese, como ouvi falar um professor de neurolingüística.

Bem, este texto não vai ficar no saudosismo. Não vai falar de como era legal pegar o busão pra ir ao Pinheirão, nem de como era bacana tomar cerveja quente retirada das caixas de cimento preenchidas por barras de gelo. Nem de como era jóia ver o carinha do placar da Baixada dar aquela comemoradinha pelo buraco antes de colocar o número do gol que o Atlético acabara de fazer no espaço vazio. Pão com bife, seboso e gostoso? Nã-nã. Chocolate, coco e manga? Também não. Das auto-brincadeiras com a camisa patrocinada pelo papel higiênico Mili? Necas. Dos grosseirões que já envergaram a peita Rubro-negra e que a gente gostava? Not. De como era legal ver bandeirões de bambu ornados com caveiras e Raul Seixas? Não. Tudo bacana, são memórias guardadas com carinho em um bom lugar na minha alma e na de muita gente. Mas, perdôem-me a longa, mas necessária digressão, não é esse o tema da coluna.

Quero quero aproveitar esse momento de Petraglia sim, Petraglia não, de quero meu Atlético de volta, de quero ser campeão, de quero jogador, de quero bandeirão, de quero pagar déizão, de quero beber no saco plástico, para também dizer o meu “Fora Petraglia”.

Quero falar deste Atlético Paranaense idealizado por Mario Celso Petraglia. Este Atlético renascido. A vida de quem renasce, é naturalmente diferente depois. Este Atlético renascido não pode nem nunca mais será como antes. E é este o preço de um futuro grandioso, a mudança. E é preciso coragem pra mudar. O caminho da transformação foi colocado à nossa frente e quem, fora Petraglia, pode nos manter na toada séria e compromissada com o projeto que estamos trilhando?

Fora Petraglia, quem teria coragem de inovar num terreno como o futebol, em que inovação não é uma palavra que encontre ecos de boas vindas, em que os conceitos são mais conservadores e arcaicos que os da TFP?

Fora Petraglia, quem teria o peito de derrubar um estádio-símbolo, revolucionar as estruturas não só do futebol paranaense, mas brasileiro, colocar o Atlético em disputa com as grandes e tradicionais forças do futebol do país em igualdade de condições?

Fora Petraglia, quem poderia ver na Estância João XXIII o mais moderno centro de treinamentos do país e que revela para o futebol brasileiro e mundial jogadores jovens que vieram de vários lugares, não necessariamente originados no Atlético, mas que saíram do anonimato, ganharam técnica e vigor físico no clube no clube, e que é referência nacional de excelência?

Fora Petraglia, quem poderia, hoje, liderar essa máquina azeitada, com contas em dia? Esta estrutura enorme e que demanda um poder de administração e gerência enormes?

Não estou aqui dizendo que o Mário Celso durará para sempre. Durará apenas na história como o maior de todos os dirigentes do Atlético. Se outros Mários Celsos surgirem, será ótimo para o Atlético.

Mas o clube hoje é diferente de doze, dez, cinco anos atrás. Vem em curva ascendente, sempre, todo ano, algo novo é feito para o clube a fim de torná-lo mais forte. Todo ano, o Atlético vence uma barreira, vence novos adversários, chega a lugares onde nunca chegou, dentro e fora de campo. Quem imaginaria, há alguns anos, o Atlético disputando uma final de Libertadores ou batendo o River Plate em pleno Monumental de Nuñez? Para mim que via o Atlético sofrendo pra ganhar do Batel ou da Platinense ou em agruras para vencer o Coritiba “Foot Ball Club”...

Quem tem capacidade de ser um líder como é Mário Celso, em que todos confiam, todos esperam alguma coisa, mesmo os que não gostam dele?

Fora Petraglia, quem venceria uma disputa com a banda podre do estado e conseguiria provar o lógico em um jogo de interesses cego como foi a indicação da Kyocera Arena como possível sede da Copa do Mundo de 2014? Isso, foi graças a força que representa no estado e fora dele. Essa história ainda rendeu a defenestração do Severiano Olin Milor ed Aruom, o atsiugnup que por muito tempo esteve à frente da federação.

O Atlético Paranaense é uma máquina com centenas de funcionários, uma estrutura grande com a mais alta tecnologia e que depende de muita gente competente para seguir funcionando com elã. É por isso que lá tem muita gente capacitada, mentes inteligentes ao lado do Eme Cê Pê. É um clube que precisa viço financeiro para funcionar. É um clube diferente daquele de modestas instalações, fácil de tocar, com pouca estrutura, poucos funcionários, poucos gastos, poucos horizontes. Os horizontes hoje se alargaram e, os resultados que alcançamos hoje não são mais suficientes para contentar uma gente que ficou exigente demais, impaciente de mais. Entendo, é natural este comportamento.

“Eu quero meu Atlético de volta”, é o mantra do momento. Bem, eu não quero aquele Atlético antigo. Gosto mais desse, respeitado. O Atlético de hoje não é, nem de longe, pior do que aquele que a memória de alguns, sempre seletiva, exalta. Uma vez Atlético, sempre Atlético, dizia naquela parede. Atlético é Atlético. Este de hoje é o Atlético de sempre, apenas está em outra fase da história.

Há algumas coisas que eu acho que poderiam ser melhoradas, como o incremento do espetáculo dos torcedores, uma relação mais próxima dos sócios, uma comunicação mais eficiente com o povo Rubro-negro, mas isso é fácil até de resolver. Mas culpar a diretoria, ou melhor, o Petraglia pelo estádio não ficar lotado de gente todo jogo é tirar o seu da reta. O Atlético é uma missão, um compromisso de todos. Não é um objeto de regozijo, instrumento de diversão, apenas. Há de se ter uma contrapartida. Mas não vou me estender falando disso porque renderia muitas páginas e já escrevi bastante.

O “Fora Petraglia” que alguns começam a entoar a qualquer sinal de complicação, tem que ser melhor pensado. Não estou sendo contrário à iniciativas populares, vivemos num país democrático, não é mesmo?

Mas é bom pensar que o Atlético hoje é um colosso, e pra assumir esse clube tem que segurar a bucha. Falando nisso, nunca vi alguém com tanta capacidade de agüentar porrada como esse Mario Celso. Alguém no lugar dele, eu, você leitor, ou outro, agüentaria tanta?

Fora Petraglia, não vejo, hoje, ninguém em condições de segurar o timão dessa nau em vento forte chamada Atlético. De segurar o rojão, de dar as mesmas idéias originais. Um cara que a gente confie que vai fazer o que promete. Ninguém duvida que a finalização da Kyocera Arena é questão de um, dois anos. Até a questão intrincada que era a do Expoente foi resolvida. Estamos, sim, vivendo um grande momento em nossa história.

Fora Petraglia, quem no estado tem o respeito na cúpula do futebol do país como ele? GG? Miranda?

Fora Petraglia, quem trouxe tanta alegria ao povo atleticano como naqueles maio de 1999, e dezembro de 2001, alguns dos momentos mais marcantes de minha vida?

Fora Petraglia, quem tem tanto senso de administração, de futuro, de realização e ainda tem um senhor sentimento de atleticanismo?

Pode ser que esse outro Petraglia exista. Não duvido. Mas a verdade é que o Atlético hoje não é uma coisa para qualquer aventureiro. A coisa ficou séria e tem que ter cacife pra estar lá.

Se os devaneios de alguns poucos da torcida se realizassem, se outros assumissem, se mesmo grandes atleticanos de um passado recente pegassem o posto, será que a qualidade desse clube teria um decréscimo? Se promessas não fossem atingidas, se as contas começassem a não fechar, esse cara agüentaria o novo nível de exigência da torcida Rubro-negra?

Não basta apenas circo no Atlético de hoje.

Então, vontades inconseqüentes devem ser bem medidas, para não passarem à vista da maioria por caprichos juvenis.

Antes que aquela petizada, a minoria de várias idades e sem argumentos de sempre venha até mim me chamar de “puxa-saco”, “prêibói” ou outras besteiras de gente que não sabe ouvir o que não lhe apetece, peço que se contenham e parem um segundo para refletir.

Entre o querer e o poder existe uma grande distância. E, fora Petraglia, ninguém conseguiu percorrê-la tão bem em todos os oitenta e três anos deste clube.



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