Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Vinagre para as moscas

09/07/2007


Acordo cedo, ainda me recuperando de uma gripe que me derrubou (a propósito, já não se tem dado mais nomes às gripes, mas se a gente quiser batizar esta mais recente, não faltarão nomes no elenco do Atlético para designá-la, pois a danada é muito ruim. Ruim de doer o corpo todo). Enfim, continuando, vou ao computador e faço a minha navegação matinal pela internet, até chegar na coluna do Mafuz. Começo a ler e a indignação me remete de imediato ao processador de texto para escrever estas linhas.

Mafuz fala do orgulho oficial e justamente manifestado, pela lucratividade do Atlético e em seguida, já falando de futebol, afirma que o nosso presidente (o Fleury) disse algo como: sem sócios, sem time! Não li ou ouvi tal coisa de Fleury, mas não tenho motivos para desconfiar do que Mafuz escreve. Considerando o dito como realmente dito, acabo ficando mais indignado com a surpreendente e (pelo menos para mim) inexplicável falta de habilidade destes diretores em vender o Atlético justamente para quem o compraria naturalmente. Sua torcida.

Já faz muito tempo que eu percebi isso. Na verdade, desde aquele episódio do primeiro aumento dos ingressos, quando ao meu ver a diretoria se envolveu em um barraco público simplesmente pela falta de capacidade de se comunicar com os seus torcedores. A partir daí, se pudermos resumir com uma única palavra a relação entre a torcida Atleticana e o Atlético, representado por quem o comanda, esta palavra seria “crise”.

Falta ao tão organizado, bem pensado e lucrativo Atlético de hoje em dia, um setor destinado ao relacionamento com o torcedor. Não se trata só de comunicação, mas sim de relacionamento com torcedores apaixonados, dispostos a amar e odiar de uma hora para outra e durante quase um segundo, como fazem todos os apaixonados.

O Atlético precisa se expressar através de gente que tenha inteligência e sensibilidade suficiente para administrar uma relação de amor e ódio. Gente que tome cuidado para fazer a relação andar, apesar da paixão. Há que se perceber que uma relação conturbada prejudica a todos os Atleticanos: aos que torcem, aos que dirigem e pior, aos que jogam futebol.

O nosso Clube tem penado muito pela relutância de se comunicar. Coisas relativamente simples de serem explicadas têm gerado crises enormes simplesmente por falta de diálogo adequado.

O momento é de se unir à torcida, não de ameaçá-la. O momento é de negociar, pedir, explicar, argumentar, não de impor. O momento é de chorar, lamentar junto, para assim e depois, tornar legítima a comemoração, também conjunta, pela superação das dificuldades.

Quando dou de cara com estas situações, não consigo deixar de me perguntar: afinal, qual é a real intenção da diretoria? Ter a torcida ao seu lado, como historicamente aconteceu, ou ter a torcida sob seu domínio, cooptando com suas decisões, por mais absurdas que possam parecer? Torcedor não é escravo da sua paixão, ao contrário. O torcedor usa a sua paixão pelo time para satisfazer sua necessidade de brilhar, de se transformar em parte das conquistas e sendo assim é precisamente esta sensação de grandeza inigualável, mágica e preciosa, o produto a ser vendido pelo Clube.

Faço uma humilde sugestão aos competentes homens que gerenciam o Atlético. Criem já um canal específico de dialogo honesto com a sua torcida, mostrando a todos nós que ainda existe cumplicidade entre quem é Atleticano e busca o melhor para o Atlético.

De nada adianta o Presidente colocar o desempenho ridículo deste time mal formado como uma vingança contra quem não se associou ainda ao Atlético. Não é assim que se trata o ser amado, ou para se fazer entender por aqueles que não gostam de misturar paixão com negócios, não se atrai mosca com vinagre.

Dedico esta coluna ao meu primo e antes disso, amigo,
Alô Guimarães Neto, que numa recente conversa (me permita a indiscrição, caro
Alô) manifestou toda sua indignação com o tipo de relação que o Atlético tem
mantido com os seus torcedores.


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