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Ricardo Campelo
Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma famÃlia inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.
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Sou atleticano de berço - e nem poderia ser diferente, dado o apego de toda minha famÃlia à s cores atleticanas. Nas minhas lembranças de infância, estão gols como o de VÃlson contra o Pinheiros, em 1988, na Vila OlÃmpica. O gol de Manguinha que deu ao Atlético o tÃtulo estadual naquele ano. O gol de Cambé contra o Coritiba, numa vitória por 2x1, no Pinheirão, que foi eleito "o gol do Fantástico".
Já na adolescência, a tentação de torcer para um time "do eixo" bateu. A maioria dos meus colegas tinha seu predileto nos campeonatos paulista ou carioca, e também no Brasileiro da Série A, que o Atlético não disputava. Graças a Deus, antes que eu cometesse uma besteira, o Atlético começou a se fortalecer. Em 1994, o retorno à Baixada e uma ameaça de subida à primeira divisão, já foram suficientes para eu tirar qualquer idéia da cabeça.
Por quê o atleticanismo tomou conta de mim? Se fosse definir em uma palavra, eu diria: empatia. Todo o clima da Baixada, da proximidade com o time, da torcida vibrante, dos bandeirões, do estádio colorido de vermelho e preto, isto fez com que eu e milhares de outros atleticanos criássemos uma identificação com o Furacão, uma vontade de sempre estar presente e acompanhar o time. Coincidiu que o Atlético teve dois anos de belas campanhas (1995 e 1996) numa fase em que a torcida estava a mil, e não tenho dúvidas de que isso é que fez do Atlético um clube grande, como nunca havia sido até então.
Em outras palavras: o diferencial do Atlético era a torcida. Por isso que eu e os colegas da minha geração não nos tornamos corintianos ou vascaÃnos.
Hoje, a empatia da torcida com o Atlético morreu. Nos corredores da Arena, ou pelas ruas da cidade, o papo dos atleticanos é sempre "e esse teu timinho, hein?", "tá feia a coisa, hein?". Nas arquibancadas, não há bandeiras, faixas, não há cores. Há sócios que gastam uma fortuna por ano, ou torcedores que pagam um absurdo de R$ 40,00 por jogo e querem resultados. Querem cobrar. Foi-se o tempo de incentivar. Agora é xingamento e vaia a cada passe errado, a cada lance inexitoso.
Sem essa empatia do torcedor, que criava um clima favorável ao time dentro da Baixada, o Atlético virou presa fácil em casa. Se outrora perder no Joaquim Américo era fruto do acaso ou de enfrentarmos um time muito superior ao nosso, hoje é simplesmente rotina. A regra é não vencer. Perdemos quando nosso time é ruim, perdemos quando nosso time é bom. Perdemos para times melhores que o nosso, e pra times piores que o nosso também.
Meu atleticanismo, e o de vários outros contemporâneos, está definhando. As pessoas que antes me acompanhavam no estádio em todas as partidas, hoje nem sabem quando o Atlético tem jogo. Já ouvi de algumas pessoas que entendem muito do clube que o Atlético que eu conheci acabou. O Atlético que eu aprendi a amar não existe mais, e a cada dia acredito mais nisso.
Hoje, existe o Atlético do consumidor. Que não recebe o apoio da torcida, e sim aufere a receita do sócio. Que vende jogadores, que investe no CT, mas que, com o time bom ou ruim, não empolga. Não tem mais torcida. Não aquela que já teve, e que o fez crescer.
É claro que eventualmente, quando houver uma boa campanha, o estádio vai lotar e vai se ensaiar uma vibração. Mas no primeiro tropeço, a Baixada vai voltar a ser o que vimos ontem. A regra, agora, é essa: um estádio cheio de lugares sobrando, e cheio de torcedores ranzinzas. O Atlético que eu aprendi a amar, realmente, acabou.
Não tenho diploma em marketing, não sou cientista de nada. Mas entendo muito bem de mim mesmo, entendo de torcida, do Atlético, e principalmente da relação entre um e outro. Entendo muito mais do que nossos dirigentes. O Atlético tirou do futebol a alegria. Sob pretexto de transformar o clube em "clube de primeiro mundo", transformaram o futebol, o programa mais popular do mundo, em uma coisa chata. Ontem recebi um vÃdeo dos alemães do Frankfurt, time verdadeiramente de "primeiro mundo", e fiquei com inveja. Para eles, futebol ainda é um programa de ir ao estádio, hastear bandeiras, torcer, gritar. Enfim, um programa alegre. Para nós, é um programa de vaias, xingamentos e lamentações.
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