Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

O Festival de Besteira que Assola o País

29/06/2007


Na década de 60 do século passado, Sérgio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta, publicou o seu Festival de Besteira que Assola o País em trilogia antológica que adiante descrevo e recomendo: FEBEAPÁ 1 (Primeiro Festival de Besteira que Assola o País), Editora do Autor, 1966; FEBEAPÁ 2 (Segundo Festival de Besteira que Assola o Pais), Editora Sabiá, 1967; Na Terra do Crioulo Doido – FEBEAPÁ 3 - A Máquina de Fazer Doido - Editora Sabiá, 1968.

Retiradas dos FEBEAPÁS, seguem algumas amostras para lhes saciar a curiosidade:

"O mal do Brasil é ter sido descoberto por estrangeiros" (Deputado Índio do Brasil, Assembléia do Rio).

O cidadão Aírton Gomes de Araújo, natural de Brejo Santo, no Ceará, era preso pelo 23.º Batalhão de Caçadores, acusado de ter ofendido "um símbolo nacional", só porque disse que o pescoço do Marechal Castelo Branco parecia pescoço de tartaruga e logo depois desagravava o dito símbolo, quando declarava que não era o pescoço de S. Exa. que parecia com o da tartaruga: o da tartaruga é que parecia com o de S. Exa.

Cerca de 51 bandeiras dos países que mantêm relação com o Brasil foram colocadas no Aeroporto de Congonhas. O Secretário de Turismo de São Paulo — Deputado Orlando Zancaner — quando inaugurou a ala das bandeiras, disse que "era para incrementar o turismo externo".

Quando a Censura Federal proibiu em Brasília a encenação da peça Um Bonde Chamado Desejo, a atriz Maria Fernanda foi procurar o Deputado Ernani Sátiro para que o mesmo agisse em defesa da classe teatral. Lá pelas tantas, a atriz deu um grito de "viva a Democracia". O senhor Ernani Sátiro na mesma hora retrucou: "Insulto eu não tolero".

Como se vê, as Besteiras assolam o Brasil há tempos e, na última semana, a coisa esteve em níveis bastante elevados, como demonstrarei nos próximos parágrafos, a começar pela nudez da bela bandeirinha Ana Paula de Oliveira. Pois bem.

A Ana Paula de Oliveira, que é linda da cabeça aos pés, e que, para mim, tornou-se ainda mais linda por ter prejudicado um time carioca dentro do Maracanã (mesmo sem ter a intenção de prejudicar), resolveu se desnudar nas páginas da Playboy de julho. Vai nos mostrar – enfim – tudo aquilo que tentávamos ver, mas éramos impedidos pela distância, pelos cabeças-de-bagre que insistiam em maltratar a bola e atrapalhar nossa visão, pelo uniforme – bem justinho, aliás – e que acabava escondendo aquele monumento de mulher que é a Ana Paula.

A moça decidiu se revelar, em pêlo, pelo bem da nação! Todavia, Ricardo Teixeira, a última reserva moral em solo brasileiro, num acesso de moralidade jamais visto em 507 anos de História, promete punir a boa moça (e moça boa, friso) por conta da nudez tão, como posso dizer, desnuda!

“Uma afronta ao futebol brasileiro!” - deve argumentar o magnífico Ricardo Teixeira; “Um escândalo!” – deve complementar Eurico Miranda, o Probo; “Autêntica Evicção! Indigno Vício Redibitório! Avulsão, avulsão! – bradará o Presidente Miranda, do Paraná Clube, mesmo sem saber o significado de “Autêntica”, “Evicção”, “Indigno”, “Redibitório” e “Avulsão”. Onaireves Moura - o Puro – desmaiará. Romário exigirá punição exemplar e, se possível, um exemplar, devidamente autografado. Os dirigentes são-paulinos, em nome da isonomia constitucional, fincarão pé: “Se a Ana Paula pode posar assim dessa maneira, por que não o Paulo César de Oliveira?”.

A todos os supracitados, e para aqueles que se ultrajaram com a nudez da bandeirinha, mando o mesmo recado: vão procurar o que fazer e deixem a moça viver a vida dela. Imoralidade dentro da arbitragem brasileira ainda se chama Edílson Pereira de Carvalho, monstro criado por vocês para satisfazer os seus interesses. Vão procurar o que fazer e deixem a Ana Paula de Oliveira em paz, para o nosso bem. Imoralidade dentro da arbitragem são as atuações do Héber Roberto Lopes, sujeito tecnicamente incapaz de apitar um simples “Treze-de-Quase-Quinze X Comercial de Jequié”, pela Série Ç, do Citadino de Mossoró-RN, válido pela Copa Pedro Caroço-2007.

Cascavel, Oeste do Paraná. O juiz Bento Luiz de Azambuja Moreira, da 3.ª Vara do Trabalho de Cascavel suspendeu a audiência de um trabalhador rural porque ele usava chinelos. O juiz já havia cancelado outras quatro audiências por julgar inadequadas as roupas dos trabalhadores.

Na sexta-feira, dia 22 de junho, o trabalhador rural Joanir Pereira mostrou à imprensa televisiva o único sapato que tem e que usa para trabalhar. Ele disse que achou o calçado muito velho para ir ao Fórum. A mulher do trabalhador, Nadir do Sacramento, contou que o marido chegou em casa triste por não ter sido atendido pelo juiz. Ela conta que naquele dia a família nem tinha o que comer.

Enquanto espera a nova audiência, o trabalhador está preocupado por ainda não ter encontrado emprego. Ele faz serviços temporários, mas o dinheiro mal dá para pagar o aluguel e sustentar a família. A nova audiência foi marcada para 14 de agosto de 2007.

Inadequado, Doutor Bento Luiz de Azambuja Moreira, é ver Ministro do STJ sob suspeita de envolvimento em esquema de compra e venda de sentenças que beneficiariam bingos e casas de caça-níqueis. Inadequado é o ensino jurídico deste país que forma operadores do Direito, em série, capazes de devorar dezenas de compêndios complicadíssimos, mas incapazes de conhecer e interpretar a realidade em que vivem seus jurisdicionados.

Inadequado, Doutor, é agir com soberba diante de um humilde, e com subserviência perante os donos do poder. Inadequado é fazer um trabalhador se sentir envergonhado diante da Justiça, quando aqueles que deveriam ter vergonha de seus atos saem inocentados, e de cabeça erguida, dos Tribunais brasileiros, a exemplo do Sérgio Naya, um dos donos do poder a quem a Lei não alcançou.

Por fim, o presidente José Carlos de Miranda, do Paraná Clube, brindou-nos com suas besteiras. Disse o Fessor que, ao lado dos amigos Onaireves e Gionédis, forma a Bestíssima Trindade do futebol paranaense: "Historicamente a torcida do Atlético não vem aos jogos na Vila Capanema, vai sobrar espaço no local reservado para eles, mas serão em torno de 2.300 a 2.500 ingressos colocados à disposição".

No afã de agredir o Atlético, o Fessor Miranda, cuja semelhança com o Waldick Soriano é a cada dia maior, esqueceu-se de que o recorde de público e renda na Vila Capanema pertence ao Atlético Paranaense (24.303 torcedores, na partida Atlético-PR 3x2 Santos, em 08/09/68).

Não contente com o comentário infeliz, Miranda ainda desdenhou da posição do Furacão na tabela de classificação. "O clássico será muito difícil, mas vamos procurar nos manter no topo da tabela, além disso, o jogo para eles também será importante, pois eles podem precisar da vitória para não ficar perto da zona dos rebaixados", finalizou o presidente do Paraná Clube.

Novamente, o Fessor Miranda, cuja admiração pelo Onaireves e pelo Gionédis é a cada dia maior, esqueceu-se de que nos últimos dez anos quem sofreu com o fantasma do rebaixamento não foi o Atlético, mas, sim, o Paraná que inclusive foi rebaixado em 1999 e teve de disputar a Segundona em 2000. Aliás, Fessor Miranda, como andam as obras da Super-Arena que o senhor e seus amigos estavam projetando lá pelas bandas do Tarumã? Será que até 2014 o Mega-Estádio fica pronto para a Copa do Mundo? Vocês prometeram essa Mega-Realização para as suas torcidas! Ou era tudo aquilo apenas uma grande besteira?

Na década de 60 do século passado, Sérgio Porto, conhecido como Stanislaw Ponte Preta, publicou o seu Festival de Besteira que Assola o País em trilogia antológica. A julgar pelos últimos acontecimentos da vida nacional, a obra antológica já carece de boa atualização. Recomendo, a quem se interessar, escrever o FEBEAPÁ 4 (Quarto Festival de Besteira que Assola o País), 2007.

Na capa dessa quarta edição, e com inspiração na capa do fabuloso álbum dos Beatles - Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band - sugiro estampar a cara de todas as celebridades que andam por aí assolando o país com suas besteiras (e já consigno aqui o meu voto: quero ver estampados os Três Patetas do futebol paranaense: Fessor Miranda, Gionédis e Onaireves).

Idiotas não faltarão para ilustrar a capa da obra. Aliás, se depender dos idiotas que assolam o país, teremos capas sempre inéditas até o FEBEAPÁ 200, no mínimo, infelizmente. E você, amigo leitor, estamparia a cara de quem na festejada obra? Airton Cordeiro? Vinícius Coelho? Dagoberto? Fessor Miranda? Mande seu voto e concorra a prêmios no sorteio:

1º Prêmio - um DVD com os melhores momentos do clássico Treze-de-Quase-Quinze X Comercial de Jequié, pela Série Ç, do Citadino de Mossoró-RN, válido pela Copa Pedro Caroço-2007;

2º Prêmio – um DVD com os melhores momentos do Trio “Fessor Miranda, Gionédis e Onaireves” estudando uma forma de construir uma Super-Arena onde hoje se localiza o Estádio do Pinheirão;

3º Prêmio – um DVD com os melhores momentos do Trio “Fessor Miranda, Gionédis e Onaireves” dançando ao som da música “La Copa de la Vida”, do Rick Martin.

Participem!


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