Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Auto-estima paranista

28/06/2007


Faz tempo que não me divertia tanto. Barbaridade. Depois da minha última coluna, recebi um bom tanto de lamúrias eletrônicas. Pela mãe do guarda, foi uma choradeira daquelas lá pros lados das vilas. Não imaginava que mexeria tanto com a sensibilidade da quieta magote de três cores. Fui parar até no principal site dos caras. Em retribuição à homenagem, abro novamente espaço ao povo da dick village e escrevo algumas considerações repletas de singeleza sobre a precária auto-estima dos tricolores.

A comoção e o ranger de dentes entre a minoria da city balançou este coração Rubro-negro. Até um grande amigo meu, paranista de quatro costados, veio à mim via rede para me chamar de "babaca arrogante". Tudo por causa de um chiste sabroso nunca dantes reservado ao "Crube" nestas gloriosas páginas do melhor site de esportes do estado do Paraná. Tudo bem, meu irmão, tá perdoado, afinal, amigo é amigo, sempre. Mas todo o sofrimento que causei em alguns representantes da kombi me levou a momentos de profunda reflexão, a qual externo agora, com a permissão e o prestígio da honrosa nação atleticana, a qual agradeço de antemão.

Está faltando auto-estima e bom humor do outro lado da Engenheiro Rebouças. Futebol tem dessas coisas, somos torcedores, e entre torcedores civilizados, pode haver brincadeiras e provocações, embora não sei se a civilização já chegou aos recantos paranísticos. Mas o futebol seria um baita troço chato e penoso sem essas coisas. O pessoal do Paranazinho se ofende muito facilmente, sensibilidade à flor da pele. O que eu tomei de lição de moral... Uma delas pública em forma de coluna no sítio paranista. Todavia, entendo.

Não deve ser fácil ser considerado o café com leite do futebol do estado desde sempre. Por isso, a turba de três cores não está acostumada a ser cutucada, provocada. Não estão acostumados ao mainstream do futebol estadual tampouco do nacional. Pela primeira vez, que eu me lembre, alguém aqui no furacao.com dedicou tanto espaço à vila. Pela primeira vez o Paranazinho chega aos dezesseis minutos de fama no noticiário nacional. Sempre estiveram lá quietinhos, no limbo, com seus pequenos feitos que alegravam o bairro e davam um dia de lucro aos botequins da vizinhança. Mas de uns tempos prá cá, começaram a dar algum trabalhinho, disputaram um torneio internacional de responsa, ganharam uns parcos jogos contra times grandes de sumpaulo.

Então, deixa eu explicar uma coisa, do alto da minha longa experiência de torcedor de time grande e de massa: é assim mesmo, paranistas. Ninguém chuta cachorro morto. Só ganha deferência quem faz algo, e, finalmente, muito devido à lacuna aberta pelo Coritiba "Foot Ball Club", vocês começaram a fazer alguma coisa que justifique ocupar no futuro o espaço de segundo time do estado e quem sabe, arregimentar mais alguns torcedores além-bairro. Podem até um dia, em vez de kombis, usar bestas para locomoção.

Mas chata mesmo é essa lenga-lenga de coitadinho implorando respeito, "oh, que coluna infeliz escrivinhou o treticano". "Oh, quanto ódio ele tem pur nóis". Sou pura paz e amor, bicho. Olha só, estou até comentando o rosário de lamentações que apareceu em minha caixa postal pra mostrar o tamanho da minha generosidade. Uns caras falando: "tenho orgulho de ser favela", "sou du povo", "sou simplizim, não arrogante que nem ocê". Bão, então vamos aos fatos: pode chamar o Ibope, o Datafolha ou coisa que o valha e fazer pesquisa em qualquer favela da cidade sobre o índice de torcedores que cabe a cada agremiação paranaense. Vai dar Atlético disparado. Todas as pesquisas mostram. Então, esse negócio de "time do povo" é balela, porque o verdadeiro time do povo é o Furacão, da favela ao Batel.

A torcida do Clube Atlético Paranaense pensa grande. Aprendeu a pensar grande ao longo de sua longa e rica história. Nunca abaixou a cabeça, viveu as piores crises, as piores pindaíbas e se manteve altiva. O que vocês do time de bairro chamam de arrogância, eu chamo de altivez, de consciência das próprias possibilidades e da largueza dos próprios horizontes.

Muito próximo está o lançamento do projeto de finalização do estádio mais moderno da América do Sul, que será palco de nossas próximas grandes conquistas e quem sabe, de jogos do maior evento do futebol mundial em 2014. Nossa auto estima está em dia com o baú.

Chororô é coisa de criança e se o Paranazinho quiser chegar à puberdade e ver os pelinhos crescerem no peito, precisa antes dar um jeito nessa baixa auto-estima, levantar essa cabecinha cheia de lêndia, sacudir a pediculose e trilhar um caminho próprio em vez de ficar tentando se promover às custa dos maiores, como faz o enlouquecido presidente do time vileiro. Encarar as coisas com maior altivez, não ter medo de bater de ombro com os grandes. Tentar fazer com que a camisa doce de mocotó seja respeitada, porque ela ainda não é nem aqui nem Brasil afora.

O Paranazinho tem muito trabalho pela frente se quiser ser grande, e não é chorando as pitangas ou tentando destruir o trabalho do vizinho, como faz seu presidente, que vai conseguir alguma coisa.

Em tempo: poodle não é ofensa. Está longe de ser. É um bichinho adorável, inteligentíssimo, cheio de truques, raça e pedigree. Inventem outro, porque esse não faz nem cócegas.


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