Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Dividindo a meia-água

26/06/2007


Sem brincadeira, bateu o saudosismo. Semana que antecede esse jogo que alguns chamam de clássico é sempre igual. Imprensa e adversário tentam criar um "classicismo" que não existe. No estado o prélio clássico perdeu o status. Havia um, mas o rival esvaeceu nas brumas do passado. Fica o registro no backup neural da época em que a cidade parava para ver a peitada entre dois times.

Uma vez Paranazinho, sempre Paranazinho. O chefe do maior time de bairro do mundo veio à público botar pimenta no "crássico". No mínimo astuto. Mexe com o povão Rubro-negro pra esgotar os dois mil e poucos ingressos forasteiros. Uma luta hercúlea pra fazer borderô que preste na meia-água da Vila Pinto. O homem que em campeonatos anteriores armava jogos contra os times de "sumpaulo" no nortão do estado pra garantir o leitinho das crianças dos funcionários do "crube", dividindo o estádio meio-a-meio, tem uma nova chance de tirar uns bons trocados. Taí o pulo do gato: divide a quitinete meio-a-meio, Miranda. Casa de pobre é igual coração de mãe, sempre cabe mais um, todo mundo se ajeita, contanto que traga o colchonete.

Não vai fazer concessão dessas porque é o Atlético. Ok. Vai cobrar quarentão, porque é o Atlético. Ok. Mas é assinar um atestado de burrice e de puxa saco de paulista. Grana é grana, não importa se vem dos paulistas de Maringá ou dos paranaenses do Atlético. Deixa esse fomento de rivalidade de lado e ganha uma grana às nossas custas, doutor. Dá metade do estádio pra torcida do Furacão, porque essa vai de qualquer jeito. Faz um teste de estatística: cospe pro alto, a chance de cair na cabeça de um atleticano é gigantesca. Ao invés de tentar fazer moral com três kombis, dois fuques e uma vespa, faz renda usando a maior torcida do estado do Paraná. Se eu fosse você, ia pra TV e dava um recado à torcida atleticana tipo o do presidente do conglomerado de hospedagem alternativa Labirinthé-Rick: apareçam!

Miranda, que administra um "crube" sem torcida e de camisa kistch, que aceita botar patrocínio de meia na área do calção que os jogadores escondem na hora da barreira, num típico pé-de-meia (pra não dizer outra coisa), é um cara que parece saber das limitações da agremiação. Por isso, conta os dias para o fim do campeonato, sonhando com o Paraná "Crube" chegando ainda dentro da série "A", para, enfim, negociar os atletas que sobreviverem à "janela" do meio do ano. Ele sabe que futebol é mais difícil para os pequenos, é resignado com esta situação e fez do Paraná "Crube" um time de aluguel em todos os sentidos. E para alugar, é só falar com o "fundo" de ilustres paranistas que decide os destinos do "crube" em alguma mesa vipe do Baile do Havaí. Quer jogador, compre mesa, fazemos qualquer negócio, la garantia soy jo.

Já posso ver a Perla galopando em seu cavalo hecho en Assunción, dando um trote macio pela relva do Durival de Brito. Futebol é momento, chavãozaço, mas real: para um time como o Paranazinho aproveitar os bons momentos é vital. Aquela classificação pra Libertadores, em quinto lugar, no pau da goiaba, não acontece sempre. Usar o apelo que o "crube" está causando nesse início para lotar a Vila Capanema, meia calabresa, meia mussarela, é uma grande oportunidade para se otimizar os ganhos e relativizar os custos, na linguagem do administrador moderno. O efeito "cavalo paraguaio" não é novo na diminuta história paranista e este ano, dificilmente sobreviverá à temível "janela" de meio do ano.

Tentar se equiparar ao Atlético é mais uma estratégia que busca alguns trocados, mas, embora a imprensa das araucárias ainda tente ver os pesos dos clubes de forma equiparada, sabe-se, dentro e fora do país, que o Atlético é o maior do estado, em torcida, estrutura e importância. E é natural que os maiores organismos sempre tenham parasitas ocasionais.

Reconhecer a própria insignificância é, antes de um exercício de humildade, uma boa mostra de inteligência.


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