Patricia Bahr

Patricia Caroline Bahr, 43 anos, é jornalista e se descobriu atleticana nas arquibancadas do Pinheirão, no meio da torcida, quando pôde sentir o que era o Atlético através dos gritos dos torcedores, que no berro fazem do Furacão o melhor time do mundo. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2010.

 

 

Saudades da minha Baixada querida

24/06/2007


“Oh! Que saudades que tenho da minha Baixada querida que os anos não trazem mais!”

Com toda a licença de Casimiro de Abreu, é com o mesmo saudosismo que ele lembrava da aurora de sua vida, que me lembro da nossa Baixada querida, que os anos não trazem mais. Hoje, 24 de junho de 2007, comemoramos 8 anos da nossa Arena, um dos nossos orgulhos, certamente. Quando pela primeira vez pisei na monumental Arena, no amistoso contra o Cerro Porteño, tive uma certeza: a partir daquele instante seríamos os melhores.

A Arena era a prova desse conceito top que o Atlético estava implantando. Nesta data, há exatos oito anos, o Atlético voltava para casa. Mais do que isso, a inauguração da Arena marcava o fim de uma peregrinação. De tempos difíceis, em que éramos chamados de “sem terra”, “sem teto”.... mas no coração, carregávamos sempre o amor e o orgulho de vestir vermelho-e-preto e na alma sempre olhávamos com carinho, respeito e esperança o terreno da Baixada do Água Verde.

24 de junho de 1999 marcava o reencontro definitivo com a Baixada, agora sob o glamour, a pompa da Arena. A emoção que senti ao entrar pela primeira vez no estádio, para um simples amistoso contra o paraguaio Cerro Porteño, é indescritível. Quando olhei aquele estádio maravilhoso à minha frente (depois de tanto peregrinar e sofrer em Pinheirões da vida) confesso que fui às lágrimas. Lágrimas em ver um sonho se transformar em realidade.

“Sem saber que era impossível, foi lá e fez”. A famosa frase é a que resume perfeitamente o medo e a angústia ao vermos o nosso Joaquim Américo sendo demolido, ao acompanharmos diariamente no famoso mirante as obras da Arena, ao relembrarmos cada um dos nossos heróis que tivemos que abrir mão para a construção de um sonho. Foram 18 meses de construção, de angústia, de sonhos. Tempo que se apagou naquele 24 de junho de 1999, quando novamente vimos o Caldeirão fervendo.

Caldeirão fervendo? Aos oito anos de inauguração, nunca se discutiu tanto o espírito de Caldeirão na Baixada. Diversas teses e teorias são lançadas. E a conclusão é uma só: a Baixada não é mais a mesma. Antes, cantávamos com um misto de orgulho, certeza e convicção que nem o diabo ganhava no nosso Caldeirão. Hoje, já fomos humilhados por adversários que se sentem em casa na NOSSA casa.

A Baixada é nossa, é dos atleticanos. É da gente que veste com orgulho e amor as cores rubro-negras. A gente não vive sem o nosso Atlético e a Baixada, a nossa casa, é o nosso templo de adoração, orgulho, local ideal para exercermos a cada jogo a prova maior do nosso atleticanismo.

Cadê a festa na Baixada? Cadê a alma que sempre fez do nosso Atlético o maior, o melhor, imbatível?

Neste dia em que comemoramos oito anos de um dos nossos maiores orgulhos (e que vivemos a expectativa de vermos a nossa casa concluída), vale a pena voltar ao passado. Passado que nos mostra que o nosso templo Joaquim Américo era da massa atleticana. Hoje não é mais....

Hoje a Baixada, a nossa Baixada, é povoada em sua maioria por gente chata, metida a besta, narizinho empinado. Gente que não incorpora o espírito dos guerreiros. Gente que vaia, xinga os jogadores com 5 minutos de jogo, que se acha no direito de criticar no primeiro passe errado. Gente que grita olé para os passes do adversário, que comemora e aplaude gol do outro time, do inimigo. Gente que tem o descaso de gritar em alto e bom som: “esse time é uma bos**”. Gente que queima talentos, persegue atletas e treinadores. Gente que provavelmente nunca soube, mas eu já vi a torcida aplaudir o Atlético nas derrotas, enquanto hoje tem gente que vaia nas vitórias. Gente que provavelmente não saiba, mas amor e respeito caminham lado a lado.

Por isso, voltar ao tempo é necessário. Época em que a gente tinha muito pouco a se orgulhar, mas o simples fato de sermos atleticanos era o maior dos motivos para torcermos com orgulho, com a alma.

Eu tenho certeza que quando planejou a construção da Baixada do Água Verde, Joaquim Américo Guimarães sabia perfeitamente que aquele lugar seria um templo para guerreiros. Ele sabia que ali seria o espaço ideal para transformarmos num verdadeiro Caldeirão. Hoje, o Caldeirão está adormecido. Que volte o povo atleticano para a nossa Baixada, que voltem as nossas bandeiras, as nossas faixas, os nossos gritos de guerra. Que volte a atmosfera que transformava a Baixada num Caldeirão, num templo sagrado para os guerreiros e heróis vestidos de vermelho-e-preto. Eu quero a minha Baixada de volta!


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