Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

O Delega

11/06/2007


Delega Três, a Missão. A missão de interromper o declínio técnico que o Atlético Paranaense sofre desde 2005. Justamente quando da última jornada do Antônio Lopes. Chega pra botar ordem no terreiro. Dar comando e colocar ordem no grupo de jogadores, e, acima de tudo, dar padrão tático, esquema, forma de jogar definida ao Furacão. Nada mirabolante, mas uma forma de jogar, uma pelo menos, que a gente veja que existe. Precisamos de um estilo de atacar, um método de defesa. Lopes é tradição, sabe fazer isso. Goste o torcedor ou não, é o velho jeito Lopes de jogar futebol, não inventa roda ou moda.

A gente está calvo de saber o que faz o Pato Velho. Nas duas vezes anteriores, ele não foi demitido, saiu a primeira vez para coordenar a Seleção Brasileira, a segunda, para treinar o Corinthians-SP, onde foi Campeão Brasileiro, de um jeito, digamos, enviesado, eufemismo para a forma como o time paulista foi campeão de 2005. Mas, Edilsons à parte, campeão, é isso que está escrito no pôster e nesse mesmo pôster está o Delega, como em muitos outros pôsteres de conquistas em sua carreira: indefectível óculos, meia-cabeleira, camisa de linho, correntes de ouro e calça de tergal de tira. O mesmo Lopes de dois anos antes, vice da Libertadores, que chama os atletas de “a rapaziada”, que não tem um segredo de vestiário que não saiba, que não tem uma vaidade de boleiro que não conheça, que já lidou com as mais diversas situações dentro e fora de campo, que já conheceu todo o tipo de dirigente, jogador, jornalista, e exemplares sortidos da fauna do esporte. Lopes é Lopes, a gente conhece, a gente confia, mais uma vez.

O Atlético optou pela opção mão firme. Fez bem. A outra opção que para mim seria bastante possível, o Geninho, tem algumas características parecidas às do demissionário Vadão. É técnico de muita conversa, apesar de um perfil um pouco mais enérgico. Mas acho que o time do Atlético Paranaense precisava no comando de uma personalidade radicalmente oposta à do Vadão neste momento. Precisava de um “chefia”, não de um camarada. De uma voz que dê diretrizes objetivas, voz que, mesmo que fina e esganiçada quando grita à beira do gramado, seja ouvida e obedecida. Disciplina é um negócio que dá muito certo há tempos, desde que o mundo é mundo, antes mesmo dos primeiros samurais da terra. Quando ela existe, os resultados de um grupo aparecem, pois há hierarquia, noção de o que cada peça é e representa para o elenco. Cada um faz o que sabe e o que se espera por consciência, numa ação coletiva que premia a todos no final, em que a obediência a um método e a um comando concorrem diretamente para qualquer sucesso.

Com Lopes, Ney, é Ney, Erandir é Erandir, Bahia é Bahia, Evandro é Evandro, Dênis é Dênis, Alex Mineiro é Alex Mineiro e assim por diante. Cada jogador é o que é, representa o que fez no clube, ganha o quanto merece, e sabe que para ter direitos é preciso cumprir deveres, que pra ter holofote é preciso trabalho e feitos marcantes. São coisas que parecem simples, óbvias, mas que pra entrar na cabeça de alguns jogadores de futebol precisam de um jeito certo de falar com a “rapaziada”. Pro Delega não tem neurolingüística, metalinguagem. Tem papo firme, linguagem da bola. É assim que vamos daqui pra frente. Muitos gostam. Alguns não gostam. Mas se a gente parar de perder em casa, o que eu acho que já vai começar a acontecer, já é um baita avanço.

Não acho o time fraco, como muitos dizem. Precisa de reforços para brigar pelo título, mas tem bons valores, alguns jogando metade do que podem, Evandro, Alan Bahia e Dênis são os casos mais gritantes. Mas se for por falta de regras, indolência ou coisa parecida, o Delegado tem como resolver. Sabe a fórmula.

O estilo de Lopes pode inibir algumas iniciativas dos jogadores, mas também pode fazer com que muitas virtudes apareçam. A era delegacia está de volta, a sirene tocou e quem não gosta de trabalho vai ter que correr. Dentro de campo ou pra fora do Atlético.

Agora é beijo no santinho, estilo tradiça, pegada roots, indumentária old-fashion.

Toda sorte do mundo ao Delegado Lopes.


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