José Henrique de Faria

José Henrique de Faria, 74 anos, é economista, com Doutorado em Administração e Pós-Doutorado em Labor Relations nos EUA. Compareceu ao primeiro jogo do Clube Atlético Paranaense em 1950, no colo de seu pai. Seu orgulho é pertencer a uma família de atleticanos e ter mantido a tradição. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.

 

 

Nada é para sempre

10/06/2007


Já joguei futebol, mas nunca fui um atleta profissional e sequer um atleta amador. O pouco que joguei, especialmente na posição de goleiro, ensinou-me a ler o jogo para orientar meus companheiros. Nunca fui técnico e uma única vez fui comentarista por acaso. Em resumo, não sou exatamente um profissional do futebol. Mas, não sou um alienado e não vou ao estádio para berrar no ouvido dos outros um mundo de asneiras. Na maioria das vezes, faço até a mesma leitura de jogo que os comentaristas. Assim, não precisei de mais do que cinco minutos no jogo Atlético Paranaense x Goiás para ver que Vadão entrou mal escalado ou com o time mal posicionado em campo.

De fato, seu anunciado esquema 3-5-2, com Nei fazendo o terceiro jogador, não existiu. Nei jogava pela lateral direita, Danilo e João Leonardo pelo miolo da zaga e Edno pela esquerda. E o Jancarlos? Pois, o Jancarlos parece que fazia o papel de um antigo ponta direita, estático, esperando a bola e enquanto esperava permanecia marcando a placa da Unimed. Jogando com dez jogadores, pois o Jancarlos não existia em campo, Vadão pretendia explorar a lateral esquerda do Goiás. Pretendia. Mas, não tinha uma jogada sequer. O meio campo, cheio de volantes que não sabem muito bem como fazer um lançamento, que não iniciam uma jogada de ataque, que teimam em passar a bola lateralmente ou quando ousam uma jogada em profundidade geralmente entregam a bola nos pés dos adversários. Uma autêntica confusão. Isto eu, que não sou treinador e nem profissional do futebol, disse, no campo, aos cinco minutos de jogo. Repito, eu vi isto em míseros cinco minutos. Ora, por que motivo eu teria visto e o Vadão não viu?

O resultado era previsível. O Bonamigo viu. Anulou a jogada pretendida e, aproveitando a confusão reinante pelo meio, deu um nó de marinheiro no Vadão e em um piscar de olhos foram dois gols, fora os três que não ocorreram por obra do esforço do Danilo e das defesas do Guilherme. Ficou barato. Já tendo ido a vaca para o brejo, como se diz na gíria, o Vadão resolve fazer do Jancarlos um lateral pela direita, do Nei um lateral pela esquerda e do Edno um volante. O jogo se equilibrou, mas não a ponto de dar esperanças de que o cenário mudaria, pois o Evandro, o Alan Bahia, o Erandir e do Denis Marques tratavam de acabar com qualquer esperança. E o Vadão? Pois, ele esperava acabar o 1º. Tempo para tomar providências. Providências que deveriam ser tomadas já aos 20 minutos de jogo. Não compreendo esta necessidade de esperar acabar o 1º. Tempo, mas, afinal, não sou um profissional, ou seja, deve haver um bom e misterioso motivo.

Vem a segunda etapa do jogo e Vadão faz entrar Netinho e Tiago no lugar de Alan Bahia e Evandro. 98% dos que estavam no estádio sabiam que Netinho entraria no jogo. O meio campo fica povoado, mas sem objetividade. Melhorou, mas a forma de jogar continuou sem efetividade. Criou-se o conhecido domínio estéril. Aos poucos, o Goiás, que veio para o segundo tempo para segurar o Atlético Paranaense nos "primeiros quinze minutos", percebe que não há o que temer, começa a gostar do jogo passa a jogar no campo do adversário. Gasta a bola. Toca. Faz o terceiro gol. Dá um baile. Poderia ter feito mais gols. 3 x 0 ficou barato para o Atlético.

A torcida, irritada e insatisfeita, pede jogadores. É verdade. O Atlético Paranaense precisa de jogadores de qualidade, especialmente de volantes. Não sei se existem no clube. Falaram maravilhas do Valencia, mas eu nunca o vi. O Dayro Moreno tem muito menos oportunidade que o Denis Marques. Por quê? E a lateral direita? Faltam sim jogadores.

Mas, vamos ser claros. Alguém já se dispôs a ver outros times, como o Corinthians, o Vasco, o Botafogo, o Palmeiras, o Internacional, o Figueirense, o Fluminense, o Goiás etc.? O que é mesmo que estes times têm de tão diferente do Atlético Paranaense? Jogadores? Não. Têm esquema de jogo. Eu penso que o Atlético Paranaense tem pelo menos sete jogadores que jogariam em outros clubes da Série A.

Ao final do jogo, Vadão afirma que o time nunca jogou tão mal como neste domingo. Pode ser, mas isto já vinha sendo anunciado. Jogou mal contra o Fluminense e contra o Santos. Pelos mesmos e repetidos problemas que se evidenciaram no jogo contra o Goiás. O que Vadão não disse é que o time jogou mal porque ele, Vadão, escalou mal, armou mal, orientou mal, demorou a mudar e quando o fez, errou. Dizer que todos os jogadores jogaram mal é fácil. Jogaram porque a forma como o time estava organizado não poderia ter resultado em outro desempenho. Existem jogadores sabidamente abaixo da média, mas o esquema do Vadão ajudou no desempenho medíocre.

Torcedores reclamaram, após o jogo, dos jogadores. Criticaram inclusive o Alex Mineiro, como se ele tivesse o dom de jogar sozinho, driblar todos os adversários, fazer todos os gols etc. Estes querem milagres. No jogo contra o Goiás, todos perderam. Aliás, todos nós perdemos. Não sou membro da Diretoria, não sou profissional do futebol, desconheço o trabalho do dia-a-dia com o time. Só sei o que vejo, que é o jogo, as atitudes do treinador, os esquemas de jogo (ou a falta deles), as falhas, as virtudes. E pelo que vejo, acredito que Vadão já esgotou seu estoque, já liquidou seu crédito. Não que ele não seja um bom profissional. Ao contrário. Mas, às vezes, no futebol, chega uma hora em que é preciso renovar, buscar nova motivação, alcançar novas bases de comprometimento no grupo, refazer os vínculos, rever as práticas, mudar esquemas, estratégias e táticas de jogo. E este momento chegou para o Atlético Paranaense. Infelizmente. Mas, a vida precisa ser vivida intensamente todos os dias e quando a pulsão de morte se faz mais forte que a pulsão de vida é porque ali se oferece a rara oportunidade de agir para a mudança, para o enfrentamento, para a transformação, para o novo. Todos nós temos muito a agradecer, novamente, ao Vadão, mas já está na hora das despedidas.


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