Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

A inveja e a bestíssima trindade

01/06/2007


Em 1987, minha mãe me matriculou nas aulas de catequese da Igreja do Santíssimo Sacramento, ali na Avenida Iguaçu. Foram três anos de aulas até que, em 25 de novembro de 1989, eu fiz a minha primeira comunhão.

Durante aqueles três anos, fui um bom menino, sempre educado, ligado a Deus e às coisas da Criação. Quase todo domingo eu lia na missa e nem me importava com o fato de a Igreja estar cheia, repleta de adultos. Minha fé era tanta que eu não tinha medo de errar ou de fazer feio na frente de tantas pessoas.

Numa das aulas de catequese, a Irmã Irma (que sarro isso: Irmã Irma!) nos contou uma história mais ou menos assim: Caim e Abel já estavam moços. Estava na hora de eles ajudarem seu pai no trabalho.

Caim escolheu ser lavrador. Ele trabalhava no campo e semeava o trigo. Quando o trigo estava bom, ele cortava e moía os grãos e assava pães.

Abel escolheu ser pastor de ovelhas. Ele as levava para o campo e procurava um bom capim para elas. O leite que as ovelhas davam, eles bebiam. Às vezes, matavam uma ovelha e tinham uma saborosa carne para comer. A plantação de Caim e as ovelhas de Abel cresciam a cada ano, uma beleza!

Mas quem fazia o trigo de Caim crescer? E quem dava novas ovelhas para Abel? Sim, era Deus. Tudo vem de Deus. Caim e Abel o sabiam bem porque seus pais falaram muito sobre isso para eles. Porque Deus lhes dava boas coisas sempre, eles queriam agradecer e Lhe dar alguma coisa em troca. Então veio a idéia de fazer um sacrifício.

Assim, quando Abel queria oferecer um sacrifício ao Senhor, ele escolhia a ovelha mais bonita e a separava para Deus. Daí, ele fazia um fogo em cima de um monte de pedras, matava a ovelha e a deitava sobre o fogo. Pronto: o sacrifício estava preparado! Ao fazer o seu sacrifício, Abel se ajoelhava e falava com Deus: "Querido Deus, eu Te amo muito. Tu cuidas tão bem de mim; por isso quero muito Te dar esta ovelha em sacrifício, para Te mostrar que sou grato ao Senhor".

Deus ouvia tudo o que Abel dizia. Ele sempre escuta tudo o que os homens rezam. E via que Abel O amava de verdade, assim com Ele amava a Abel. Deus aceitava o sacrifício de Abel e fazia a vida dele alegre e feliz.

Caim também oferecia um sacrifício a Deus. Porém, enquanto rezava, Caim pensava: "Por que devo agradecer a Deus se fui eu mesmo quem semeou o trigo e trabalhou pesado por ele?". E, do mesmo jeito que ouvia o que Abel dizia e pensava, Deus também escutava o que Caim estava pensando. Viu que Caim não O amava de verdade e por isso não aceitou o sacrifício de Caim. Também não tornou a vida de Caim alegre e feliz.

Caim percebeu isto e ficou bastante zangado com Deus e com Abel. Principalmente com Abel. Ele teve inveja de Abel e pensou que Deus dava preferência para Abel. Cada vez que Caim pensava nisto, ficava mais e mais zangado. Às vezes, não conseguia nem dormir ou comer direito. Muitas vezes Caim era mau com Abel.

Deus via isso e falava com Caim: "Por que você é tão mau e invejoso? A culpa de tudo é só sua, porque você não Me ama. Se você Me amasse, também seria feliz como Abel. Tome cuidado, Caim, você não deve ter inveja. Isso vai te prejudicar...". Deus bem que tentou alertar Caim, mas ele não Lhe dava ouvidos.

Um certo dia, Caim chamou Abel para um passeio pelo campo. Quando estavam sozinhos, Caim começou a brigar com Abel. Bateu nele com toda a sua força e fúria até matá-lo. É isso mesmo, Caim matou seu irmão. Abel estava caído no chão e seu sangue escorria pela grama.

Caim ficou muito assustado e correu para bem longe. Tinha medo que Deus tivesse visto e o castigasse. Ele torceu para que Deus não tivesse visto o que ele tinha feito com seu irmão. Mas Deus vê tudo e viu isso também. Deus perguntou a Caim onde estava Abel. Caim disse que não sabia. Ele foi mentiroso e safado com Deus.

Deus disse a Caim: "Por que você fez isso, nada mais vai crescer para você. Você também não poderá mais morar aqui. Vai embora. Eu não quero mais saber de você! Como castigo, você nunca mais terá sossego e nem será feliz".

E Caim foi embora como Deus havia ordenado. Ele foi para muito longe, mas sempre lembrava de Abel. Caim nunca mais foi feliz. Nunca mais, mesmo!

E assim terminou a historinha que a Irmã nos contou numa das aulas de catequese do ano de 1987. Lembro-me que no final a Irmã resumiu tudo o que contara num lindo e singelo raciocínio: a inveja é ruim e ninguém deve sentir inveja!

Eu era um menino bem comportado em 1987, quando ouvia as historinhas da Irmã. Quase todo domingo eu lia na missa e nem me importava com o fato de a Igreja estar cheia de gente, quase todos adultos. Minha fé era tanta que eu não tinha medo de errar, de fazer feio na frente de tantas pessoas.

Hoje, sou um homem bem comportado, vou à missa, mantenho firme a minha fé, mas virei um boca-suja que adora contar historinhas cheias de palavrões e desacatos.

Agora que arranjei uma vaguinha de colunista da Furacao.com (não sei o que deu na cabeça deles para me chamarem, mas...) a coisa ficou ainda melhor: tenho um ótimo espaço para contar meus casos, cheios de nomes feios, de personagens bons, maus, enfim, arranjei um bom espaço pra contar histórias.

Pois bem. A Irmã, que era minha catequista, podia ter simplificado a coisa ao dizer, em alto e bom tom: A INVEJA É UMA MERDA, mas, de fato, não ficaria bem na boca de uma religiosa a aludida expressão. Por isso, ela se valeu de uma historinha bíblica para nos ensinar, com palavras mais brandas, que A INVEJA ERA, DESDE SEMPRE, UMA MERDA!

Ocorre que, até hoje, tem gente que não se convenceu que A INVEJA É UMA MERDA e continua por aí tentando sacanear o próximo, destruir o alheio e detonar a obra de gente honesta, boa e trabalhadora. Em resumo: tem sempre um filho da puta, ou vários deles, querendo encher o saco! A última encheção de saco se deu aqui mesmo em Curitiba, por conta do imbróglio que se formou em torno de qual seria o estádio curitibano a sediar o Mundial 2014 (digo estádio curitibano, porque os estádios do interior do Estado não têm - definitivamente - condições de receber a Copa 2014).

Ora, fosse Curitiba uma cidade habitada apenas por gente inteligente e decente, não teria havido dúvida. Porém, o fato de aqui habitarem hordas de imbecis, invejosos e desgraçados de todo tipo fez com que a escolha natural que recairia sobre a Arena da Baixada passasse a ser uma grande disputa entre o real e o abstrato, entre o concreto e o projeto, entre os que trabalham e os que prometem.

E o que me causou mais raiva nessa discussão toda foi ver a que ponto baixo desce o homem quando quer prejudicar o seu semelhante, ou o seu adversário, se preferirem. Os opositores da Baixada chegaram ao ridículo de apresentar um projeto - feito na base da cartolina, durex, cola e canetinha – como sendo a versão mais adequada para Curitiba receber a Copa 2014.

Depois, diante do fiasco, apresentaram outro projeto, com promessa de vidros ao redor, cúpula moderníssima pronta para abrir e fechar a qualquer comando do Onaireves, do Fessor Miranda ou mesmo do Gionédis, e tudo isso pela quantia singela de seiscentos milhões de reais, um achado!

Mas o trio Onaireves-Miranda-Gionédis não sabe comandar nem as suas entidades, como poderia acionar uma cúpula moderníssima pronta para abrir, fechar e deslizar como teto de um palco de seiscentos milhões de reais? Era comando demais para quem comanda de menos!!!

Finalmente, o Palácio Iguaçu bateu o martelo e resolveu indicar a Arena da Baixada! Com isso, pôs fim às especulações em torno de qual seria o palco paranaense para 2014 e agora não tem mais nem menos: é terminar a Arena da Baixada e sediar a Copa.

Se bem que os invejosos, inconformados, parecem que têm um plano B: cobrir o estádio do Capão Raso com uma lona de circo que eles acharam ali perto do Pinheirão (palhaços e circo ali nunca faltaram) e colocar mais ônibus na linha do Interbairros-IV que passa perto do estádio do Capão (tudo conforme o caderno de encargos da FIFA, segundo eles).

Mas se o Plano B falhar, já deixo aqui delineado o Plano C: boicotar a Copa 2014. Para isso, Onaireves, Miranda e Gionédis, que juntos formam a bestíssima trindade, poderiam promover paratibas, com horários coincidentes aos dos jogos a serem realizados em Curitiba durante a Copa. Os jogos poderiam ser na Vila Capanema, no Couto Pereira, ou no Estádio de Curitiba, a obra-prima feita de tijolos, vidros, promessas, ódios, invejas e mentiras, muitas mentiras!

Desculpem-me o mau jeito, mas diante desses caras a gente só consegue concluir que A INVEJA É UMA MERDA E ELES SÃO A PRÓPRIA INVEJA (materializada e mal-cheirosa).

E, além do mais, Deus está vendo...


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