Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Constatações por minuto

28/05/2007


Onde está o problema do Atlético? Será Vadão? Será Evandro? Netinho? Jancarlos? O ingresso abusivo? A falta de investimento em futebol? A falta de perspectiva em ganhar títulos?

Ontem, ainda no primeiro tempo do jogo contra o Santos, constatei: "mais um ano sem títulos. Mais um ano de preocupação com o rebaixamento, talvez sobrando uma 'honrosa' vaga na Sulamericana". E sempre me vem à cabeça: por quê o Atlético não vai pra frente? Qual o problema exatamente?

São vários os problemas. Vadão é um deles, certamente. Diante do Santos, novamente me irritei com a falta de consistência de nosso sistema defensivo, e da total ausência de organização tática do time, que fica refém dos eternos chutões pra frente de Danilo. Veio o segundo tempo, Vadão mexeu, e percebi que dentro do elenco que tem em mãos, todas as substituições foram justificáveis. Enfim, não perdemos para o Santos por causa de Vadão. Mas manter no cargo um treinador que não chegou nem à final do Paranaense e perdeu a Copa do Brasil mais fácil da história é assumir a falta de espírito vencedor. Uma afronta ao torcedor.

Veio o intervalo do jogo, e notei que todos - eu disse todos - meus amigos que me acompanhavam na Baixada desde 1997 não me acompanham mais. Ninguém mais tem tesão de ir ao estádio ver um time sem competitividade, e que cobra um ingresso extorsivo. Eu mesmo só fui ontem porque ganhei ingresso. Não pagaria R$ 40,00 de jeito nenhum para ver os comandados de Vadão.

Começou o segundo tempo, e percebi que os meus amigos foram substituídos por corneteiros esquizofrênicos. A cada bola errada, são vaias, gritos, xingamentos. "Evandro FDP! Jancarlos, VTNC sua m*! Dênis Marques do kct! Netinho sua bicha! UUUUUUUUUHHHHHHHHH... UUUUUUUUUUUUUUHHHHH". Essa é a canção entoada pelos apreciadores, os torcedores da elite privilegiados pela diretoria. Noto que os jogadores do Atlético simplesmente não ousam, evitam jogadas difíceis, pois sabem da represália que os espera se errarem.

Quando entrou o garoto Netinho em campo, constatei que ele não entrou para compor o time, buscar seu espaço, mostrar seu valor. Ele entrou para ser o protagonista, pra resolver todos nossos problemas. Bate escanteio, falta lateral, falta frontal, recebe todos os passes... Tem como dar certo isso? É possível um menino inexperiente entrar em um time fraco/derrotado, diante de uma torcida impaciente e comandado por um técnico limitado, e ser o salvador da pátria? Não é todo mês que nasce um Zico.

Essa talvez seja a pior das constatações: nenhum jogador novo vai dar certo no Atlético. Em outras épocas, com times coesos, técnicos bons e a torcida apoiando, era fácil um jogador se encaixar. Hoje é impossível. E aí eu penso: para quê vai servir nosso Centro de Treinamentos então? Se não revelamos e não revelaremos ninguém?

Não é no CT que estão concentrados todos os nossos investimentos? Não é por isso que o ingresso é caro, e que nos recusamos a pagar salários altos? A lógica não fecha.

Termina o jogo contra o Santos, Marcão se despede, Alex Mineiro deve seguir o mesmo caminho, e eu questiono: vai ser assim até quando?


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