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Michele Toardik
Michele Toardik de Oliveira, 44 anos, é advogada, mãe, sócia ininterrupta há mais de uma década e obsessivamente apaixonada pelo Furacão. Contrariou as imposições geográficas, tornando-se a mais atleticana de todas as "fluminenses". É figurinha carimbada nas rodas de resenha futebolística, tendo como marca registrada a veemência e o otimismo incondicional quando o assunto é o nosso Furacão.
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Passaram tantos temas pela minha mente nos últimos dias que estava até encontrando dificuldades para escrever, queria falar da nossa vitória “em Figueirense”, Copa na Arena, a despedida do ídolo Paulo Rink e da minha felicidade com a renovação do excelente Ferreira, mas depois do jogo de sábado não tive como não partir para um desabafo.
Além da paixão pelo futebol, meu pai me transmitiu o gosto pelos filmes de guerra e mesmo reagindo com maior sensibilidade a toda crueldade despejada nas telas, jamais deixei de reconhecer a necessidade histórica das batalhas, também de apreciar as estratégias e a carga psicológica que um campo de batalha proporciona.
Enfim, independente do filme, de quem o produza ou dirija, por mais “hollywoodianos” e tendenciosos que sejam, nos abrem as portas para muitas reflexões e nos dão uma amostra das mazelas ocasionadas por uma guerra. Episódios lamentáveis são os produtos de maior circulação em tempos de combate, mas, especificamente um sempre me despertou maior tristeza, o malfadado fogo-amigo.
Diz-se que é fogo-amigo quando um soldado é alvejado sem querer, por balas de seus próprios companheiros. Não suporto aquelas cenas em que grupos de soldados esperam ajuda, lutando com suas últimas forças e acreditando que estão a salvo, tornam-se alvos de seus próprios companheiros de batalha.
Pois bem, esse mesmo sentimento de repúdio me consumiu ao ouvir as vaias de muitos torcedores no sábado, que diferentemente dos soldados, agiam conscientes e contra seus próprios aliados que estavam em campo batalhando para se manter na liderança do Campeonato Brasileiro.
Absurdamente, nos momentos em que o nosso Furacão precisava de maior incentivo, rajadas de vaias comprometiam o desempenho de todo grupo. Foram inúmeras as jogadas ofensivas no segundo tempo, faltas próximas à área e escanteios, e ao invés de incentivarem - como a grande maioria - os corneteiros de plantão simplesmente detonavam nossos jogadores, técnico e até mesmo os outros que torciam.
Reconheço que as mudanças do Vadão não me agradaram e a iminência de não conquistarmos os três pontos em cima de um Campeão do Mundo combalido era inaceitável, mas quando um time é vaiado, a tendência é que ele jogue pior do que já estava jogando. Tudo tem sua hora! O momento do jogo é sagrado, sobremaneira no nosso Caldeirão. Se uma pessoa vai ao estádio vaiar o próprio time, ela está comprometendo consideravelmente suas próprias chances de vitória.
Em vez de usar a artilharia pra sufocar o inimigo, damos a eles de bandeja a redenção? Fogo-amigo? Que nada, deserção! Ou pior, trata-se de uma inversão de valores. O que deveria ser exaltado, cantado e defendido com músicas, aplausos e brados, hoje é esquecido e relegado a um plano inferior. Priorizam-se as vaidades pessoais justamente quando o amor ao seu time preferido deveria ser o sentimento a ser carregado em seus corações.
Enfim, entre mortos e feridos, salvaram-se todos! Felizmente temos um daqueles sargentos imortais que conduzem bravamente o seu pelotão à vitória e que não se abalam no front! Mesmo que ainda permaneça a memória negativa dos que desertaram.
Ah! E por falar em fogo-amigo, também fui uma vítima! Meu ingresso de sócia-torcedora não me foi entregue, percebi momentos antes de ir ao jogo e fui correndo para a Arena. Ao tentar resolver a situação descobri que o meu direito ao ingresso só “existia” até duas horas antes do jogo, depois de muito choro a situação foi resolvida extra-Clube e eu pude assistir ao jogo. Sinceramente, esperava apenas respeito, o mesmo que eu tenho pelo Atlético Paranaense!
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