Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Culpa

18/05/2007


Nomear responsáveis por um fracasso é sempre difícil. Dependendo da retumbância do acontecido, muitos fazem de tudo para se livrar de qualquer ônus. Em questões de conhecimento público, fica ainda mais difícil assumir alguma coisa. O julgamento popular é geralmente imediato, cruel, implacável.

Em algumas circunstâncias fica difícil encontrar os verdadeiros culpados, ainda mais se eles correrem para a penumbra. Em outras, os dignos de culpa são óbvios.

A Copa do Mundo de 2014 não virá para o Paraná com o "projeto" que até o momento é o carro-chefe para a escolha de Curitiba como uma das sedes de tão importante evento. Qualquer pessoa com o mínimo de raciocínio lógico e bom senso chega a esta conclusão. Até o evento, faltam muitos anos. Tudo ainda é embrionário. Mas, se para nós, paranaenses, for este o caminho escolhido, o cheiro pungente do fracasso começará exalar e nos torturará até a realização da Copa. Veremos outras cidades, outros estados recebendo a mais importante competição do esporte mais popular do mundo e nós, de fora. Culpem-se Roberto Requião, Ricardo Gomyde, Giovani Gionédis e Onaireves Nilo Rolim de Moura.

Um projeto capitaneado pela funesta Federação Paranaense de Futebol não encontra eco de credibilidade em nenhum dos setores sérios do Brasil. Todos conhecem o ex-deputado cassado Moura. Todos conhecem o seu perfil de administração à frente de décadas do seu feudo chamado Federação Paranaense. Apenas seus vassalos acreditam em suas idéias pirotécnicas. Nem o governador acredita. Seu apoio é mais político do que por conceito. De roldão vem a parte verde do estado, GG e Gomyde. A parte que nos últimos tempos não se lembra de êxito que tenham alcançado. A parte do Coritiba "Foot Ball Club".

Não entrarei no mérito das atuações do representante mor da parte verde à frente de instituições estaduais. E sim no mérito de sua competência, digamos, eqüina, à frente do seu clube. Aquele que chafurda no alto de glórias passadas. E, no seu "projeto de futuro" para aquele clube, está o abandono do estádio "Major" Antônio Couto Pereira, o único e verdadeiro símbolo palpável de orgulho de dez entre dez coxas. Qualquer coxa-branca teria o direito de pedir o impeachment de um sujeito desses. Transformar o símbolo de um povo em um shopping center ou numa possível sede da Igreja do Bispo Edir.

Este projeto é natimorto, pelos custos, que anunciam em 100 milhões de dólares mas que, tendo em vista o mentor, chegaria fácil a uns 300, 400, 500 milhões. Qualquer auditoria feita na instituição que comanda o futebol paranaense, chegaria a um sem-número de argumentos para o governador Requião, que nunca foi ingênuo, tirar seu nome dessa parada. Ele não gostaria de ser taxado de culpado pela não realização da Copa no estado. Não falo nem em lençol freático que inunda aquele banhado a qualquer garoa. A arquitetura e a engenharia estão suficientemente avançadas para resolver esta questão. Mas que ia custar um belo rio de um dinheiro, ia.

As Copas do Mundo são cada vez mais modelos de execução de eventos de grande porte. As duas últimas, atingiram quase a perfeição. Não existe essa de "jeito brasileiro" ou "jeito"sul-americano" de se fazer Copa do Mundo. Existe um padrão de qualidade que deve ser atingido. Uma Copa mal feita é um vexame de nível planetário. Uma Copa com uma orgia financeira também. Taxaria de forma indelével nosso país como terra de corruptos, uma fama que tentamos apagar a muito custo, não de dinheiro, obviamente.

Saindo da pirotecnia e voltando à boa realidade, vamos reconhecer que o estado do Paraná, não tem condições de exigir credibilidade da CBF e da FIFA para que apostem numa parafernália insana que é o tal "projeto". Somos, vamos reconhecer, um estado de pouca representatividade, de mercado pequeno e de importância política bastante relativa em comparação a São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. Não temos os atrativos naturais de estados do nordeste. Não estamos em voga como os estados da Amazônia. Vamos disputar com estados secundários como o nosso. E nessa briga não temos que ser pirotécnicos. Temos que ser viáveis. Temos que facilitar ao máximo a nossa inclusão no rol das sedes.

Antes de uma Copa do Mundo, testam-se os estádios com competições e amistosos. A Copa das Confederações da Alemanha, pouco antes da Copa de 2006, foi um desses testes. Mesmo com todo domínio de engenharia e tecnologia dos pragmáticos alemães, a cobertura de um estádio sucumbiu a uma forte chuva, causando uma goteira homérica em um jogo do Brasil. Nós brasileiros estamos longe de ser pragmáticos. Deixamos tudo para última hora. O "projeto" napoleônico do Severiano e sua turma seria cumprido no prazo? Seria à prova de erros? São perguntas, para nós que conhecemos os mentores, com resposta fácil: não.

Não existe no país um projeto tão testado e aprovado como o da Kyocera Arena. Desde maio de 1999, é sinônimo de eficência, conforto, segurança e credibilidade. Até testado em finais de campeonatos importantes já foi. Já recebeu a Seleção Brasileira, que se sentiu em um típico estádio de primeiro mundo. Mais testado e aprovado que a Kyocera Arena impossível. Mais viável, impossível. Mais verdadeiro, impossível. Mais palpável, impossível.

O resto são quimeras, esquizofrênicas e utópicas. O valoroso estado do Paraná tem que entrar nessa disputa para ganhar, não para perder. Mas se perder, pelo menos temos a quem culpar. Isso pode ser um bom consolo para mentes autofágicas, muito proeminentes no estado.


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