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Rafael Lemos
Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.
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Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo
18/05/2007
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Ontem, 17 de maio de 2007. Diante do computador, quis escrever minha coluninha semanal, mas não consegui. Ontem, os dezoito anos da morte do meu avô, Félix Pedro, pesaram sobre mim, não consegui pensar em outra coisa: ontem, fui todo lembranças.
Depois de tantos anos, descobri que o tempo não é – como alguns querem acreditar – remédio para tudo. Depois de tanto tempo, descobri, de fato, o que significa “amor eterno” de que tanto falamos, de que tanto ouvimos falar. Depois de tanto tempo, ainda pergunto a Deus os motivos que fizeram meu avô nos deixar assim tão cedo, os motivos que levaram o meu grande amigo para tão longe de mim.
Meu avô querido, que saudade! E ai de mim, ai do meu coração que ainda lembra de tudo. Como dói, meu Deus! Como tenho sofrido essa sua perda que se faz maior a cada dia, embora isso possa parecer paradoxal. Nunca me recuperei, desde aquele dia. Nunca vou me recuperar. Meu avô querido, nosso amor é eterno!
Com você, meu avô, aprendi tudo de que precisava e até mais do que esperava aprender (ou do que eu merecia). Aprendi a arte de ser bom, apesar das maldades de muitos; aprendi a arte de sorrir para o mundo, não obstante os sofrimentos; a arte de fazer da vida uma nobre missão, onde o mais importante é abrir caminhos para guiar os passos daqueles que virão, depois de nós; aprendi a amar o dom da vida, sobre todas as coisas; e até mesmo o futebol foi lição aprendida com você.
Você, que era um coxa-branca apaixonado, ensinou a este atleticano toda a cartilha da bola. Não houve nada que você não me ensinasse, nada escapou de nossas conversas futebolísticas, nada desperdiçamos durante aqueles treze anos em que fomos, na verdade, uma só alma. E relembrando agora tudo isso, como eu queria que você estivesse aqui.
Como eu queria poder ouvir, ao pé do rádio, mais um Atletiba e, depois do jogo, tomar aquele cafezão gostoso e ouvir histórias de Atletibas do passado e ouvir histórias do tempo que passamos juntos. Como eu queria tirar um sarrinho de você depois de um belo triunfo Rubro-Negro, como eu queria ouvir você me sacaneando por conta de um qualquer tropeço do Atlético. Tenho saudade de tudo. Como eu queria que você estivesse aqui.
Como eu queria te levar lá na Baixada para mostrar, cheio de orgulho, a minha nova casa. Como eu queria poder reviver aquele dia, do ano mágico de 1982, quando você me levou pela mão conhecer o velho Estádio Joaquim Américo. Como eu queria sentir minha mão na sua mão de novo, como naquele inesquecível dia de 1982. Como eu queria que você estivesse aqui.
Diante do computador, quis escrever minha coluninha, mas não consegui. Faz dezoito anos que meu avô partiu, não consigo pensar em outra coisa: sou todo saudade; não tenho palavras.
Disse o poeta Quintana: “As coisas que não conseguem ser olvidadas continuam acontecendo”. Meu querido avô, meu velho, meu amigo, eu nunca vou te esquecer. Vai aí de cima olhando por mim, até chegar o dia de a gente se encontrar de novo, num Atletiba que vai durar eternamente.
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