Patricia Bahr

Patricia Caroline Bahr, 43 anos, é jornalista e se descobriu atleticana nas arquibancadas do Pinheirão, no meio da torcida, quando pôde sentir o que era o Atlético através dos gritos dos torcedores, que no berro fazem do Furacão o melhor time do mundo. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2010.

 

 

Atlético: maior adversário do próprio Atlético

11/05/2007


Chega um momento em nossas vidas que temos que tomar uma decisão. E o Atlético me parece que está justamente nesta fase, de se decidir o que quer da vida. Se quer continuar sendo um clube de futebol, ou se quer ser um time de vanguarda em outros aspectos extra-campo, mas que não se importa muito com os resultados do mundo da bola. Caso opte em ser um clube de futebol, a escolha passa a ser: quer ser grande ou pequeno? Quer viver de um presente vitorioso ou se agarrando eternamente num passado vencedor?

O fato é: desde 2001 não ganhamos nada. E com isso, como bem definiu o atleticano Giovani Ribeiro no Fórum Furacao.com, o Atlético passou a ser o time do se e do quase.

Em 2004, quase fomos campeões paranaense, se o Mário Sérgio não inventasse, não tirasse o Jadson no fim do jogo ou se não deixasse o Washington no banco. Também quase fomos campeões brasileiro, se o Petraglia tivesse demitido o Levir lá em Erechim, se o Igor não entrasse em campo naquele fatídico jogo contra o Grêmio, se não tivéssemos uma guerra em São Januário na penúltima rodada, se o Levir não torcesse para o Botafogo não cair, ou se o time não tivesse no piloto automático.

Veio 2005 e quase fomos campeões da Libertadores, se jogássemos na Baixada, se o Durval não fizesse gol contra, se o Fabrício não errasse o pênalti no Morumbi.

Ano passado, quase foi o ano do futebol, se não fosse o alemão sumir sem nenhuma explicação. Aí, quase tivemos sucesso na Copa do Brasil, se não apostássemos no Givanildo. E ainda quase fomos campeões da Sul-Americana, se a Conmebol não chamasse mexicanos para disputar a competição.

Este ano, mais uma vez o se e o quase nos persegue. Quase fomos para a final do Paranaense, se não fosse o Héber (que não deu o pênalti no Marcão). E quase chegamos à inédita semifinal da Copa do Brasil, se não fosse o Seneme, ou se não fosse a pisada na bola do Evandro, ou se o juiz desse o pênalti no Ferreira.

Como deu para perceber, para cada fracasso se tem uma boa explicação. E ela nunca está em nós, sempre em fatores externos. No futebol, dizem os estudiosos, há 40% de chances de dar a zebra. E no discurso do Atlético, essa estatística é a que pode justificar qualquer fracasso.

Será que é tão difícil ver que os erros estão na gente? Será que é tão complicado perceber que ano a ano perdemos campeonatos fáceis, contra adversários muitas vezes ridículos, e nada muda? Ao que parece, hoje, o Atlético é o maior adversário do próprio Atlético.

Afinal, o que é o Atlético hoje? Somos um clube que ano a ano vende muitos jogadores, contrata-se poucos jogadores com qualidade, justificando uma mega-reforma no CT, nas obras de conclusão da Arena, num planejamento sustentável. Tá, mas azulejo no CT ganha título?

O torcedor quer dar volta olímpica. O torcedor quer gritar é campeão (quanto tempo faz mesmo que não sentimos esse gostinho?). O torcedor quer ter ídolos. O torcedor quer ter o direito de sonhar e ver os seus sonhos se transformarem em realidade.

Hoje temos uma caricatura de clube de futebol. Perdemos títulos, perdemos campeonatos... e o que é pior: perdemos aquela velha mística que sempre nos acompanhou. Antigamente, jogar contra o Atlético em Curitiba era um sufoco. Ganhar do Atlético na Baixada era impossível. Hoje não é mais. Até quando isso? Só espero que a gente não chegue num futuro próximo repetindo: o Atlético quase foi o maior time de futebol do Brasil, se apostasse no futebol.


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