Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Vozão

10/05/2007


O título da coluna não se refere à uma implausível voz forte do técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão. Até porque Vadão tem tudo menos uma voz forte. Ele se refere ao aumentativo de vô, de avô. Vozão.

Vadão, ou melhor, o Vozão, tem a ousadia de um vôvô cuja grande tarefa do dia é dar balinhas para os netinhos. A escalação do jogador Netinho foi coisa de vô. Só o vôvô pode ser tão bondoso com seus garotos e dar a jaqueta titular do Atlético Paranaense num jogo tão importante ao Netinho, um piá esforçado, mas que, mesmo depois de boas chances, hoje, a da vida, não conseguiu mostrar futebol à altura do Furacão.

Quando o Netinho foi escalado, todo atleticano deve ter pensado: “Ah, o Netinho! Guri novo, foi bem no Náutico ano passado, quem sabe é hoje”. Deve ter pensado assim em todas as outras vezes que o moço adentrou ao prélio. A nós, torcedores, cabe o direito da expectativa. Mas não ao técnico do time. Ele vê o dia-a-dia do elenco, no CT e fora dele. Não acredito que o Netinho destrua nos treinos, jogue muito. Mas, bonzinho como um vozão, deu mais uma chance ao Netinho.

O Vozão apostou errado, apostou no Netinho. Mas vou tirar um pouco o peso das costas do piá. Netinho no ataque? Por que, Vozão? O Netinho não é atacante, caiu naturalmente para o meio, ficou perdido por ali, não sabia se segurava o bom ala Carlinhos do “grená com verde”, se perambulava pelo meio ou ia pro ataque. Enquanto Netinho esteve em campo, mais por culpa do vô, o Atlético Paranaense foi mal e veio a melhorar quando ele saiu devido à expulsão do Guilherme.

Ferreira não estava no jogo por causa desse erro básico. Com mais um indivíduo ali pelo meio, faltou espaço para o colombiano, que é jogador de extrema movimentação. Esse jogo era para Oldoni fixo na área e Alex mais descolado. Dayro Moreno, quem sabe poderia ter uma chance. Mas tinha que ser um atacante, atacante, mesmo. Não o Netinho, o meia esforçado, oriundo do interior de São Paulo, destaque pelo Clube Náutico Capiberibe.

Com o desafogo no meio, passado o susto de tão traumática expulsão e de uma bola do “grená com verde” que não entrou por milagre, Ferreira e Evandro puderam jogar mais, principalmente o Ferreira, com seus dribles curtos em velocidade. Quase chegamos ao gol, tentamos, passamos perto, bola na trave. Mas para ganharmos do Fluminense, tínhamos que ter sido superiores a este time em nossa própria casa. Não fomos. Fomos iguais. Iguais a um time irregular, meia boca.

Muitos criticam o Vadão por uma falta de “voz ativa”. Pode ser um dos pontos fracos dele, mas não explica um fracasso como o de ontem. Seu principal erro é o pensamento defensivista, cacoete de 9 entre dez técnicos em atividade no Brasil, que o impediu de ver o cristalino: que a escalação do Netinho seria um baita erro tático. Será que ele não conhece o jogador? O congestionamento do meio foi péssimo para o nosso time. O verdadeiro Atlético só jogou depois da expulsão do referido atleta, mas aí, jogou com um a menos. O que em Copa do Brasil é, na linguagem do boleiro tecnocrata, um handicap altamente negativo.

Existe, claro, a imprevisibilidade da Copa do Brasil, um torneio de emoções, sorte, estrela, coração. Fica a lição para que não se coloque a Copa do Brasil como prioridade, porque este é um torneio ingrato, difícil, surpreendente, matreiro. Em todos os campeonatos é prioridade para uma agremiação como o Atlético vencer. Mas dá para planejar melhor algum êxito num campeonato de regularidade como o Brasileirão, que começa neste sábado. O Atlético tem time – se for reforçado - para buscar no Brasileirão a Libertadores e o título que não vieram na Copa do Brasil.

Mas isso incorre diretamente para desligamento do técnico Oswaldo Alvarez do cargo. Não dá mais para ele. Daqui para frente é com outro. Tchau, Vozão. Com todo o respeito que este bom homem merece.

Geninho ou Antônio Lopes são opções ululantes.


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