Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

De Mulheres, Homens e Meninos

03/05/2007


Homens e Mulheres são diferentes em tudo. Nasceram para viver separados, mas - em determinada fase da vida - teimam em ficar juntos, para depois se separarem. É a ordem natural das coisas. Mas sem querer estabelecer aqui grandes polêmicas, vou resumir minha tese à assertiva "Homens e Mulheres são diferentes em tudo!" (até porque eu já me separei delas tantas vezes que minhas opiniões vêm cheias de amargura e eu não quero aqui desestimular o amor, ao contrário, bem ao contrário mesmo: muitas das colunas que eu escrevo são deslavadas tentativas de arranjar namoradas, principalmente as atleticanas).

Mas eu ia dizendo que Homens e Mulheres são diferentes em tudo. E são. E provo. As Mulheres são seres maravilhosos, cuja doçura escorre pelos lábios de rubi, numa espécie de fio de mel que, misturado ao leite farto das fêmeas, dá origem a um terceiro produto, que é delicioso e viciante, e aí a gente acaba mesmo comendo (vocês viram que eu tentei escrever uma metáfora quase Salomônica, mas acabou ficando parecida com letra do Wando. Mas eu tentei ser poético...).

Essa é a mulher: carne morna que mordemos quase mortos de amor! (Ah, depois dessa aliteração toda, eu arranjo não uma, mas umas cinco namoradas!!!).

E descrita a mulher, chegamos a nós - os homens - seres repugnantes, cuja aspereza se alastra pelo queixo, numa espécie de arame farpado que, misturado à acne e à falta de cuidados com a pele, dá origem a um terceiro produto, espinhento e pinicante, que em contato com a cútis feminina faz logo surgir a saraivada de protesto: "Não faz mais a barba, não, vagabundo? No começo você fazia a barba antes de vir deitar comigo! Prenderam o barbeiro? Olha que parece ter tombado um caminhão de giletes aqui perto de casa. Não quer ir lá buscar?" - e por aí vai toda sorte de censura feminina contra a nossa barba por fazer (elas não sabem como fazer a barba é chato. São umas insensíveis. Umas insensíveis...).

Apresentados que foram os Homens e as Mulheres, passamos a analisar as prioridades e objetivos de cada um.

A Mulher, como se sabe, tem por prioridades uma porção de coisas, mas o objetivo mesmo é casar. Para as Mulheres, são prioridades: o batom, o perfume, o bronzeamento artificial, o peeling, o lifting, o feeling, o spinning (provavelmente errei todos os termos ingleses, mas me nego a aprender a língua dos imperialistas), o emagrecimento natural, o artificial, o sobrenatural, a carboxiterapia, o preenchimento de estrias, o botox, todas as novelas da Globo, a Psicologia e os livros do Paulo Coelho. Mas o objetivo mesmo é casar! (e não se ofendam, Mulheres, mas faz mais de seis mil anos que a coisa anda nesse diapasão (agora é que eu não arranjo mais namorada, definitivamente).

O Homem, como se sabe, tem por prioridades uma porção de coisas, e todas elas ou são cervejas, ou são Mulheres. Para o Homem, são prioridades: a Pilsen, a Extra, a Premium, a Ale, a Malte, a Altbier, a Kolsch, a Loira, a Ruiva, a Negra e a Morena, sem prejuízo das Asiáticas, das Sardentinhas, das Lunáticas e das Extraterrestres. Mas o objetivo real do Homem é aquilo que ele afirma com a maior certeza, que ele defende com unhas e dentes, que ele não transige em hipótese alguma, que ele não admite nem em sonho, mas que ele ainda não sabe - de fato - o que é. Mas ele sabe que esse seu objetivo é importante e dele o Homem não abre mão. É uma sensação imprecisa, mas ele sabe que lhe é fundamental.

Pronto: desenhou-se o cenário. De um lado, a Mulher, cheia de prioridades e um objetivo claro na cabeça; doutro, o Homem, um grande bestalhão, com a cara cheia de cerveja, a cabeça povoada por lindas mulheres e um objetivo importante que nem ele sabe mesmo qual é.

A Mulher se aproxima, faz-se de desprotegida, de dócil, de carente, de presa fácil e laça, sem muito esforço, o Homem que, mesmo longe de qualquer sonho feminino, pode muito bem vir a ser chamado de marido. Taí: a Mulher atingiu seu objetivo, pescou o Homem e agora vai - para a inveja geral das amigas - casar! E aí tome preparativo pra festa: é vestido branco feito pelo Ronaldo Nitta, é Dia da Noiva, é jantar no Madalosso, é bolo de casamento, convite de casamento, banda que toca em casamento, são as alianças "iguais as da Bia e do Beto" e o noivo passa a ter a mesma importância das lembrancinhas de casamento "iguais as da Fabi e do Romeu".

A Mulher casa porque enfim quer festa. O Homem casa porque enfim quer parar de festar. Homens e Mulheres são diferentes em tudo. De um lado, a Mulher, cheia de prioridades e um objetivo claro na cabeça: casar! Doutro, o Homem, um grande bestalhão, com a cara cheia de cerveja, a cabeça povoada por lindas mulheres e um objetivo importante na vida que nem ele sabe mesmo qual é. É uma sensação imprecisa, mas ele sabe que lhe é fundamental.

E nesse ponto entra na história um amigo meu que se chama Rogério Andrade, mas que, por questões de privacidade, chamarei apenas de Rogério, um dos filhos do Seu Ayrton de Andrade e da Dona Shirley, ambos de saudosa memória. Pois bem, estava o Rogério vivendo lá sua vida, tomando sua cervejinha, torcendo lá pelo seu Furacão, naquele tempo mágico que foi o final da década de 80, começo dos anos 90, quando de repente tomou a tal flechada do Cupido.

Ela se aproximou, fez-se de desprotegida, de carente, de presa fácil e laçou, sem muito esforço, o Rogério que, mesmo não sendo lá um Brad Pitt, até que poderia ser chamado de marido. E aí tome preparativo pra festa: foi vestido branco, Dia da Noiva, jantar em Santa Felicidade, bolo de casamento, convite de casamento, banda que tocava até Bee Gees, alianças "iguais as da Rê e Marcelo" e o Rogério naquela mesma importância das lembrancinhas de casamento "iguais as da Ju e do Otávio".

A Dona Shirley ainda tentou demover o Rogério daquela idéia de casamento, mas não teve jeito: o Homem tava mais caído que o prestígio do Gionédis à frente do time verde. Não teve perdão: no altar se ouviu um par de "sim" e nenhum não! O Homem e a Mulher estavam casados.

Objetivo atingido, a Mulher passou às prioridades: batom, perfume, bronzeamento artificial, peeling, lifting, feeling, o emagrecimento natural, o artificial, o sobrenatural, todas as novelas da Globo, os livros do Paulo Coelho e, é claro, o primeiro filho. Daí veio o Thiago, em 05/02/91, mês no qual o Atlético bateu forte em três grandes do futebol brasileiro: 3 a 0 no Flamengo, 4 a 2 no Grêmio e 2 a 0 no Fluminense. Rogério se sentia feliz e aquela sensação imprecisa, que lhe era tão preciosa, parecia querer ganhar forma e sentido.

Depois de cinco anos, veio o Dhiego, dia 23/09/96, curiosamente um dia depois de o Atlético ter vencido o Coritiba dentro da velha e boa Baixada, com um gol de Oséas, aos quarenta e sete minutos do segundo tempo. Rogério se sentia ainda mais feliz e aquela sensação imprecisa, que ele sabia ser tão preciosa, posto que era seu objetivo de vida, parecia ter ganhado ainda mais forma e sentido.

Em 14/02/2002, chegou o Luccas, já Campeão Brasileiro, estrela dourada e estrela prateada no tip-top Rubro-Negro, presente dos Tios Ayrton de Andrade Júnior e Robinson de Andrade. Estava escalado o quinteto: Mulher, Homem, Thiago, Dhiego e Luccas.

Pena que Homens e Mulheres são diferentes em tudo. Nasceram para viver separados, mas - em determinada fase da vida - teimam em ficar juntos, para depois se separarem. É a ordem natural das coisas e quis o destino que o Homem e a Mulher da nossa vida real se separassem. Aconteceu.

Hoje a Mulher segue seu caminho, firme atrás de seus objetivos e prioridades, ostentando a força, a coragem e a independência que só essas nossas Mulheres admiráveis sabem ter. Mas o curioso dessa história é que o meu amigo Rogério ainda prioriza: a Pilsen, a Extra, a Premium, a Ale, a Malte, a Altbier, a Kolsch, a Loira, a Ruiva, a Negra e a Morena, sem prejuízo das Asiáticas, das Sardentinhas, das Lunáticas e das Extraterrestres.

Mas ele - enfim - descobriu na vida o seu objetivo real, aquilo que ele defende com unhas e dentes, aquilo que ele não transige em hipótese alguma, aquilo que ele não admite perder nem em sonho, aquele objetivo que, a exemplo da Santíssima Trindade, é tripartido (ou tri-unido, sei lá). Aquele objetivo de vida materializado em três guris chamados: Thiago, Dhiego e Luccas, atleticanos como os Tios, como o Pai e como os avós.

Atleticanos como tantos Filhos que fazem a sensação imprecisa no peito de um Homem virar amor! E todo Homem sabe, e toda Mulher sabe que o amor é nessa vida o que há de mais fundamental.

Dedico esta coluna aos meus Amigos Rogério, Thiago, Dhiego e Luccas - todos do clã dos Andrade - todos Atleticanos, frutos de uma paixão que passa de pai pra filho, desde os tempos do Seu Ayrton de Andrade. Aliás, o Seu Ayrton e a Dona Shirley viveram um casamento que só foi desfeito pela morte. Homens e Mulheres são diferentes em tudo? Nasceram para viver separados? Sei lá, cada caso é um caso, cada história é uma história. Eu acabei de contar uma, quem quiser que conte outra...


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