Silvio Rauth Filho

Silvio Rauth Filho, 50 anos, descobriu sua paixão pelo Atlético em um dia de 1983, quando assistiu, com mais 65 mil pessoas ao seu lado, ao massacre de um certo time que tinha um tal de Zico. Deste então, seu amor vem crescendo. Exerce a profissão de jornalista desde 1995 e, desde 1996, trabalha no Jornal do Estado. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2009.

 

 

A Lenda do Caldeirão

24/04/2007


Quando se busca a vitória, a autoconfiança é elemento essencial. No entanto, tudo em excesso prejudica. É o caso do Atlético quando joga em casa.

Para explicar, é preciso retornar ao passado recente. No início, em 1999, a força da Arena surpreendia jogadores e técnicos que vinham jogar aqui. Ninguém imaginava que o estádio pudesse atordoar tanto os adversários. A acústica, a proximidade da torcida e o gramado de qualidade – fator que ajuda o time interessado em jogar bola – empurravam o Atlético para cima dos rivais.

Com o tempo, a fama do estádio se espalhou pelo Brasil. E, aos poucos, os adversários foram apreendendo a lidar com o chamado “Caldeirão do Diabo”. Para piorar, a partir de 2004, os preços dos ingressos transformaram o estádio num recanto da burguesia curitibana. O povão, que sempre ajudou o Atlético, até nos momentos mais difíceis, ficou soterrado num cantinho. A Baixada ficou coberta de concreto frio e de mimadinhos da alta sociedade. Aqueles garotinhos criados a leitinho com pêra e Ovomaltine, que hoje são donos do mundo e xingam o time antes mesmo de entrar em campo.

Outro problema foi o excesso de confiança dos jogadores na Arena. Criou-se a Lenda do Caldeirão. A cada atuação patética fora de casa, os atletas vomitavam o mesmo discurso: “Vamos reverter lá na Arena”. Mas não revertiam. Esperavam que o estádio ganhasse o jogo. Mas estádio não ganha jogo.

Não foi por acaso que, em 2006 e 2007, o Atlético sofreu derrotas humilhantes dentro de casa. E, até agora, não surgiram explicações convincentes para o fiasco.

No entanto, a Arena ainda guarda seus poderes. Quem foi ao jogo contra o Vitória sabe muito bem disso. Com o povão de volta ao estádio, graças à promoção de ingressos, as arquibancadas ganharam vida e o time incendiou o gramado. Agora, nos resta torcer para que a lenda volte a ser uma realidade constante.


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