Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Eu quero o meu Atlético de volta

23/04/2007


O Atlético precisava de uma vitória simples contra o Paraná para chegar à final do Paranaense 2007. Bastava uma vitória simples, mas nenhuma vitória é simples. A tal vitória simples não veio e não veio porque nós, na verdade, não a merecemos. Aliás, ultimamente, atleticano nenhum merece vencer: nem eu, nem você, nem a Comissão Técnica, tampouco algum atleta, menos ainda nossa Diretoria.

Nos últimos tempos, nós – atleticanos - ficamos mais preocupados em dividir a Arena entre GV Superior e Inferior, entre mais atleticanos e menos atleticanos. Ficamos mais ocupados em saber como seria o futuro daquele desgraçado do Dagoberto e esquecemos o Atlético, ou melhor, deixamo-no em último plano. E aí não podia mesmo dar nada certo.

Hoje, somos um time sem alma! Antigamente, e não faz tanto tempo assim, éramos todos torcedores, íamos ao campo para torcer e fazíamos isso durante os noventa minutos. De uns tempos para cá, convertemo-nos em cobradores e já entramos na Arena para exigir a vitória, os títulos, as goleadas, os triunfos. Mas exigir como? Exigir de quem?

Cléber, Guilherme, Nei, Danilo, Marcão, Netinho, Alan Bahia, Erandir, Pedro Oldoni, Evandro, Ricardinho e Rogério Correia? Deles é que nós vamos exigir a vitória? Ora, eles fizeram o melhor, só que o melhor deles nunca será o suficiente. Falta bola! Nem digo que falte raça, empenho, correria: mas falta bola e com eles não dá mais!

Vamos exigir do Vadão? Também não dá. Excelente pessoa, sujeito íntegro, teve uma passagem maravilhosa em 1999, mas não tem mais o que dar ao Atlético. Precisa ir embora, para não voltar mais. Fraco, teimoso, dono de poucas concepções táticas, Vadão só voltará a vencer se lhe cair nas mãos um timaço daqueles que jogam apesar do técnico. Vadão só voltará a vencer se lhe cair nas mãos um Flamengo do Zico ou um Atlético daqueles da Seletiva para a Libertadores-99. Do contrário, está fadado ao limbo, onde já moram figuras igualmente fracas como o Mário Sérgio, Márcio Araújo, Otacílio Gonçalves e Candinho.

Exigir do Fleury? Um Presidente cultíssimo, estudadíssimo, refinadíssimo, mas sem vibração. Para quem não sabe, o Presidente Fleury é advogado, procurador jurídico da UFPR, empresário, fala sei lá quantas línguas, enfim, é o que a sociedade costuma chamar de “lord”, “dândi”, “cavalheiro”, mas é de uma passividade irritante. Para falar dessa passividade, vou contar uma breve história.

Certa vez, lembro-me que o Atlético precisava colocar quinze mil pessoas lá no Pinheirão num jogo contra o Atlético-MG. Naquele campeonato, havia a necessidade de se ter, além do índice técnico, um número mínimo de pagantes para permanecer na primeira divisão (era mais um desses regulamentos idiotas editados pelo Clube dos Treze com o aval da CBF). O nosso Atlético estava no fio da navalha. Sabendo disso, o Presidente Valmor Zimermann ocupou espaços na televisão para chamar o povão para o jogo. Criou-se um clima de comoção tão grande que superamos os quinze mil pagantes necessários. E olha que era lá no Pinheirão, no absurdo Pinheirão.

O Presidente Valmor, durante a manhã daquele domingo, ocupou a televisão a cada intervalo aqui da Rede Manchete de Curitiba e falou com o coração, tendo ao fundo a bandeira Rubro-Negra. Ao final do pronunciamento, ouvia-se o hino, cada vez mais forte, e a vontade que dava era de sair do sofá direto para o Pinheirão. Foi de arrepiar.

Esse era o nosso Presidente: autêntico e atleticano dos mais apaixonados!
Mas o Fleury faz o quê? Nada! A única vez que se manifestou publicamente com certa dose de energia foi para dizer que a torcida do Atlético era composta de marginais que deveriam ficar na periferia e não freqüentar a Arena (pronunciamento feito às rádios depois do jogo Atlético e Figueirense, em 2004). Dele dá para exigir o quê?

Nos últimos tempos, a gente se acostumou a ver nossos craques irem embora e nada de reposições à altura. Foi-se o Washington Coração Valente e veio ninguém! Foram-se Jádson e Fernandinho e vieram nada! Enquanto isso, todos ficaram focados no tal Dagoberto como se o Atlético se resumisse a ele ou dele fosse dependente. Perdemos tempo, perdemos craques e – agora – perdemos um estadual do qual éramos favoritos (e a gente precisava só de uma vitória simples, mas nenhuma vitória é simples!).

A partir de agora, para salvar o semestre, resta-nos a Copa do Brasil, competição na qual ainda temos boa chance desde que vençamos o Atlético-GO por 2 a 0 ou placar que lhe iguale os efeitos. Não será fácil, mas a esperança persiste.

Para isso, é preciso que nós – nesse próximo jogo – entremos na Arena com alma de torcedores, não de cobradores. É preciso que os jogadores também se empenhem além do que lhes for possível. É preciso que a Diretoria vá aos microfones, despidos da soberba sempre desnecessária, e convoque o povão a se unir outra vez em torno do Atlético, pois só a união pode nos salvar.

Para vencer, não basta vontade: é preciso mérito e para se ter mérito é necessário luta (e bravura). E é preciso alma, daquelas que a gente costumava ter no tempo em que éramos mais atleticanos e menos arrogantes.

Agora, que venham os Atléticos: o goianiense, adversário da próxima partida, e o Paranaense que, há tempos, não aparece na Baixada!

Desculpem-me o desabafo, mas hoje eu só quero o meu Atlético de volta...


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