Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Prazo de validade

20/04/2007


Tem muita gente que acha que a instabilidade do cargo de técnico de futebol deve ser creditada ao imediatismo, à ansiedade por resultados e títulos e sobretudo à necessidade dos cartolas darem uma satisfação à galera. Já fui dos que pensaram assim e mais: acreditava com convicção que a sustentação de um treinador por logo tempo no clube, independentemente do resultado do time, fortaleceria o grupo. Estou mudando de idéia.

Uma análise superficial do que tem acontecido no futebol brasileiro em geral, e no Atlético em particular, me força a pensar que os treinadores brasileiros têm um determinado prazo de validade, que, aliás, não costuma ser muito longo.

Tenho notado que os jogadores têm dado muito mais valor ao discurso motivacional do técnico do que propriamente às suas habilidades como treinador, no sentido estritamente técnico da palavra.

Evidentemente o técnico tem obrigação de conhecer fundamento e estratégia de futebol, mas como um bom comandante, também deve se preocupar em manter o alto astral do grupo e aí é que está o xis do problema. Para manter o grupo ligado é necessário não desgastar o discurso e para não desgastar o discurso é preciso que as suas propostas funcionem, senão sempre, pelo menos na maioria das vezes.

Pessoalmente, gosto do Vadão. Acho que ele é um cara equilibrado e que já demonstrou entender da profissão, mas temo que o seu discurso tenha perdido a força, até porque com toda a capacidade que ele seguramente tem, ainda não conseguiu corrigir alguns erros recorrentes do time e isso começa a minar a confiança no seu talento.

Só um idiota não muda de idéia quando as evidências mostram que algo está errado e Vadão não é (nem de longe) um idiota.

Vadão precisa urgentemente refletir sobre as suas convicções e se for necessário, ter a inteligência de mudá-las radicalmente, ainda que para colocar em prática uma nova ordem ele tenha que usar toda a sua habilidade de motivador e de líder. Doa a quem doer.

Depois de uma semana vitoriosa, o nosso técnico poderá romper o paradigma e prorrogar o seu prazo de validade indefinidamente. Mas precisa mostrar com resultados dentro de campo, que seu discurso não perdeu o efeito.


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