José Henrique de Faria

José Henrique de Faria, 74 anos, é economista, com Doutorado em Administração e Pós-Doutorado em Labor Relations nos EUA. Compareceu ao primeiro jogo do Clube Atlético Paranaense em 1950, no colo de seu pai. Seu orgulho é pertencer a uma família de atleticanos e ter mantido a tradição. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.

 

 

Proposta para o Pinheirão

16/04/2007


Não gostaria de entrar nesta discussão sobre onde serão realizadas as partidas da Copa do Mundo de 2014 em Curitiba, caso aqui seja de fato uma das sedes deste mundial. Mas, confesso, não consegui resistir. O debate está nas ruas, nos jornais, e eu não tenho como não participar dele. Mas, diferentemente de outros debatedores, eu também tenho uma proposta para tornar o Pinheirão um estádio adequado para a Copa do Mundo a um custo baixo e que poderá ser utilizado por clubes de segunda divisão.

Por que realizar jogos no estádio da Baixada, que já está quase pronto e é considerado o mais moderno do Brasil, se podemos jogar dinheiro no abstrato, na metafísica, nos sonhos e na imaginação? Faz sentido trocar o certo pelo duvidoso. Vamos todos apostar no Pinheirão. No novo Pinheirão, que ressuscitou dos mortos. A solução é simples.

Primeiramente, envolvemos o belo estádio do Pinheirão em uma cinta larga que será apertada por um torniquete mecatrônico, fabricado pelo vizinho do amigo do investidor. Depois, fixamos em exatos 16 pontos, distribuídos geometricamente, cabos de aço de alta resistência, fornecidos pela empresa da prima do marido do cunhado do investidor. Estes cabos serão ligados todos a um guindaste movido a força nuclear, desenvolvido pelo outro vizinho do investidor. Em uma operação delicada e com alta precisão, enquanto o torniquete mecatrônico aperta a cinta larga o guindaste nuclear levanta as estruturas, de forma que, ao final, o Pinheirão ficará mais alto, suas cadeiras parecerão ficar mais inclinadas e mais próximas do campo de jogo, podendo mesmo ser eliminada a inútil pista de atletismo.

Já ouviram falar da Bombonera? Estadio La Bombonera (oficialmente Estadio Alberto J. Armando) Club Atlético Boca Juniors? Pois, ficará parecido. Mas, La Bombonera é antigo e eu não vou cair nesta armadilha de fazer um projeto ultrapassado. Meu projeto tem a forma externa do La Bombonera, mas contempla uma cobertura de polietileno que fecha quando faz sol e abre quando chove. Ou será o contrário?

Sei que é difícil de acreditar, mas se podemos crer na proposta de pessoas que não têm crédito nem mesmo em sua própria torcida, porque não acreditar na minha proposta? Afinal, possibilidades por possibilidades, tudo vale neste mundo em que não há interesses outros que não sejam os de valorizar o esporte bretão (esta é antiga, convenhamos!). Por isso, caro leitor, peço seu crédito e seu apoio.

Mas, eu preciso de um tempo. Pelo menos trinta dias para apresentar um projeto (ou seria um desenho) em uma cartolina. Não peço mais do que foi dado à outra proposta. De posse de meu programa de Auto-CAD (CAD é a sigla de Computer Aided Design ou Projeto/Desenho Assistido/Auxiliado por Computador, nome genérico de sistemas computacionais ou softwares utilizados pela engenharia, geologia, arquitetura, e design para facilitar o projeto e desenhos técnicos) posso fazer o projeto em uma semana, mas trinta dias valoriza mais a proposta. Se eu disser que levei 30 dias para fazer o projeto, parecerá mais importante do que se eu disser que precisei de 05 dias. Acrescento uns desenhos de pessoas fictícias circulando, uns veículos fictícios, cadeiras fictícias, arquibancadas fictícias e campo de jogo fictício. Arrumo um patrocinador/investidor misterioso disposto a jogar US$ 100 milhões em um empreendimento fictício e torno o que é aparentemente fictício em algo realmente fictício. Ah, não podemos esquecer o caderno da FIFA. Seria um caderno espiral? Não importa. A ficção não quer saber o tipo de caderno, pois se contenta em ser uma ficção.

Teremos estacionamento para veículos de todas as delegações estrangeiras e nacionais. Além, é claro, dos torcedores, que pagarão uma nota para estacionar lá (não adianta reclamar, será caro. Os insatisfeitos pegarão o Ligeirinho de Pinhais ou o Expresso do Capão da Imbúia). Teremos espaço para a fuga depois dos jogos (sabem como é, a tradicional briga entre as torcidas organizadas do Japão e da Suécia, motivada por uma rivalidade histórica). Ruas maravilhosas, asfaltadas e arborizadas, cercarão o Neo-Pinheirão (quero ver os estrangeiros falando este "ão"). Serão oferecidas alternativas para os freqüentadores, tais como Shopping Center, Rede de Cinemas Pop e Classic Arts, Restaurantes Internacionais, Salões de Beleza (onde os apresentadores poderão fazer maquiagem e os atletas poderão fazer exóticos cortes de cabelo), charutaria (cartola é cartola), sapataria especializada em chuteiras coloridas e, o mais importante, sanitários com papel higiênico com logotipo do Mundial. Ofereceremos, também, duas opções para os que não desejam ver os jogos (não é engraçado?) ou os que querem fazer algo diferente nos intervalos: o Jóquei Clube, para os aficionados, e um Bingo Oficial, para os alternativos. Apresento, sem nenhum interesse, este projeto, formalmente, sabendo que ele é recomendado por pessoas que também não têm qualquer interesse político ou outro que não seja o bem do futebol e vou concorrer com a outra proposta que anda circulando por aí. Aquela!

E não me venham com esta história de que faltam escolas, creches, hospitais, postos de saúde, infra-estrutura urbana e social. Vamos gastar dinheiro (muito dinheiro) com o que realmente interessa: construir ou reformar estádio. Como não tem pão, vamos de circo.

Na realidade, minha proposta é tão boa que até aquela outra parece que já está sendo mudada. Não seria mais no Pinheirão. Ou seria? Por acaso teremos três propostas? Aquela, aquela outra e a minha?

Se você, leitor, acha que minha proposta pode ser levada adiante, faça um abaixo assinado e entregue em um dos postos de coleta que a FIFA gentilmente colocou à disposição dos torcedores nos salões nobres da rede fast drink "Boteco Peteleco". Se conseguirmos cinco assinaturas, o projeto será levado à FIFA e será votado no dia 32 de abril (seria 31? Ou, então, 30?), junto com o outro, aquele! O vencedor, com apoio oficial, será anunciado no dia 10 de maio na Praça Vermelha, em Moscou (não me pergunte o motivo), momento em que também, no Rio de Janeiro, será apresentado para todo o Brasil, pelo mesmo apresentador do Big Brother, O Investidor, este misterioso ser cor de alface com couve de Bruxelas, misturado com listras de merengue.

Esta coluna é dedicada, com toda minha admiração, ao Atleticano Ricardo Simões Alves Pinto, jovem Administrador, e a seus pais, professores, que, na formatura do curso de Administração da UFPR no dia 12 de abril, turma da qual com muita honra fui paraninfo, me emocionaram profundamente com suas emoções.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.