Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Aos cabeças de pudim

13/04/2007


Quando eu era pequeno, gostava de assistir aos Três Patetas. Morria de rir com as proezas que Moe Howard, Shemp Howard e Larry Fine armavam (aliás, esta foi a formação clássica dos Três Patetas. Depois apareceram: Curly, Joe e Curly Joe. Mas a formação original foi - sem dúvida - a melhor).

O Moe era o cara invocado e tinha um cabelo de tigela (ele era parecido com o Marolla, goleiro do Atlético entre 1985 e 1990). O Shemp era o cara tranqüilo e bobalhão. O Larry era aquele que tinha um cabelo engraçado, parecia feito de bombril, e por qualquer coisa tinha lá os seus ataques histéricos.

Eu era fã do Moe. O cara era brabo, boca dura, explosivo, atrapalhado, mas no fundo era um ingênuo, uma criança, um coração mole. Hoje eu percebo que sempre fui fã do Moe porque trago comigo todas as características dele.

Os filmes dos Três Patetas eram de uma simplicidade absoluta: diálogos toscos, farta distribuição de xingamentos e sopapos, dedo no olho, pancadas na cabeça e o pastelão - amplo, geral e irrestrito - garantia de muitas gargalhadas.

Para quem não viu - se é que alguém não viu - tento reproduzir a tônica dos diálogos das três figuras (e para tanto, valho-me da minha memória. Desculpem qualquer imperfeição).

Larry: "Ei, Moe! Prendemos este meliante furtando objetos dentro daquela casa."

Moe: "Mas macacos me mordam! Que diabo está acontecendo aqui? Quem disse que podemos prender meliantes? Somos apenas encanadores!!!"

Larry, apontando para o Shemp: "Ele que disse!!!"

Shemp, apontando para o Larry: "Ele que disse, Moe. Eu não disse nada, aliás eu não digo nada. Quem muito diz, se contradiz!!!"

(Nesta altura da cena, Moe esbofeteia os dois). E o caldo engrossa!

Moe: "Ora, seus cabeças-de-melão! Vocês não conhecem a Lei? Esse bandido tem que ser preso pela Polícia."

Enquanto os três brigam, o bandido tira o molho de chaves do bolso de Shemp e começa a se afastar do grupo, sorrateiramente, andando para trás, até deixar rapidamente a sala.

Larry: "Ei, mas espere aí, Moe. As vítimas não chamaram a Polícia. Elas chamaram a gente."

Moe: "Oh, mas não é que essa sua cabeça de minhoca consegue pensar?" (Moe segura os cabelos eriçados de Larry e o puxa com força). "Ora, seu cabeça de pudim. Eles chamaram vocês, mas vocês não são a Polícia! Vocês são dois idiotas que não sabem a diferença entre uma algema e uma gemada! (E dito isso, cacete nos dois!).

Esses eram os Três Patetas da minha infância. Muito tempo se passou, eu cresci e os Três Patetas - hoje - são outros. Deixem-me apresentá-los: Gionédis Moe, Onaireves Shemp e Larry de Miranda (aliás, esta é a atual formação clássica dos Três Patetas, mas aparecerão outros!).

Gionédis Moe é o cara invocado. Onaireves Shemp é o sonhador e bobalhão. Larry de Miranda, por qualquer coisa, tem lá os seus ataques histéricos e sai por aí dando palpites, os mais descabidos. Eu não gosto de nenhum deles, pois não entendo suas trapalhadas e nem acho graça nenhuma no que eles fazem.

O trio moderno de patetas, atualmente, está em cartaz com o filme: "Os Três Patetas na Copa do Mundo do Brasil". Para quem não viu o filme - se é que alguém ainda não viu - tento reproduzir a tônica dos diálogos das três figuras (e para tanto, valho-me da minha imaginação).

Larry de Miranda: "Ei, Gionédis Moe! Precisamos construir um estádio de 100 milhões de dólares para sediar a Copa do Mundo que será realizada no Brasil em 2014."

Gionédis Moe: "Mas macacos me mordam! 100 milhões de dólares me parece muito dinheiro. Como é que nós vamos levantar uma fortuna dessas? E quem é que te disse que cabe a nós dar à cidade de Curitiba um estádio desses? Afinal, que diabos está acontecendo aqui? Quem disse que nós seremos os responsáveis pelas deliberações paranaenses acerca do Mundial 2014? Somos apenas representantes dos nossos clubes e da Federação!"

Larry de Miranda, apontando para o Onaireves Shemp: "Ele que disse!!!"

Onaireves Shemp, apontando para o Larry de Miranda: "Ele que disse, Gionédis Moe. Eu não disse nada, aliás eu não digo nada. Quem muito diz, se contradiz!!!"

(Nesta altura da cena, Gionédis Moe esbofeteia os dois). E o caldo engrossa!

Gionédis Moe: "Ora, seus cabeças-de-melão! Vocês não conhecem a Lei? Pois eu conheço a Lei e, como sou Advogado, conheço também os modos de burlá-la. Vocês conhecem a Democracia? Pois eu conheço e, como bom ditador que sou, entendo a Democracia como sendo a vontade dos que mandam sendo empurrada goela abaixo daqueles que obedecem! E eu mando! Eu mando! E tenho dito".

Enquanto os três brigam, o bandido - aqui representado por qualquer outro Estado da Federação, louco para sediar alguns jogos da Copa do Mundo 2014 - tira o molho de chaves do bolso de Onaireves Shemp - o bestalhão - e começa a se afastar do grupo, sorrateiramente, andando para trás, até deixar rapidamente a sala indo tratar dos interesses do seu Estado, já que os interesses paranaenses parecem sempre fadados a morrer por conta da inveja, da burrice e do autofagismo araucariano!

E a cena continua.

Larry de Miranda: "Ei, mas espere aí, Gionédis Moe. Você já parou pra pensar que o Mundial dura só um mês e que depois o tal super-estádio de 100 milhões de dólares - longe pra burro, diga-se de passagem - vai acabar sobrando pra gente pelo prazo de 50 anos e que ali no Tarumã nunca deu certo estádio de futebol?"

Gionédis Moe: "Oh, mas não é que essa sua cabeça de minhoca consegue pensar?" (Gionédis Moe segura os cabelos eriçados de Larry de Miranda e o puxa com força). "Ora, seu cabeça de pudim. Você não percebe que ali está o nosso futuro? Imagine! Construir um mega-estádio de 100 milhões de dólares, com capacidade para 60.000 torcedores, justamente naquele local privilegiadíssimo que é o Pinheirão! Grande tacada, jogada de Mestre! Vocês são dois idiotas que não sabem nada sobre o futebol. Mas eu sei, eu sei, afinal, eu sou Gionédis Moe, o maior dirigente da história do futebol do Paraná! (E dito isso, cacete nos dois!).

Quando eu era pequeno, gostava de assistir aos Três Patetas. Morria de rir com as proezas que Moe Howard, Shemp Howard e Larry Fine armavam. Mas agora que cresci, confesso que não consigo achar graças nas trapalhadas que armam Gionédis Moe - o cara invocado, Onaireves Shemp - o sonhador bobalhão - e Larry de Miranda, o nervosinho frasista da Vila.

Será que o Estado do Paraná não é suficientemente capaz de enxergar o óbvio? Será tão difícil reconhecer que a ARENA DA BAIXADA já é uma realidade e que, se for concluída, atenderá TODAS as exigências da FIFA? Será que o autofagismo paranaense falará mais alto e afastará de nós a possibilidade real de sediarmos alguns jogos do Mundial 2014?

Alguém normal acreditará nas promessas desses Três Patetas da bola que, por suas instituições não fizeram nada ou quase nada? Copa do Mundo é assunto para gente grande e gente grande tem currículo.

O que deram ao futebol do Paraná Gionédis Moe, Onaireves Shemp e Larry de Miranda? Todos os torcedores paranaenses querem - há tempos - o afastamento do Onaireves. Todos os torcedores do Coritiba querem - há tempos - a saída do Gionédis e se salva, apenas, o Professor Miranda que, à frente do Paraná, tem feito um bom trabalho, mas ainda carece de cancha para poder falar sobre assunto tão relevante!

E o que é que os Patetas querem? Querem - por inveja ou por outro sentimento subalterno - afastar o Atlético da honra que é receber as partidas de uma Copa do Mundo. Ocorre que esse egoísmo e essa inveja podem vir a penalizar TODOS os torcedores paranaenses e aí já não se trata somente de atingir o Atlético, mas, sim, de atingir um povo que ama o futebol e que merece receber a Copa.

Brincadeira tem hora! É tempo de TODOS os paranaenses se unirem em torno de um objetivo comum que é sediar a Copa do Mundo de 2014. Quis o destino que o estádio mais adequado fosse a ARENA DA BAIXADA, como em 1950 foi o Durival de Britto e Silva, hoje pertencente ao Paraná Clube.

Quis o destino que o Petraglia edificasse a ARENA dentro dos padrões da FIFA, ou perto desses padrões, e não me parece justo, agora, menosprezarem todo o trabalho liderado pelo Petraglia por conta de invejas ou ciúme.

Seria mais digno e mais nobre TODOS nós trabalharmos para transformar o Estado do Paraná em sede do Mundial 2014 e os descontentes que trabalhem, como fez o Petraglia, para quem sabe sediarmos outra Copa lá pelo ano de 2038!

Até lá, é possível que o Gionédis Moe já tenha tirado o seu time da Série B, é possível que o Onaireves Shemp já tenha concluído o seu interminável Pinheirão, é possível que Larry de Miranda já tenha aprendido a respeitar o Atlético!

Em resumo: se alguém sonha com a Copa 2014 no Paraná, enxerguem a realidade e ela se chama ARENA DA BAIXADA, seus cabeças de pudim!


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.