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Juliano Ribas
Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.
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Mantendo a coerência
10/04/2007
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A diretoria não arreda pé de suas convicções. Esta fidelidade ao projeto de crescimento atleticano sempre foi, sem dúvida, um fator fundamental para o êxito da empreitada, ainda em andamento, mas de indiscutÃvel sucesso. Como volta e meia cita o Petraglia um conhecido provérbio: "é preciso quebrar alguns ovos para se fazer uma omelete". Por isso foi surpreendente que tenha concordado em reduzir os ingressos para o comovente jogo contra o Vitória. A questão que se levanta agora é: e daqui para frente como é que vai ser?
Antes de mais nada é preciso ponderar um fato: tudo nasceu de um deslize incrÃvel. Nada disso teria acontecido se nossos atletas não tivessem dado o mole monumental que deram em Salvador. Uma equipe que compromete-se a vencer uma competição, jogar como o fez no jogo de ida e voltar com quatro gols na bagagem foi, no mÃnimo, negligente. Portanto, a diretoria abriu uma exceção devido a um erro dos atletas. Valeu o esforço e principalmente a hombridade desses jogadores em honrar a concessão feita. A festa foi linda, comoveu a todos. Ainda estamos emocionados com tudo o que aconteceu. Foi uma vitória que mostrou a grandiosidade do Atlético Paranaense, o poder de sua camisa, a mÃstica de seu pavilhão, o fanatismo e a lealdade de sua gente. Criou-se um clima todo favorável para vencermos esta competição.
Mas a realidade é que os jogadores do Atlético não podem se dedicar, fazer grandes exibições e alcançar os objetivos que deles são esperados apenas se temas extra-campo forem criados. Até onde eu sei, recebem em dia e têm bons contratos, contam com uma infra-estrutura de apoio invejável e têm todo o auxÃlio que precisam para um bom exercÃcio da profissão. Uma equipe tecnicamente superior como a do Atlético Paranaense não poderia ter colocado um semestre em cheque ao perder amplamente para um time com limitações e que busca sua volta à elite do futebol, como é a do Vitória da Bahia. Devem estar cientes que jogar no Atlético é a motivação principal, pura e simplesmente. Têm que saber que fazem parte de uma grande e tradicional instituição e que são os representantes da maioria no estado do Paraná. E não esquecer que não dá pra contar sempre com a torcida, afinal, o Atlético joga metade das suas partidas como visitante. Não podemos apanhar daquele jeito seja onde e para quem for. Não podemos contar que a reversão de quadros tão adversos será recorrente.
Não ignoro que um clima de positividade é benéfico e contribui para belas vitórias. A torcida do Atlético é naturalmente flamejante e precisa apenas de uma faÃsca para explodir. Quem não se lembra das campanhas do Brasileiro de 2004, das fases finais da Libertadores de 2005 e da campanha da Sulamericana do ano passado? Sempre estádios cheios nos momentos decisivos, mesmo com o ingresso em seu preço normal. O que atrai o torcedor é resultado. Se na Quinta Santa não houvesse promoção de ingresso pela metade do preço, o estádio ficaria com nem metade da lotação, afinal era um jogo considerado perdido por muitos, mas se fosse a final ou semifinal do mesmo campeonato terÃamos casa cheia. Portanto, o que ficou registrado neste jogo foi a importância e a viabilidade de se fazer promoções de ingressos em certos momentos. Mas que não se espere e nem se cobre da diretoria uma redução permanente do preço dos ingressos. Os preços são justos e parelhos ao nÃvel do estádio e da estrutura premium do Atlético Paranaense.
Um ingresso pela metade do preço ficará custando o equivalente ao cobrado no "estádio" Couto Pereira, onde a atração principal é um time de segunda divisão e o cheiro de urina é o brinde. Pleitear uma diminuição permanente do preço do ingresso é comparar o nosso estádio, o Taj Mahal do futebol brasileiro, a Kyocera Arena, a um estádio comum desses que existem em Curitiba ou em qualquer cidade do Brasil. É desmerecer tudo o que temos, é nivelá-lo por baixo. É dizer que A Kyocera Arena merece sediar um jogo de Copa do Mundo tanto quanto os lúgubres Severianão e Erasmo Carlos ou o campinho varzeano lá da Vila Pinto. Entretanto, podemos, sim, exigir coerência da diretoria, e coerência é marca dessa administração, para que mantenha esta promoção até o final da Copa do Brasil. Não faz mais sentido voltar tudo como era antes nesta competição sendo que a mobilização ocorrida para aquele jogo foi um fator importante para a permanência na Copa. Não dá para usar esse fator e jogar fora depois. Portanto, é daqui até a final, se Deus quiser, e com o desconto de 50%. Pra ganhar a Copa do Brasil. Pra trazer este caneco pra Baixada. Pra voltar à Libertadores e reiniciar o sonho da conquista da América.
Mas o Atlético não pode ter um déficit de 50% no longo e desgastante Campeonato Brasileiro, ou em torneios caros como a Libertadores da América. O Atlético não pode abrir mão da captação de sócios e de exaltar as benesses de ser Sócio Furacão. Não pode transformar um fato extraordinário em regra. O "fator excepcional" da situação seria perdido na rotina dos campeonatos e o ingresso barato não seria garantia de casa cheia em todos os jogos. Voltariam a lotar os jogos contra Flamengo, São Paulo e Corinthians e o público seria apenas razoável contra América-RN, Náutico, e outros. O Atlético, caso vença a Copa do Brasil, teria que se reforçar e renegociar contratos para fazer um time forte para uma Libertadores da América. A participação dos torcedores contribuindo financeiramente seria essencial para isso. Então vamos voltar ao planeta Terra, parar de pleitear o que não será possÃvel, parar com discursos demagógicos, "vitória dos pobres", atribuir as conquistas do Furacão unicamente à torcida. Torcida não ganha jogo, ajuda a ganhar. A verdade é que foi montado um ótimo time para 2007 e este mesmo ótimo time quase pôs tudo a perder, não sei se por empáfia, preguiça, azar, não interessa. Precisou da ajuda da torcida para não estragar precocemente o ano e ela ajudou, e muito. Nota dez pro povão do Furacão, cumpriu bem seu dever de atleticano.
O que ficou provado foi o poder das promoções. O Atlético deveria explorar com mais ousadia este fator promocional, e mais vezes. Não deve subestimar o poder da busca pelo envolvimento, a força da persuasão e da propaganda para conquistar e fidelizar mais sócios e torcedores. O coração diz que o jogo de quinta passada foi um dos espetáculos mais memoráveis de grandeza e de união já vistos no futebol do estado. A razão diz que esta foi a melhor e mais bem sucedida, talvez a única com amplo sucesso de adesão, de público e de crÃtica, ação promocional da história do Atlético desde a inauguração da Arena. E uma estratégia vencedora como essa não se abandona de uma hora para outra. Faltam quatro jogos em casa até o tÃtulo, e todos esperamos que a promoção seja mantida para estes quatro jogos. Vamos todos manter a coerência e ganhar a Copa do Brasil. Depois, é outra história.
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