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Rafael Lemos
Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da LÃngua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.
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Quinta-feira da paixão
06/04/2007
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Era preciso vencer. Mais do que isso: era preciso vencer e de preferência por três a zero. E ainda mais: era preciso vencer, por três a zero, um adversário que nos impusera uma goleada de quatro a um. Em linhas gerais: era preciso quase um milagre.
Era Quinta-feira Santa, dia marcado - segundo a BÃblia - por dois acontecimentos: a última Ceia de Cristo com seus discÃpulos e a traição de Judas. Esses dois acontecimentos encontram seu sentido no amor. A última Ceia é a revelação maior do amor redentor de Deus pelo homem, do amor enquanto essência da salvação.
A traição de Judas, por sua vez, mostra que o pecado, a morte, a destruição de si mesmo, provêm também do amor, mas de um amor desfigurado, desviado daquilo que merece verdadeiramente ser amado. Grande é o mistério deste dia único cuja liturgia - impregnada ao mesmo tempo de luz e de trevas, de alegria e de dor - nos coloca diante de uma escolha decisiva da qual depende o destino eterno de cada um de nós.
Era Quinta-feira Santa, precisávamos de um milagre, e cada um de nós, atleticanos, se viu diante de uma escolha decisiva da qual dependeria o nosso próprio destino: acreditar ou não nesse grande milagre de que precisávamos para continuarmos vivos na cobiçada Copa do Brasil!
Crer ou não crer, era a questão, quase a reeditar o épico shakespeareano. Todavia em face do aparente dilema, não houve qualquer hesitação: o povão Rubro-Negro - em seu permanente ofÃcio de fé - invadiu a Baixada numa união tão grande que era como se houvesse lá um só corpo, capaz de gritar com a força de vinte mil vozes, como se houvesse um só coração a pulsar com a potência de vinte mil almas Rubro-Negras, como se houvesse uma só cabeça e nela vinte mil pensamentos, todos convergindo para o mesmo desejo: a classificação do Atlético Paranaense.
Era Quinta-feira Santa, quando o milagre aconteceu diante daqueles que nunca perderam sua fé. No primeiro ato, uma saÃda de bola errada de Jackson, ex-Coritiba, fez com que o meia Evandro roubasse a redonda e ligasse o contra-ataque. Depois de tocada para Alex Mineiro, a bola chegou a Dênis Marques que marcou o tento inaugural.
No segundo ato, aos trinta e dois minutos do primeiro tempo, Evandro aproveitou o rebote e fez mais um para o Atlético, deixando a equipe mais próxima da vaga tão desejada, mas ainda faltava um golzinho. Seria só questão de tempo.
Aos vinte e três da etapa final, saiu o terceiro gol, o gol da classificação, o gol do milagre! Ainda não sei se o autor desse gol milagroso foi o Ferreira ou o Dênis Marques, mas sei que foi o tento que faltava para fazer explodir o povão Rubro-negro nas arquibancadas da bela Arena atleticana. Estava materializado o milagre e nada mais afastaria o Atlético Paranaense de sua sonhada classificação.
Era Quinta-feira Santa e era preciso vencer. Mais do que isso: era preciso vencer e de preferência por três a zero. Ainda mais: era preciso vencer por três a zero, um adversário que nos impusera uma goleada de quatro a um. Era preciso quase um milagre e ele aconteceu, porque nós acreditamos, porque nós lutamos, porque nós merecemos.
Agora, ao terminar este texto, percebi que já estamos na Sexta-feira, o momento mais marcante da Semana Santa, e que nos faz refletir sobre a Fé e sobre o milagre da Ressurreição. Ao terminar este texto, constatei, mais uma vez, a importância da Fé, a relevância do Amor e a necessidade de crermos - definitivamente - nos milagres da vida e de sobretudo crermos que a vida é em si o maior dos milagres.
Mas eu não percebi tudo isso sozinho: foi preciso que o Atlético e seus milhares de torcedores fanáticos me mostrassem - de uma vez por todas - que o milagre sempre é possÃvel, se a gente acreditar, se a gente lutar, se a gente merecer. E é pelo grande milagre acontecido (e merecido) que todos nós atleticanos hoje vivemos a Sexta-feira da Paixão!
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