Fernando Tupan

Fernando Tupan, 51 anos, é atleticano remido – por influência de um tio. Viu o Djalma Santos, Alfredo, Sicupira, Nilson Borges, Buião, Altevir, Toinho, Nivaldo, Washington e Assis subirem as escadas do antigo Joaquim Américo. Nas arquibancadas, fez parte do ETA, TIA e Atle A Morte. Jornalista político, não perde um jogo do Atlético (tanto faz ser o A ou o B, de chuva e de furacão). Foi colunista da Furacao.com em 2007.

 

 

Ser ou não ser, eis a questão

26/03/2007


Nesta segunda-feira, 26 de março, tenho poucos motivos para comemorar os 83 anos do Atlético Paranaense. Simplesmente porque o meu Atlético não é esse Atlético de hoje, desalmado, tecnocrata e cada vez mais voltado ao comércio de jogadores. A minha revolta tem justificativa: a forma de desligamento do meu ídolo e ícone Nilson Borges – ponteiro esquerdo do rubro-negro até meados da década de 70, auxiliar-técnico, ex-técnico e um dos culpados da minha idolatria pela equipe da Baixada.

Os escolhidos para dirigir o Atlético erraram feio ao não encontrarem uma solução política para o desligamento de Nilson. Poderiam ter organizado uma festa de despedida e anunciado a aposentadoria – com direito a uma placa na Arena, fotografia, entrevistas, refrigerantes, coxinhas e empadinhas para os convidados. Seria uma despedida digna pelo trabalho que ele desenvolveu nas últimas três décadas.

Mas aconteceu justamente o contrário. A notícia vazou pela imprensa, em um noticiário da Rádio CBN. Quando o fuzuê estourou, um colunista de plantão espalhou que Nilson iria se aposentar. Brincadeira tem hora. Fizeram tudo errado. Tudo.

A forma de afastamento de Antônio Carletto Sobrinho também foi outra bola fora. Me gerou desconforto. Ele tem história, tradição e um amor imenso pelo Atlético. Também merecia respeito e consideração. Sei bem o papel que ele desempenhava no clube. Mas como um bom atleticano ele deveria anunciar a saída e não ter recebido um cartão vermelho sem muito obrigado. A história de que ele estaria indo para o Coritiba é uma balela espalhada por um cronista que nunca escondeu a ligação com as classes dominantes do Atlético nas últimas décadas.

Mas se o Carletto realmente estiver seguindo esse caminho, posso começar a me preocupar com os coxas. O presidente Giovani Gionédis está levando para o Alto da Glória o grupo que participou da reestruturação do rubro-negro para consertar o departamento de futebol. Será o segundo profissional a contribuir para que os coritibanos tenham no futuro a mesma estrutura grandiosa do Atlético. O Odivonsir Frega está lá.

No domingo, quando entrei no Joaquim Américo, e recebi o Dossiê Dagoberto, editado pela Confraria Esquadrão da Torcida Atleticana – da qual não faço parte – percebi que existe uma contradição entre o que pregam torcedores históricos – como o Doático Santos – e a atual diretoria do Atlético, representada na encarnação de Mário Celso Petraglia – que também é um atleticano de carteirinha.

A Confraria prega a história e o amor pelo clube. Também defendo e apóio essa tese em contrariedade de colocações políticas de pessoas como o senhor Marcos Teixeira para comandar o Departamento – uma pessoa que nunca teve ligação afetiva com o clube, mas que vem convencendo os treinadores das seleções de base a chamar jogadores atleticanos.

Me questionei se Dagoberto está errado em pensar apenas nele e não no Atlético, quando a tecnocracia é dominante nos dias de hoje. Não vou fazer um julgamento quando se vê a partir dos mandatários que a paixão já não está em primeiro plano.

Os atuais diretores parecem navegar contra a correnteza. Me questiono se não seria esse o motivo que fez com que muitos atleticanos – que iniciaram, na retaguarda atleticana, uma oposição ao ex-presidente da Assembléia Legislativa Aníbal Khury, que fez uso do Atlético para voltar à política na metade da década de 70 – se afastassem do cotidiano do rubro-negro. Alguns deles ainda encontro nas arquibancadas. Mas a maioria, não.

O Atlético como instituição está em crise no aniversário de 83 anos e dividida pela perpetuação de Mário Celso Petraglia como principal dirigente, mesmo não sendo ele o presidente de direito (de fato ele é). O conceito de direção precisa ser revisto pelos atleticanos para que a "pisadas no tomate" não volte a ocorrer.

Petraglia precisa parar para refletir e reavaliar posições tomadas nas últimas semanas. A principal delas é a falta de memória histórica. Sem falar no fechamento do clube para jornalistas, a falta de participação dos torcedores no processo decisório, assuntos que ele precisa voltar atrás. O Atlético não tem nada para esconder. Só para mostrar. Paixão não se esconde. Ou será que existe algo maligno correndo nos bastidores do meu clube de coração?


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